Pular para o conteúdo principal

Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

CPI da Pandemia: Médica Luana Araújo derrubou os muros da Pós-Verdade

Desinformação se combate com informação de qualidade. Em uma época em que os veículos de jornalismo são atacados diariamente por políticos e seus apoiadores, nem sempre abordar o assunto é suficiente. Muitas vezes, é preciso que o próprio profissional/especialista da área esclareça as dúvidas – o que pode ser positivo, quando a pessoa tem boas intenções, mas pode ser extremamente prejudicial quando existem segundas intenções.

No livro Pós-Verdade, o jornalista inglês Matthew D’Ancona lembrou que com as redes sociais, não são todos pesquisadores que gostam de se conectar com o público, mas que a utilização dessas ferramentas pode, sem dúvidas, ajudar a combater informações falsas e duvidosas de Ciência.

Para quem é da área do jornalismo, é difícil não se incomodar com desinformação e fake news. Já os profissionais da área de saúde nem sempre se manifestam, até porque diariamente milhares de informações erradas sobre tratamentos sem comprovação científica circulam na internet. Porém, a pandemia mostrou que o silêncio pode ser perigoso quando falta um posicionamento claro do Governo: o Ministério da Saúde diz uma coisa, o Presidente faz outra e por questões ideológicas, médicos se dividem entre confrontar comportamentos problemáticos ou apoiarem.

Este mês de junho de 2021 deixou bem claro como o espaço público bem aproveitado pode servir para ecoar mensagens que deveriam ter sido ditas de forma coerente e não foram. A médica Luana Araújo criticou, por exemplo, a atenção que o Brasil deu para tratamentos sem comprovação científica contra Covid-19, em vez de apostar em campanhas eficientes para reforçar a importância do distanciamento físico, uso de máscaras e outras medidas para ajudar a conter a disseminação do vírus.

A médica foi convocada para a CPI da Pandemia e o evento tem sido considerado histórico para muitos, pois tem como objetivo apurar o que o governo de Bolsonaro fez ou deixou de fazer na gestão da pandemia. Após a participação, Luana Araújo ganhou mais de 200 mil seguidores no Instagram e suas falas bastante elogiadas foram espalhadas por inúmeros jornais e mídias sociais, demonstrando ainda mais a importância de dar mais espaço para depoentes comprometidos com a ciência de qualidade do que profissionais movidos somente pelas crenças pessoais.

A formação profissional por si só não é determinante no combate à desinformação, em alguns casos, podendo espalhar mais ainda. A própria médica alertou que é importante avaliar a questão técnica por trás de quem participa desses cargos, bem como criticou pessoas que falam sobre autonomia médica, sem levar em conta a responsabilização no caso de tratamentos sem comprovação científica que podem levar à morte ou causar danos à saúde.

“O médico é obrigado a responder pelos seus atos. Se compreender que vale a pena a sua decisão, tem direito de decidir, mas isso não significa que você não responda por ela” – Luana Araújo, médica infectologista durante a CPI da Covid

Antes mesmo da CPI da Pandemia, ela havia declarado no Twitter que considerava a recomendação da Cloroquina para Covid-19 uma forma de neocurandeirismo. Questionada por vários senadores, ela argumentou que, sim, as fake news de saúde, Kit Covid e falta de clareza e posicionamento do governo sobre a pandemia podem dar uma falsa sensação de segurança à população brasileira e expô-la a riscos. 

Por causa da estratégia de Pós-Verdade adotada por Bolsonaro, muitos dos seus seguidores desconfiam das falas de Luana Araújo. Com ataques constantes para desmoralizar a imprensa, tudo que contrarie ao que ele defende é visto como mentiroso, falso, lixo ou até mesmo alegações fantasiosas de comunismo.

Para esclarecer mais dúvidas, Luana Araújo foi entrevistada pela CNN Brasil e declarou que não tem o costume de se posicionar contra governos:

“Acho que tenho o direito e o dever, como cidadã brasileira, pesquisadora, epidemiologista, também de me posicionar com relação às políticas de saúde pública do meu próprio país"

Ainda sobre a repercussão de sua convocação à CPI da Pandemia, ela lembrou que ficou claro que existe uma carência de entendimento das pessoas de educação nesse sentido e que o mais interessante da educação e ciência é ensinar o pensamento crítico, para que as pessoas possam tomar suas decisões. 

O depoimento de Luana Araújo deixaria o autor do livro Pós-Verdade com orgulho. Para o jornalista Matthew D’Ancona, ficar em silêncio nessas situações pode torná-las piores ainda, já que sem a informação correta, muita gente consome e espalha informações incorretas. Uma das estratégias de Pós-Verdade adotadas por Trump e seus apoiadores, reproduzidas no Brasil, é o ataque para tentar desmoralizar qualquer pessoa que se manifeste contra as ideias defendidas por certos políticos.

Médica especialista em doenças infeccionas pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestrado em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, Luana Araújo  foi convidada pelo Ministro da Saúde Marcelo Queiroga para montar e chefiar a Secretaria de Enfrentamento à COVID-19, dez dias depois, ela foi demitida. 

Pela sua nota oficial e pela participação da CPI da Pandemia, ficou claro o motivo, contrastando com a postura de médicos que se omitem diante das atitudes de Bolsonaro:

“Saio desta experiência como entrei: pela porta da frente, com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência” – escreveu Luana Araújo em trecho da Nota Oficial divulgada no Instagram

Luana Araújo ficou impressionada com a quantidade de pessoas que começaram a acompanhá-la no Instagram após sua participação na CPI da Pandemia. É preciso ler suas falas nas entrelinhas, pois ela não foi lá só para criticar tratamentos sem comprovação científica, mas também defendeu a importância do investimento em ciência, pesquisa e educação, falou de forma breve sobre a fuga de cérebros, bem como sobre o incentivo de meninas e mulheres na área científica.

“Lembrem-se sempre: RESILIÊNCIA É A NOSSA FERRAMENTA! A ignorância pode ser resistente, mas JAMAIS vence a resiliência de uma mente curiosa” – Luana Araújo

Além de ser uma Mulher da Ciência, Luana Araújo também se aventura pelo universo cultural da música. Por ter estudado em universidade pública, a qual tem sofrido com as constantes falta de investimento e desmoralização por parte do governo, não é tão difícil entender porque ela foi logo desconsiderada. 

Independente de quem Luana votou nas eleições ou de seus posicionamentos ideológicos, ficou muito claro que qualquer pessoa que vá contra às ideias defendidas por Bolsonaro não são bem-vindas e como essa atitude foi, é e será alarmante para questões e políticas de saúde pública.

Compre o livro Pós-Verdade (Matthew D’Ancona): https://amzn.to/3yWs0dL

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Comentários

Mais lidas da semana