Autor: Ben Oliveira
Todo escritor sonha em ver o seu livro ganhando vida. Apesar de muitas pessoas escreverem bem, não são todos que têm a oportunidade de verem suas histórias sendo avaliadas e publicadas, principalmente quando aborda a temática gay. Para esses autores, a oportunidade surgiu com a
Editora Escândalo. Conheça um pouco sobre os escritores Alexandre Willer Melo, Giselle Jacques, Luciano Cilindro de Souza e Roberto Muniz Dias.
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Roberto Muniz Dias no lançamento do livro Errrorragia. Foto: Kelma Gallas / FSA |
No final de 2013,
Roberto Muniz Dias deixou o cargo de editor da Escândalo. Questionado sobre como foi este contato com a literatura gay, ele disse que teve a oportunidade de ler tantos textos bons e de qualidade. “Somos registros na história do mercado editorial brasileiro. Terminei meu mestrado e falei da importância das Editoras LGBTTT. E isto me deixa muito orgulho e feliz. A Editora Escândalo faz parte do meu currículo de vida. Há muita gente talentosa que precisa ser publicada”, afirma.
“Escrevo outros temas, mas acho que fez parte do meu processo de aceitação, de assumir mesmo afinal, o mais fácil é escrever sobre algo que lhe seja afeto, que seja do seu dia a dia e talvez do de outros. De certa forma, não acho que meus contos, apesar de tratarem de temas gays, restrinjam-se ao mundo gay, acho que são situações que qualquer pessoa que ame, tenha amado ou vá amar um dia tenha para contar, o drama humano não possui gênero”, justifica
Alexandre Willer Melo.
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Luciano (vermelho) durante a festa literária Escandaliza, promovida pela editora para lançar os livros Maré Vazante e Loveless. Foto: Rafael Chapani. |
O primeiro contato com a editora para os escritores foi fundamental para verem suas histórias publicadas.
Luciano Cilindro de Souza contou que enviou o primeiro capítulo de A Sesmaria Esquecida para ser avaliado, no segundo semestre de 2011 e que se a editora gostasse, mandaria os outros. “Graças a Deus ela aceitou todos”, diz. “
A Sesmaria Esquecida é um romance de ficção histórica, que ocorre na primeira metade do século XVII. Conta a trajetória de um amor homoafetivo improvável, mas possibilitado pelo furor daquela época das grandes navegações”, explica.
Depois de publicar seu primeiro livro de forma independente, o escritor Alexandre Melo procurou a editora há dois anos, quando ele enviou o seu original. “Foi na trave porque, se não me engano, enviei num dia e poucos dias depois eles cessaram a recepção de material, quase não entro, mas foi um prazer quando recebi o 'sim' deles. Ver que seu material é reconhecido não tem preço!”, compartilha a alegria.
“A sensação foi serena, foi tranquila, mas intensa. Quando pus o livro nas mãos pela primeira vez, tive essa e outras sensações inesperadas, desconhecidas, indecifráveis. Diria que um contentamento por ter tido a certeza de que mereci ver o livro publicado depois de tantas dúvidas e obstáculos”, comenta Luciano. “Chorei, sério mesmo! Ver algo que você pariu, batalhou, suou, vir ao mundo e ser reconhecido, nada paga isso! Nada mesmo, nem mesmo grana. Se você escreve, acredite em mim: não desista, nunca! Seja teimoso e persistente porque o resultado vale tudo na vida!”, recomenda Alexandre.
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Escritores encontraram na Escândalo uma forma de verem suas histórias publicadas sem preconceito com a temática LGBT. Foto: Rafael Chapani. |
Além de publicar romances e livros de contos, Roberto Muniz Dias transformou em livro sua pesquisa – O príncipe, o mocinho ou o herói podem ser gays – importante para ajudar os professores de ensino médio e acadêmicos a lidarem com a questão da diversidade sexual em sala de aula. “Por que mocinhos e heróis são sempre heterossexuais? Parti da pesquisa de dois livros infantis que tematizam a homossexualidade em literatura infantil. Analisei o discurso embutido nas narrativas infantis que apregoam valores sexistas, misóginos e preconceituosos. A educação deve, obrigatoriamente pelos PCNS, tratar de assuntos sobre diversidade sexual, portanto resolvi tematizar este assunto que é ignorado na prática escolar”, contribui.
Inspiração
Alexandre Willer Melo: “Não tenho um processo criativo por assim dizer. Não costumo planejar ou pesquisar, as ideias podem aparecer do nada ou de algo que vi na rua, no metrô, na TV. Quando começo a escrever não tenho claro como a coisa vai se desenrolar, meio que flui naturalmente e vou dando rumo conforme vai se desenrolando, é meio como estar possuído, meio fora de si, às vezes só entendo o que escrevi depois de reler.”
Roberto Muniz Dias: “
Adeus a Aleto veio primeiro, o primeiro romance que foi premiado num concurso literário. Isto impulsionou e me direcionou para esta atividade. Então, veio
Um buquê improvisado, segundo romance que tematiza a alienação parental e filosofa sobre a memória afetiva de uma pessoa homossexual que perdera sua memória. Estes livros parecem dialogar e por isso vem aí um novo livro para fechar uma trilogia, que alcunhei de Uma epistemologia do ser gay. Projeto novo que está me demandando tempo.
Errorragia foi uma coletânea de contos que fui juntando e que redundou num mix de sensações e aflições do ser, sem necessariamente tematizar a homoafetividade. É uma leitura de minhas inseguranças como ser humano e como homem adulto”.
Giselle Jacques: “Meu romance de estreia na Escândalo não foi meu primeiro trabalho literário, nem a primeira vez que fui publicada. Há alguns originais engavetados há anos e alguns contos espalhados por coletâneas por aí. Escrevi
A Casa da Montanha num impulso, como uma catarse. O tema me interessava e o livro “precisava” ser escrito”.
Luciano Cilindro de Souza: “Todo interesse deve se tornar, antes, anseio. Um anseio tem uma parte obscura, que a gente não sabe de onde vem. Ele tem uma cauda perturbadora, que é engolida pela cabeça do que temos objetivamente como a concretização de um sonho, ou a apreciação alheia de algo muito nobre que abunda e é desperdiçado em nós. Quem lê livros, acrescenta alças na linha reta da vida, verticalidade num horizonte plano, uma dimensão a mais nas formas. Como não se interessar por literatura? Impossível! É mais que um interesse. Eu não poderia deixar de estrear na literatura com livros voltados para essa temática, pois vivo-a na pele. É o pertinente, é o rio que corre pro mar”.
Novos Projetos
Luciano: “Eu pretendo lançar outros romances, mais antigos até que a Sesmaria e que permanecem engavetados. Possivelmente farei uma compilação de minhas poesias numa futura obra - só de poesias. Eu acho que escrever contos é mais difícil do que escrever um romance. E escrever poesias é ainda mais difícil que escrever contos. Um romance exige muita pesquisa, imaginação. Contos exigem muita habilidade com a intuição. Poesias são o extrato puro dos sentimentos”.
Giselle: “Ultimamente, tenho me dedicado mais à ficção fora do núcleo LGBT, ficção fantástica e outras vertentes. Mas tenho um livro de contos engavetado e pedindo pra sair, e algumas coisinhas para o público da Escândalo guardadas na manga”.
Alexandre: “Tenho planos de lançar mais um livro em 2014, de contos novamente porque acho que eles se resolvem por si, são instantâneos que posso manipular como desejar. Fora isso, há sim uma ideia de romance, mas é tão embrionária que nem posso chamar de filho ainda e alguns outros projetos que não vou dizer porque senão, perde a graça né? Aguardem”.
Roberto: “Deus, como quero ver Adeus a Aleto ser filmado; Errorragia ser teatralizado e terminar o novo livro. Continuar na literatura, agora exclusivamente, sendo escritor que é o que me move e me livra da morte”.
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