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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Resenha: O Sincronicídio – Fabio Shiva

Acabei de ler O Sincronicídio, do escritor Fabio Shiva. Me arrepiei na última página, só mais uma das doses de catarse que o leitor recebe ao longo do livro. A obra de 520 páginas foi publicada em 2013, pela Caligo Editora, de Campo Grande (MS). Com uma capa vermelha e preta e a imagem de uma peça de xadrez que por si só já são instigantes, a frase “Sexo, Morte e Revelações Transcendentais” são mais um convite para o leitor mergulhar no livro e ter noção do que vem pela frente.

Desde o primeiro parágrafo do livro, o leitor já tem uma informação fundamental, o protagonista, o inspetor Alberto Teixeira irá morrer. “Ele dormia inteiramente nu, sem saber que era o seu último sono. Observando só o semblante adormecido, não seria fácil adivinhar a profissão de policial...”, só neste trecho inicial fui fisgado pelo autor e movido pela curiosidade: Quem é o policial? Por que ele vai morrer? Como ele vai morrer? Quando ele vai morrer?.  Antes que o leitor da resenha se estresse, tenha calma, não é nenhum spoiler, a informação também é dada em sua sinopse e no texto da contracapa. Além das palavras iniciais, o primeiro capítulo de O Sincronicídio traz o número 51, “Trovão”, um trecho do I Ching, O Livro das Mutações, e a ilustração de um movimento das peças de Xadrez. Não se assuste se não entender, não é mera coincidência. Afinal, qual é a graça de descobrir tudo logo na primeira página?

Ainda na contracapa do livro, o leitor descobre que o livro se trata sobre uma série de assassinatos que acontecem na cidade de Rio Santo, localizada no Brasil. O protagonista, Alberto Teixeira é o herói, o único policial que poderá desvendar o mistério do Sincronicídio, e por isto ele está marcado para morrer. Para quem gosta dos livros da Agatha Christie, Edgar Allan Poe, Isaac Asimov, entre tantos outros autores, a obra do brasileiro Fabio Shiva além de trazer inúmeras referências literárias, impressiona com sua criatividade.

Definir O Sincronicídio não é tarefa fácil. Ao longo das páginas do romance policial o leitor encontra suspense, erotismo e filosofia.  Fabio Shiva dá um show no livro, mostrando como a boa literatura pode aliar o prazer sem ser superficial e sem se tornar maçante. A densidade da obra fez com que eu lutasse com dois sentimentos dentro de mim: a vontade de descobrir logo o que aconteceria e o alívio de saber que ainda faltavam muitas páginas para a revelação final. O escritor consegue, literalmente, introduzir o leitor no universo de O Sincronicídio e envolvê-lo com as cenas de ação, sexo, conflitos dramáticos, questões filosóficas, entretendo e promovendo a reflexão, em uma tentativa de fazê-lo encontrar uma lógica, do início ao fim do livro, surpreendendo a cada minuto de leitura. Me peguei pensando na história até mesmo no momento em que ia dormir. Minha mente hesitava em parar de funcionar, desesperada por qualquer pista, qualquer conexão.

Através da intertextualidade e da metalinguagem, o leitor, principalmente se for um amante da literatura, fica fissurado com a maneira que Fabio Shiva escreveu O Sincronicídio. Logo no primeiro capítulo do livro, o narrador já alerta que ele é o observador onisciente, ou seja, é ele quem está contando a história e ainda informa que é o antagonista, o vilão, a força igual e contrária à do protagonista. Narrativa dentro de narrativa, o leitor viaja e desvenda gradativamente alguns dos mistérios, para descobrir qual é a relação entre os assassinatos, o protagonista e o antagonista-narrador.

O Sincronicídio é uma boa aula de escrita literária para autores iniciantes. Fabio Shiva utiliza tantos recursos literários de maneira tão natural, que o leitor nem se dá conta dos artifícios e a leitura flui deliciosamente. Durante as 24 horas de vida do protagonista, o leitor viaja pelo tempo, descobrindo mais sobre os personagens principais, suas motivações, dramas e problemas. Quando o leitor menos espera, as frases, títulos e ilustrações ao longo do livro passam a fazer sentido, as sombras da ignorância dão lugar à luz do conhecimento. E a fome do conhecimento, assim como a fome de livros, é inesgotável e só aumenta com o desenvolvimento.

Além das inúmeras possibilidades de interpretação de O Sincronicídio, o livro de Fabio Shiva vem a contribuir para chamar a atenção para a literatura nacional e a necessidade de valorizarmos mais os autores brasileiros, já que podemos encontrar obras de tanta qualidade literária quanto às de literatura internacional que ainda são vistas como prioridades tanto para as editoras quanto para as livrarias e muitos leitores. Tiro o meu chapéu para a Caligo Editora que decidiu apostar em O Sincronicídio para ser o seu primeiro romance publicado. Uma estreia maravilhosa! Também não posso deixar de agradecer a editora Bia Machado pela cortesia enviada de O Sincronicídio e pela oportunidade de parceria da Caligo Editora com o Blog do Ben Oliveira – lembrando que os blogs parceiros não são obrigados a resenhar de forma positiva os livros e este texto reflete a minha opinião.

É difícil falar sobre um livro que você gostou sem contar informações que podem estragar a surpresa do leitor. Sabe quando sabemos um segredo e estamos tão inebriados que precisamos compartilhar com alguém ou vamos explodir? Pois é, fiz o possível para não fazer nenhum spoiler nesta resenha. Ficção científica, fantasia, romance policial, suspense, erotismo, filosofia, I Ching, Xadrez, misticismo, religião, ideologia, luxúria, prazer, sexo, tudo isso e muito mais em O Sincronicídio. Espero que gostem!

Para quem já leu o livro e ficou com vontade de mais, Fabio Shiva avisa nos agradecimentos que O Sincronicídio foi concebido como o primeiro volume de uma trilogia e a segunda parte deve se chamar A Mais Tocada de Todos os Tempos. Mal posso esperar pelo segundo livro.

Sobre o autor – Fabio Shiva (leia a entrevista com o escritornasceu em Salvador, Bahia. Desde a adolescência entrou em contato com a escrita de contos e poemas. Já trabalhou como ghost-writer em livros de astrologia, revisor, além de ter exercido diversas profissões. É co-autor do livro de literatura / filosofia MANIFESTO – Mensageiros do Vento. Publicou o romance policial O Sincronicídio: Sexo, Morte e Revelações Transcendentais, em 2013, pela Caligo Editora.

Sobre a editora – A Caligo Editora foi criada em 2013, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Atualmente o catálogo da editora conta com o romance “O Sincronicídio” (Fabio Shiva) e a antologia de contos fantásticos “!” (Organizado por Rubem Cabral e participação de vários autores). Até Agosto de 2014 serão lançados o livro RedRum: Contos de Crime e Morte, A Forma da Sombra e uma obra da escritora Bia Machado.

*Confira: Book Trailer de O Sincronicídio




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