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Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em pri...

Resenha: Os Céus de Van Gogh – Thiago da Silva Prada

Os Céus de Van Gogh é o título do livro de poesias do escritor Thiago da Silva Prada, de 94 páginas, publicado em 2014, pela Caligo Editora. A obra é um belo convite ao leitor desacelerar um pouco e enxergar através dos olhos do poeta.

Resenhar um livro de poesia é um desafio para mim, pois estou habituado a ler mais prosa (romances e coletâneas de contos). Logo no início de Os Céus de Van Gogh, o leitor é presenteado com um belo prefácio escrito por Fábio Shiva, no qual ele ressalta a importância da poesia para a vida humana, além de descrever um pouco do trabalho do poeta.

“O poeta é aquele que enxerga o óbvio, em seu esforço heroico de olhar o mundo como se sempre o estivesse vendo pela primeira vez. E a obviedade maior é que o óbvio só pode ser expresso no mundo dos homens sob a linguagem sutil da Poesia”.

Após o texto que nos anima a iniciar a leitura, também somos brindados pela apresentação escrita pelo Thiago da Silva Prada, na qual ele fala sobre sua visão sobre as coisas, como o céu que nunca é o mesmo e suas sensações ao observar as obras pintadas por Vincent van Gogh e suas experimentações estéticas para conceber o mundo percebido e sentido por ele.

Ao longo das 94 páginas do livro, o leitor pode se deliciar com as 64 poesias. Os textos abordam questões universais, como os sonhos, a vida, o amor, a morte, o tempo, a solidão e a tristeza, nos quais através da leitura em voz alta e das diferentes estruturas, viaja-se pelas palavras e navega-se pelos olhos do poeta.

Escritas entre os anos de 2004 e 2010, ao decorrer das páginas é possível sentir o aprofundamento das poesias e reflexões, além de suas referências culturais e suas visões do mundo. Impossível ler “As rosas da rainha”, por exemplo, e não se lembrar da Rainha de Copas, personagem de Alice no País das Maravilhas. E como é gostoso colocar os óculos do poeta e imaginar o que foi escrito. Para sentir na pele e na alma os textos intitulados Insomnia, basta ler o livro durante a madrugada, como eu fiz, e se deixar levar pelas metáforas. Em Amor no Escuro o leitor vivencia a diferença entre o ver e o enxergar deste sentimento que nem sempre é recíproco.

Para quem, como eu, lê pouca poesia – o que, aliás, não recomendo! –, Os Céus de Van Gogh encantam pelas pulsões de vida entre as palavras, suas metáforas e maneiras de nos fazermos reviver experiências do poeta que se misturam às nossas próprias lembranças.

Aliás, o livro traz uma poesia homônima do título que é uma viagem, na qual nos vemos encarando o mesmo que o autor, o quadro, suas árvores retorcidas e o céu, as linhas tortas, redescobertas e a dinâmica da arte, como representação de que “A Poesia está viva”, como lembra Fábio Shiva – ilustração de Marcelo Pietragalla que é possível enxergar na capa, poeta que escreveu junto com o autor alguns dos textos.

Os Céus de Van Gogh é o tipo de leitura que é tão gostosa de ler que você vai devorando e nem se dá conta de que o tempo está pensando. A capacidade de síntese do poeta me deixou maravilhado pelo poder que algumas palavras têm de despertar sentimentos e memórias, através dos diferentes ritmos e quebras. Mais do que o amor à vida, ao longo das linhas é possível sentir a afeição do autor pela escrita, como em Parto Poético, na qual a Poesia é parida, literalmente.

Para quem ficou curioso. No site da Editora Caligo é possível ler alguns trechos do livro

Poeta Thiago da Silva Prada. Foto: Marcelo Pietragralla.
Sobre o autor – Thiago da Silva Prada, nascido em 1985, na cidade que intitula “devoradora de Homens”, busca a eternidade nas palavras. Um bicho de sete cabeças, quimera de livros, filmes, pensamentos, filosofias, poesias que se entrelaçam. Tem uma queda pelo Romantismo, se debate com os monstros da Razão, mas cumprimenta os que estão debaixo da cama. Está no Mestrado em Ciências Sociais na PUC-SP, formado em Psicologia, apaixonado por Filosofia, apreciador de Literatura e Cinema, jogador de xadrez nas horas vagas, poeta por necessidade existencial e leitor por ofício de vida. Os Céus de Van Gogh é seu livro de poesias de estreia.

Contato com o autor: entredeusesevermes@gmail.com

Os Céus de Van Gogh pode ser comprado na loja virtual da Caligo Editora!  

O livro também está presente no Skoob.

Conheça também: Da Noite Sem Fim – Thiago da Silva Prada

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