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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Eleições 2022: Democracia e a Importância de Aprender a Reconhecer Fake News

Falta mais de um ano para as Eleições 2022 no Brasil. Assim como nas Eleições 2018, um dos grandes problemas que os brasileiros devem enfrentar é o das fake news. 

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Diante da ineficiência das redes sociais na inibição desses conteúdos e das inúmeras formas de circulação da desinformação, seria importante focar no ensino de um pensamento crítico que ensine a população a reconhecer fontes duvidosas e a pensar duas vezes antes de ler e compartilhar com outras pessoas algo que pode ser manipulado com inúmeras intenções políticas, eleitorais, ideológicas e/ou financeiras.

Com a péssima gestão da pandemia, o governo Bolsonaro tem batido recorde de rejeição, algo que foi apontado por pesquisas como Datafolha, PoderData e Vox Populi e tem ficado cada vez mais claro nas redes sociais: milhares de brasileiros que votaram nele e se arrependeram, outros que não votavam, mas tinham receio de falar na internet e aqueles que nunca o apoiaram tem se manifestado por meio hasthtags, como Fora Bolsonaro, Ele Não e milhares de pessoas expressando o desejo de Impeachment de Bolsonaro.

Para entender um pouco do efeito das fake news, também é importante entender sobre Pós-Verdade. Os dois termos não são necessariamente sinônimos, já que a pós-verdade englobaria algo mais complexo com a intenção de servir a um propósito de manipulação por meio das crenças e as fake news podem ser seus instrumentos. 

Segundo o Dicionário Priberam, Pós-Verdade é: 


substância feminino ou masculino

1. Conjunto de circunstâncias ou contexto em que é atribuída grande importância, sobretudo social, política e jornalística, a notícias falsas ou a versões verossímeis dos factos, com apelo às emoções e às crenças pessoais, em detrimento de fatos apurados ou da verdade  objetiva (ex.: a mentira e os boatos alimentam a pós-verdade; o tema do momento é o pós-verdade nas redes sociais).


substantivo feminino

2. Informação que se divulga ou aceita como fato verdadeiro devido à forma como é apresentada e repetida, mas que não tem fundamento real (ex.: estas pós-verdades negam anos de evidências científicas). = FACTOIDE


adjetivo de dois gêneros e de dois números

3. Que atribui mais importância a notícias falsas ou não fundamentadas do que à verdade objetiva (ex.: era pós-verdade; política pós-verdade).

Creio que um dos principais desafios do combate desse ciclo de informações falsas promovido pela pós-verdade é que muitas discussões acabam ficando mais restritas à comunidade acadêmica e a linguagem nem sempre desperta o interesse do público em geral e, muitas vezes, até afasta quem poderia se beneficiar.

Como estamos em um período de pandemia, é bem difícil que Bolsonaro consiga reconquistar seus eleitores, até porque conforme avançam as investigações da CPI da Covid, mais informações apontam para omissão por parte do Governo na aquisição de vacinas, bem como críticas frequentes ao Lockdown e distanciamento social, inúmeras participações do Presidente Jair Bolsonaro em eventos com aglomeração e sem o uso da máscara e a ideia infeliz de recomendação de tratamentos sem comprovação científica contra Covid-19, como a Cloroquina – a qual além de não ser recomendada por agências de saúde para o tratamento de Coronavírus, também tem sido alvo de processos judiciais.

Vale pontuar que a Pós-Verdade traz consequências reais à sociedade. Da mesma forma que ela pode ajudar um candidato a vender uma imagem que não corresponde à realidade, como pintar um cenário sem corrupção, prometer prosperidade financeira, entre outros ideais que nem sempre são alcançáveis, além de criar inimigos invisíveis para se retratar como um salvador, ela também pode contribuir para a morte de milhares de pessoas.

A verdade é que não é só as eleições que são afetadas pelas fake news. No momento em que escrevo esse texto, o Brasil se aproxima das 475 mil mortes por Covid-19. Dessas mortes, é impossível saber quantas pessoas ignoraram a gravidade da pandemia por causa de falas irresponsáveis feitas por políticos e autoridades, quantas criaram a falsa sensação de segurança porque venderam a ideia de que era só tomar determinados remédios para se curar – ainda que eles não tenham comprovação científica contra o vírus –, e quantas foram às ruas sem máscara, sob efeito ilusório de uma suposta segurança sanitária e se infectaram e/ou infectaram outras pessoas.

Um exemplo de parte da população que se aventura pelo campo da política e da religião é a dos pastores. Enquanto alguns ignoraram os riscos da doença, acreditaram que se tratava de uma invenção e criavam suas próprias teorias malucas como de que a pandemia surgiu por causa dos LGBTQs ou de que as vacinas contêm chips satânicos, outros foram além, e se aventuraram por algo que não é de suas competências, incentivaram tratamentos sem comprovação científica e até mesmo, por meio do charlatanismo, venderam e prometeram curas impossíveis.

O fenômeno do charlatanismo dialoga com as fake news e pode ser englobado no da pós-verdade, especialmente quando flerta com a política e ajuda a proteger o sistema político danificado, distraindo o rebanho sobre a importância de lutar pelos seus direitos, bem como quando se trata de figuras que cresceram com base nas mentiras e na cultura do ódio, ajuda a espalhar preconceitos de todos tipos. 

Logo, não é porque informações falsas e declarações feitas por determinadas autoridades políticas e religiosas tentaram fazer parecer que a pandemia não era perigosa, que isso corresponde à realidade: um exemplo bem fácil de entender o que é pós-verdade. Pela desconfortável quebra de rotinas e pelo medo do desconhecido, especialmente quando as vacinas não estavam disponíveis, muitos aproveitaram as crenças das pessoas para as manipularem, até que diante dos números expressivos, das perdas de pessoas próximas e/ou até do próprio adoecimento, se tornou insustentável manter a mentira.

Entender como as fake news funcionam para manipular a agenda política e influenciar as intenções de voto se mostra cada vez mais importante. Não temos como voltar para um período sem mídias sociais e por mais que algoritmos tentem combater, ajudando a reduzir pelo menos a quantidade de perfis falsos e bots de desinformação, investir na educação midiática, apoiar o trabalho dos bons jornais compromissados com a verdade e entender como as crenças, a psicologia e as vulnerabilidades podem ser usadas contra nós estão entre as possíveis formas de reduzir os impactos das fake news.

O jogo político se alimenta das divergências e vieses, mas a produção por conta própria de conteúdo falso e o financiamento da indústria das fake news levaram o problema para um nível tão preocupante que vários países preocupados com a democracia começaram a cobrar atitudes das redes sociais, têm discutido mais sobre o assunto e responsabilizado ataques coordenados e antidemocráticos.

Vendo que o trabalho das redes sociais de remover fake news é insuficiente, resta ao brasileiro se preparar para uma guerra de desinformação e ter um olhar crítico para o que tem sido produzido, sem deixar se iludir por suas preferências ou crenças. 

O mesmo sistema que protege a desinformação, também potencializa a polarização e os ataques que inicialmente tinham como alvo políticos concorrentes, também têm tornado as mídias sociais um campo de guerra em que, muitas vezes, inocentes pagam o preço da máquina de ódio e mentiras. Um exemplo recente é o da médica Luana Araújo, que após participar da CPI da Pandemia, por se posicionar contra tratamentos sem comprovação científica, a profissional se tornou alvo de pessoas que tentam desmoralizá-la e usam outras de suas habilidades, como com a música, para criticá-la.

O único remédio eficaz até o momento para combater mentiras é por meio da verdade. Porém, influenciados por um mundo imaginário criado por políticos da Pós-Verdade, muitos resistem a encerar o óbvio que foi alertado milhares de vezes, até que o pior aconteça e, muitas vezes, seja tarde demais. Quem será responsabilizado por tantas mentiras e omissões?

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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