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CPI da Pandemia: Crise do Oxigênio em Manaus, corrupção, omissões e apostas anticientíficas
A crise da falta de oxigênio em Manaus (AM) foi destaque desta terça-feira, 15 de junho de 2021, na CPI da Pandemia. O depoente convocado da vez foi o ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo.
Por ser um assunto que provoca tanta indignação quanto o dos tratamentos sem comprovação científica contra Covid-19 e do atraso da vacinação, os desconfortos de muitos senadores ficaram visíveis, principalmente quando para tentar se proteger, Campêlo insistiu em ocultar fatos que já eram de conhecimento público, como quantos dias faltaram oxigênio em Manaus e sobre a não aquisição de usinas de oxigênio para prevenir acontecimentos semelhantes no futuro.
Enquanto a preocupação da população era com a falta de oxigênio em Manaus, há alguns dias antes da tragédia sanitária acontecer, na internet políticos aliados do Governo Bolsonaro fizeram demonstrações públicas contra o lockdown e restrições sociais. O senador Randolfe Rodrigues perguntou se nas visitas ao Estado chegaram a discutir a questão da falta de oxigênio, mas pelas respostas, percebe-se deram prioridade para o kit de tratamento precoce (sem comprovação científica) e lançamento da plataforma TrateCov (que induzia incorretamente ao tratamento com cloroquina).
“O primeiro ato era fazer bloqueio sanitário”, disse o senador Otto Alencar, que também é médico. “Você só falou sobre o tratamento, não falou sobre prevenção porque é incompetente para o cargo”. Alencar criticou a falta de conhecimento científico de Campêlo para conter o vírus e não escondeu sua indignação sobre ele ter aceitado um cargo que colocou em risco inúmeras vidas humanas. Segundo informações da TV Senado, Marcellus Campêlo foi secretário de Saúde do Amazonas de 31 de agosto de 2020 até 08 de junho de 2021.
“A mesma responsabilidade cometeu o Presidente da República [Jair Bolsonaro]”, argumentou o senador Otto Alencar sobre a falta de conhecimento sobre o SUS do ex-Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O senador comentou que faltaram inúmeras coisas, como leitos de hospitais, equipamentos de proteção individual, oxigênio, só não faltaram vergonha ao Campêlo e ao Pazuello por aceitarem um cargo em uma área de saúde para a qual não tinham preparo – lembrando que ambos foram admitidos em plena pandemia.
Senador Rogério Carvalho disse que muitas vezes a pessoa acha que manter o cargo é uma vida, mas acaba colocando em risco as vidas de milhares de pessoas. A crítica de Rogério foi direcionada a Campêlo não ter renunciado antes. “Ele [Jair Bolsonaro] deve ser indiciado por crime contra a humanidade, por crime contra o povo”, afirmou senador Rogério Carvalho, lembrando que o que aconteceu no Amazonas foi uma catástrofe sanitária e a adoção de medidas ineficazes e sem comprovação científica, como o tratamento precoce com a adoção da cloroquina, que só piorou a situação.
Criou-se uma falsa narrativa de que alguns senadores estariam interessados somente em encontrar a responsabilização do Governo Federal nas omissões da pandemia. Porém, com autonomia estadual para criar medidas restritivas e o desinteresse por parte do Governo, demais questões também foram, são e serão investigadas. Senadores governistas questionaram a compra de aparelhos respiradores inadequados, mas Campêlo disse que o acordo foi fechado antes de sua entrada na secretaria de saúde. O senador Fernando Bezerra, por exemplo, criticou a quebra de sigilo dos investigados e também tentou verificar se batiam as informações sobre contatos com o Ministério da Saúde e Campêlo sobre a falta de oxigênio.
Rememorando um episódio envolvendo o ex-secretário de Saúde do Amazonas, no qual ele disse em janeiro de 2021 que a população amazonense optou pela contaminação por causa das aglomerações nas confraternizações e festas clandestinas, o senador Alessandro Vieira perguntou para Marcellus Campêlo quem havia revogado o decreto de medidas restritivas se tinha sido a população ou o Governo. Sem esconder o ressentimento que o assunto traz à tona, ele também questionou se quem roubava e tinha sido preso foram membros do governo ou a população.
Marcellus Campêlo tentou insistir na narrativa nada verdadeira de que o Governo havia defendido medidas não farmacológicas, como o distanciamento social e orientar a população. “O Ministério da Saúde não foi para Manaus defender medidas não farmacológicas […] Fosse isso verdade, seguramente o caos de Manaus não teria acontecido. Os vídeos, os textos, a propaganda do governo mostra que a equipe do Ministério da Saúde foi até lá para defender tratamento medicamentoso precoce, lançar um aplicativo de diagnóstico automático…”, criticou o senador Alessandro Vieira.
Como o Governador do Amazonas conseguiu habeas corpus e optou por não ir à CPI da Pandemia, a senadora Soraya Thronicke lamentou a decisão, dizendo que a culpa poderia recair toda nos secretários de saúde e perguntou para Marcellus Campêlo se ele 'toma um floralzinho', citando a tranquilidade (ou frieza) dele para falar sobre um assunto que causou tanta angústia na população, como a crise da pandemia em Manaus.
O senador Fabiano Contarato perguntou para Marcellus Campêlo se a revogação do decreto de lockdown aconteceu por critérios técnicos. O ex-secretário de saúde do Amazonas respondeu que foi por pressão social, que ficaram com receio das manifestações, tendo recebido orientações até da Segurança Pública.
Lamentando a falta de colaboração do depoente, o senador Omar Aziz lembrou que no interior do Amazonas tem uma situação diferente da capital Manaus e o número de casos e de óbitos não foi por causa de tratamento precoce do kit covid, foi pelo isolamento. Essa narrativa sobre as diferenças de infecções e mortes tem sido empurrada goela abaixo por pessoas que defendem tratamentos sem comprovação científica, levantando estatísticas que distorcem a realidade pela falta de contextualização das particularidades geográficas e densidade populacional.
O senador Omar Aziz disse que o depoente deveria responder de cabeça erguida e que as investigações vão apurar as informações, lembrando que ele mesmo pode ser questionado por um dos hospitais citados, Hospital Delphina Aziz, construído em Manaus por ele. O nome do hospital é homenagem à mãe dele. Delphina morreu aos 83 anos, em julho de 2018.
Uma das últimas a falar, a senadora Leila Barros comentou sobre a crise de Manaus: “Faltou planejamento em todas esferas [...] Sobrou incompetência, negacionismo e corrupção”. Ela também mencionou como outros senadores que Campêlo foi evasivo na hora de responder as perguntas e lembrou aos presentes que em breve deveriam surgir mais provas de corrupção e que a combinação desses três elementos matavam.
Nos minutos finais da sessão, o senador Jorge Kajuru perguntou para Marcellus Campêlo se ele mentiu. Ele respondeu que não. “Se eu fosse da Justiça do Amazonas, eu mandaria prender em definitivo o ex-secretário Marcellus e o governador [Wilson Lima]”, declarou Kajuru.
Sem formação na área de saúde, o engenheiro civil Marcellus Campêlo pediu exoneração do cargo na secretaria de saúde do Amazonas após ser preso na Operação Sangria, que investiga fraudes em licitações e desvios de verbas públicas que deveriam ser usadas no combate à pandemia do Covid-19. O ex-secretário foi preso pela Polícia Federal no dia 02 de junho de 2021 no Aeroporto de Manaus.
Além da Crise do Oxigênio em Manaus ser um ótimo exemplo de omissões estadual e federal, também revelou como aquela área de artistas e influenciadores digitais que costuma ser criticada frequentemente por Jair Bolsonaro e seus apoiadores foi responsável por ajudar a lidar com a emergência. Para quem não se lembra, Whindersson Nunes, Tatá Werneck, Bruno Gagliasso, Felipe Neto, Marcelo Adnet, Paola Carosella e Paulo Coelho são alguns dos nomes que ajudaram a levantar fundos e a encontrar cilindros de oxigênio para o Amazonas. Sempre denegrida pela família Bolsonaro, a própria Venezuela enviou oxigênio para Manaus.
Organizações não-governamentais de direitos humanos e pessoas interessadas em apoiar a causa também ajudaram a levantar dinheiro para comprar coisas que não estavam sendo fornecidas para os funcionários dos hospitais, como a crise da falta de equipamentos de proteção individuais, água e alimentos.
Conforme as investigações da CPI da Pandemia avançam, mais a população se torna consciente do que poderia ter sido feito e não foi, bem como sobre os possíveis crimes cometidos sejam por condutas de ação ou omissão.
Induzir a população ao erro, investir e incentivar o uso de remédios sem eficácia, ignorar a importância das medidas de restrições sociais no pico da pandemia, deixar pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio, entre outras tantas situações que foram cometidas desde o início da circulação do Covid-19 pelo Brasil, revelam a diferença que um Governo faz na hora de momentos de crises.
Se antes da pandemia, a aptidão de Bolsonaro para governar já era questionada, com a pandemia, ficou mais do que claro que ele não foi, não é nem será um bom presidente.
*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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