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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Truques da Escrita – Howard S. Becker

Escrever, muitas vezes, provoca ansiedade em algumas pessoas, deixando-as paralisadas e sem ideia do que fazer a seguir. Discutindo o assunto e compartilhando sua própria experiência, o sociólogo norte-americano e professor Howard S. Becker escreveu o livro Truques da Escrita: Para começar e terminar teses, livros e artigos (Writing for Social Scientists: How to Start and Finish Your Thesis, Book, or Article), de 256 páginas, que chegou ao Brasil em 2015, com tradução de Denise Bottmann, pela Editora Zahar.


O livro está dividido em 10 capítulos, cujos títulos vou compartilhar aqui para quem tiver curiosidade sobre os assuntos abordados: “Introdução à redação” para estudantes de pós-graduação; Persona e autoridade; A Única Maneira Certa; Editando de ouvido; Aprendendo a escrever como profissional; Riscos, por Pamela Richards; Soltando o texto; Apavorado com a bibliografia; Usando o computador para escrever; Uma palavra final.

Como é possível notar nos títulos dos capítulos, a obra é voltada para o público acadêmico, mas nada impede que o leitor encontre conselhos que possam ser usados para a escrita em geral. Howard S. Becker comenta que as suas dicas deixadas no livro só podem ajudar o leitor, quando a pessoa começa a praticar e adequar conforme suas necessidades, lembrando que na maioria dos casos esses bloqueios estão relacionados à pressão e ansiedade, seja da autocrítica (e a sensação de se sentir uma fraude, que muitos escritores de ficção conhecem muito bem), das hierarquias ou dos rituais que criamos antes começar a escrever.

“A leitura deste livro não resolverá todos os seus problemas de redação. Dificilmente resolverá algum deles. Nenhum livro, nenhum autor, nenhum especialista – ninguém pode resolver seus problemas. Os problemas são seus. Você é que tem de se livrar deles... Mas, das coisas que eu disse, você pode extrair algumas ideias de como resolvê-los ou, pelo menos, começar a trabalhar neles” – Howard S. Becker

O título original do livro deixa bem claro esse direcionamento para a área das ciências sociais, no entanto a tradução do título para a edição brasileira deixou-o mais genérico. A dificuldade de escrever textos acadêmicos pode surgir desde a graduação ou até mesmo para quem escreve literatura – embora não seja o foco do livro, dá sempre para refletir sobre o próprio processo de criação e analisar como os rituais moldam nossas produções. O que Howard Becker pontua muito bem em seu livro é a pressão maior para quem se envolve com pesquisas desde o início e para pós-graduandos, levando em conta o interesse de muitos conseguirem empregos na área, continuarem crescendo dentro da academia, conquistarem mais publicações e projetos.

Uma das principais armadilhas do escritor é a de pensar em começar somente quando tiver uma ideia do projeto inteiro. Howard tenta desmistificar isso e explicar que isso gera mais ansiedade. Durante os anos dando aula, o sociólogo recomendou que seus alunos passassem a usar anotações e trabalhassem gradualmente o assunto. Como eu disse, o livro é voltado para a área acadêmica, mas o próprio escritor de ficção ou não ficção pode usar esse conselho ao seu favor. Ao querer tudo pronto de uma vez, os autores acabam criando bloqueios e deixando sempre para depois, caindo na tentação de ficar muito preso à pesquisa e esquecer de que o texto só vai sair quando começar a ser escrito.

“A forma final de qualquer obra resulta de todas as escolhas feitas por todas as pessoas envolvidas em sua produção. Quando escrevemos, fazemos escolhas constantes como, por exemplo, qual ideia tomaremos, e quando; que palavras usaremos para expressá-la, e em que ordem; quais exemplos daremos para deixar o significado mais claro” – Howard S. Becker

Outro conselho útil dado por Howard e muito utilizado nos cursos de escrita criativa é a escrita livre. Durante a escrita livre, o escritor tira um tempo para colocar o que vier à mente no papel, escrevendo sem pensar muito e também tentando escrever sobre as coisas que estão o incomodando e atrapalhando sua escrita. Muitas vezes, essa técnica acaba ajudando a desbloquear, seja como um aquecimento da escrita ou como uma maneira de entender melhor o próprio processo de redação.

Apesar de ser um livro voltado para sociólogos, Howard não se limita aos exemplos dentro da universidade, fazendo algumas relações com a literatura e arte em geral. Ao compartilhar sua própria experiência e dificuldades que teve para melhorar seus textos e obter reconhecimento dentro da universidade e com publicações científicas, o autor quebra o gelo com os leitores, criando mais empatia e mostrando que essas dificuldades da escrita são mais comuns do que imaginamos.

“Os escritores acadêmicos têm de organizar seu material e expor um argumento com clareza suficiente para que os leitores possam acompanhar o raciocínio e aceitar as conclusões. Dificultam a tarefa mais do que o necessário quando pensam que existe uma Única Maneira Certa de fazer, quando pensam que cada artigo que escrevem tem uma estrutura predeterminada que precisam encontrar” Howard S. Becker

Howard mistura as questões psicológicas e sociais por trás do pânico que muitas pessoas sentem ao escrever, junto com algumas técnicas de escrita. Um dos aspectos levantados pelo autor, por exemplo, é o da linguagem: muitos autores de artigos científicos, teses e livros tentam escrever difícil para impressionar ou conforme o vocabulário de seus ‘iguais’ e esquecem de adequar o texto à persona (público-alvo). Ao tentar desmitificar o assunto, o sociólogo explica a necessidade de processos como o planejamento e a organização das ideias, a reescrita e a revisão, entre outras etapas essenciais para a produção textual e posterior publicação, que muitas pessoas esquecem e/ou acabam se julgando demais antes mesmo de tentar, imaginando que o texto nasça pronto e só precise ser transposto.

A escrita e a publicação de textos estão ligadas ao julgamento. Quanto mais nos apegamos às opiniões e às dificuldades, mais travados ficaremos. Howard mostra como o computador tornou mais fácil algumas coisas, mas outras permanecem, já que estão intimamente ligadas aos círculos sociais. Grande parte de nossos pesadelos para iniciar e terminar um texto, independente de ser uma tese, um livro ou um artigo, vem daquilo que estamos condicionados. O isolamento e conflitos, a competitividade, a insegurança, os favoritismos editoriais e as hierarquias só tendem a criar mais obstáculos.

No final das contas, só existem truques da escrita e só o trabalho feito poderá ajudar o escritor acadêmico. Eventualmente, cada um aprende a criar seus próprios processos para alcançar seus objetivos, lembrando que não existe perfeição na escrita ou uma única maneira certa e todos estamos sujeitos à falha e às críticas.

Sobre o autor – Howard S. Becker, sociólogo americano, vive e trabalha em São Francisco, Califórnia. Escreveu inúmeras obras, entre as quais Uma Teoria da Ação Coletiva; Outsiders: estudos da sociologia do desvio; Falando da Sociedade e Segredos e Truques da Pesquisa – todos publicados pela editora Zahar.

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Comentários

  1. Otimo artigo, estou fazendo um fichamento para a faculdade deste livro mais n sabia como fichar-lo, se n for pedir demais, vc teria ele em pdf com a marcação das pag?

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    Respostas
    1. Oi, Son-Kun!
      Não tenho o livro em PDF =/
      Às vezes, compensa você dar um pulinho em uma livraria (ou até mesmo biblioteca), para ver se encontra o livro. É rapidinho de ler!
      Abraços e obrigado pela visita

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  2. Excelente! Estou para escrever uma resenha sobre ele também. Achei uma no Scielo, mas a sua é totalmente superior. Parabéns!

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