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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

CPI da Pandemia: Senadores representam os incômodos dos brasileiros diante das mentiras e omissões

Com mais de um mês de início, a CPI da Pandemia tem se diferenciado das outras e despertado mais atenção dos brasileiros, especialmente por se tratar da investigação sobre as ações e omissões do Governo Federal na gestão da pandemia. 

Os senadores e milhares de brasileiros que acompanham já desconfiavam, mas conforme os depoimentos desenrolam, mais fica claro que a Ciência foi deixada de lado: atrapalhar as recomendações para diminuir a circulação do vírus, recomendações de tratamentos sem comprovação científica e o atraso na aquisição das vacinas estão entre os erros.

Jair Bolsonaro errou e continua errando, mesmo após inúmeras ações serem criticadas na CPI da Covid – talvez apostando no público negacionista que votaria nele novamente, talvez por fazer parte de seu sistema de crenças. O mais irônico em seus comportamentos negacionistas é que toda vez que ele incentiva remédios sem comprovação científica contra o Covid-19, vai às ruas e gera aglomeração sem máscaras e/ou tenta desmoralizar a vacina, o público que ele coloca mais em risco não é o brasileiro que se informa, mas sua base eleitoral.

Enquanto a CPI da Pandemia acontecia, neste 09 de junho de 2021, Jair Bolsonaro participou de um culto religioso e, claro, só para não perder o costume, utilizou o espaço para espalhar inverdades, recomendando os tratamentos sem comprovação científica. O político também disse que as vacinas contra Covid-19 também são experimentais e que os números de casos de infectados e de mortes foram supernotificados.

Mesmo sem evidências, Bolsonaro disse que tinha um relatório do Tribunal de Contas da União que comprovava isso. A informação foi desmentida pelo TCU ontem e com a descoberta, o auditor chegou a ser afastado e será convocado para a CPI da Pandemia.

Acostumado a mentir desde a época das eleições, muitas pessoas faziam vista grossa para seus comportamentos, descritos por alguns como patológicos, para outros, como intencionais; de toda forma, é de conhecimento geral que discursos feitos por autoridades têm impacto na sociedade e podem afetar os esforços de convencimento de vacinação contra Covid-19, bem como de reforçar a importância do cuidado individual e coletivo em relação à pandemia.

Espalhar desinformação de saúde pode cobrar um preço bem alto. Por trás de uma estratégia política de pós-verdade, que se sustenta com base em mentiras e fake news, talvez haja um instinto narcisista de ver o seu nome sendo dito o tempo todo, ainda que de maneira negativa, e de saber que mesmo se não for reeleito, não será esquecido por toda tragédia que fez parte.

Para quem já tinha analisado outros políticos, como Donald Trump, o que ele faz, não é tão novo. Mas mesmo Trump, que chegou a ser banido das redes sociais por causar tanta anarquia e desinformação, pelo menos incentivou a compra das vacinas contra Covid-19 – algo que Bolsonaro tenta fazer só em discurso político, mas desmente frequentemente por meio de suas atitudes pseudocientíficas. 

Embora tente desviar o foco da CPI da Pandemia e de outros escândalos envolvendo seu Governo e apoiadores, nas redes sociais é perceptível a quantidade de pessoas sedentas por informações de qualidade sobre a Covid-19, cansadas de tantas fake news financiadas por apoiadores de tratamentos sem comprovação científica e irritadas com as omissões relacionadas às ofertas de vacinas.

Enquanto uma parte das pessoas tenta mostrar o lado político da CPI – não há dúvidas de que tudo é político e é impossível se manter neutro –, há aqueles que reconhecem que independente dos partidos, o interesse maior está na busca da verdade e da responsabilização dos que poderiam ter feito alguma coisa para reduzir os impactos da pandemia no Brasil desde o início, mas não fizeram.

Em uma tentativa de dar falsa esperança para os brasileiros, um dos envolvidos nos aconselhamentos do Governo chegava a dizer com intervalo de semanas que a pandemia logo chegaria ao fim, além de médicos apoiadores do Bolsonaro também faziam parte de um programa sobre tratamento precoce – criticado por inúmeras associações, entre elas: Organização Mundial de Saúde (OMS), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Uma das falas mais marcantes de hoje foi da senadora Simone Tebet. Para ela, o Governo ter apostado em Imunidade de Rebanho sem vacinação tem outro nome: “Isso é assassinato”. Representando a Bancada Feminina e Mato Grosso do Sul, ela contou que tomou a primeira dose da vacina Pfizer recentemente, mas citou o caso de uma mulher do Estado, entre tantas outras brasileiras, que não tiveram a mesma oportunidade e morreram.

A senadora Simone Tebet pediu para que os relatores perguntassem aos próximos especialistas que serão ouvidos na CPI da Pandemia quantas milhares de vidas de brasileiros poderiam ter sido salvas se a vacinação tivesse começado na época em que o Governo recebeu diferentes ofertas. Segundo o senador Randolfe Rodrigues, 81 e-mails da Pfizer foram ignorados – número que deixou evidente o desinteresse pela vacina.

Mas não foi só a Pfizer, o Governo também ignorou os contratos com a ‘Vacina Chinesa’ e as inúmeras declarações públicas de Bolsonaro e outros políticos aliados do Governo já foram responsáveis por atrasos no envio de insumos para a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan. Tentando se cercar de conservadores cujas falas públicas afetam suas funções técnicas, ocorreram tantos erros na condução da pandemia no Brasil, que aqueles que forem contar em livros, filmes e/ou documentários terão um trabalho hercúleo. 

O senador Alessandro Vieira disse para o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, que se ele teve uma missão na área de saúde, ele não conseguiu cumpri-la na questão da vacinação. Tentando não transparecer a irritação, o senador que sempre bate na tecla da ética, lembrou que morreriam menos pessoas no Brasil e que há algo em comum nas muitas pessoas que vão depor e que deveriam se atentar: “É importante que a fala seja compatível aos fatos”.

Na tentativa de se proteger e de proteger Bolsonaro, vários depoentes caem em contradições. Hoje, por exemplo, o senador Otto Alencar lembrou que o Brasil pode ter um número alto de doses totais, mas que o dado mais importante a se levar em conta é o de vacinados em relação à população, o que deixa o país atrás de dezenas de outros. Segundo informações da BBC News Brasil, até o momento desse texto, o país está em 72º no ranking de 190 nações e territórios.

Não é a primeira vez que o senador Otto Alencar vai direto ao ponto quando depoentes tentam florear. Além de ter pressionado a médica Nise Yamaguchi a explicar as origens do Coronavírus e se ela sabia a diferença entre vírus e protozoário, já que a Cloroquina não tem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19, ontem ficou evidente a sua decepção quando perguntou ao atual Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se ele havia lido as bulas das vacinas contra Covid-19 e a resposta foi que não.

Senadores são humanos e diante da temática que tocou milhões de brasileiros, é difícil não se deixar levar pelas emoções. Isso não necessariamente significa polarização política, como alguns apoiadores do presidente tentam pintar, mas mostra a empatia, a ética e a preocupação com o bem-estar coletivo – algo em falta na postura de Bolsonaro que minimizou os impactos da pandemia desde o início, continua aglomerando e chegou a fazer piadinhas com o assunto.

O teatro dos absurdos políticos foi bastante representado por Donald Trump. Se essas constantes tentativas de buscar holofote e ecoar discursos toscos para um fã-clube dá certo até determinado ponto, para a maioria da população só escancara o que era óbvio: a inaptidão para a Presidência da República.

Com mais de 100 pedidos de impeachment, Bolsonaro está percebendo na internet a rejeição crescente ao seu governo. Hoje mesmo, ele repetiu que as eleições de 2018 foram fraudadas, na esperança de repetir o mesmo discurso nas Eleições 2022 quando perder. Assim como Trump, Bolsonaro não só vai deixar um legado de péssima gestão, mas também de incapacidade de aceitar a derrota.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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