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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Pandemia: Como máscaras e vacinas se tornaram símbolos pelo impeachment do Bolsonaro

Há erros que não podem ser corrigidos. Se o presidente Jair Bolsonaro tivesse comprado as vacinas quando deveria, talvez o Brasil estivesse livre das máscaras e a população não estaria tão exaltada, ansiosa e desesperada pela imunização em massa, mas intencionalmente, por conta de sua própria agenda política, ele fez escolhas que provocaram consequências mortais.

É ingenuidade e má-fé acreditar que as pessoas que respeitam o uso das máscaras o fazem por mero prazer no uso do acessório, mas é o que vemos acontecendo em círculos bolsonaristas no terreno digital. A mentira se torna uma forma de derrubar uma ideia. Além de tentar apagar a memória de todas vezes em que o ‘líder’ deles apareceu sem máscara em eventos com aglomeração, a tática é uma forma de forçar a volta de uma normalidade impossível, desconsiderando os números ainda preocupantes de mortes e casos diários de Covid-19 no Brasil.

A luta pela vacinação também não é algo exclusivo da esquerda. Qualquer pessoa com bom senso já percebeu que outros países conseguiram baixar o número de mortes e alguns conseguiram diminuir as restrições necessárias na pandemia. O poder da influência da pessoa errada no poder é tão grande, que brasileiros que eram símbolo da eficiência de imunização se tornaram uma pária mundial, importando dos Estados Unidos preconceitos fortes contra a vacina, que contam com fortes disseminadores de desinformação científica.

Engana-se quem pensa que todo mundo que é contra o Bolsonaro é a favor da vacina, por exemplo. Existem, sim, muitas pessoas, independente de ideologias e partidarismos que hesitam em tomar a vacina e outros que fazem parte do movimento antivacina no nosso país e pelo mundo todo. O que esse movimento antivacina tem em comum com o bolsonarismo? Ambos se utilizam de profissionais da saúde que se orientam por estudos de baixa qualidade científica e tentam criar dúvidas sobre vacinas, bem como sugerir tratamentos sem comprovação científica, muitas vezes, com fins comerciais, mas disfarçados de boas intenções.

O desespero de Bolsonaro em pedir para o ministro da saúde Marcelo Queiroga pela não obrigação do uso de máscaras esconde, ou melhor, revela uma tentativa de reverter sua impopularidade. Com a rejeição em alta e sem previsões de baixar, ao fazer promessas impossíveis, ele busca agradar ao menos os seus eleitores. Para os brasileiros que não aguentam mais suas posturas negacionistas, a rejeição só aumentou, ficando bem claro que mesmo quem está cansado de usar máscara, não quer colocar a própria vida em risco nem das pessoas ao seu redor.

Inúmeras frases e símbolos visuais estiveram presentes nas últimas manifestações que pediam o impeachment do Bolsonaro. Mesmo quem não vai às ruas, usa a internet para protestar por meio de imagens, vídeos e textos. “Viva o SUS”, “Vacina Já”, “Vacina para todos”, “Vacina no braço, Comida no prato”, “Use Máscara”, “Vacina e Impeachment” e muitas frases estiveram presentes em cartazes, legendas de fotos, ilustrações, estampas de camisetas, projeções e manifestações artísticas.

Agindo como um adolescente que prefere fechar os olhos e fingir que nada aconteceu, é como se Jair Bolsonaro estivesse à espera de um milagre que possa salvá-lo de todas escolhas que fez. Pior do que isso, ele permanece insistindo no erro. Por trás de suas intenções de defender o tratamento precoce e cloroquina – sem comprovação científica contra Covid-19 –, há um envolvimento de Bolsonaro com outras pessoas que podem ter violado questões éticas, criado falsas esperanças na população e alimentado o charlatanismo.  

As atitudes e investigações no governo de Bolsonaro e alguns de seus ministros, como o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também se somaram às pautas das manifestações. Embora muita gente não veja uma relação direta, há uma preocupação de pesquisadores de que a próxima pandemia possa surgir no Brasil, reforçando a importância da preservação da Amazônia. 

Em entrevista à agência internacional de notícias Agence France-Presse (AFP), em maio de 2020, o cientista David Lapola comentou que muitos vírus surgem ou se disseminam de maneira grande por causa de desequilíbrios ecológicos. Ele também lembrou o desastre ambiental que foi a gestão do Bolsonaro e declarou: “Está provado que a questão do desmatamento é suscetível a quem nos governa. A boa notícia é que os governos são passageiros. Eu espero que numa próxima gestão se dê mais atenção a essa questão e a gente trate com mais zelo esse enorme, talvez o maior, tesouro biológico do planeta”.

A pandemia representa o terror para o bolsonarismo e pode levar ao fim de sua presidência, seja por meio de um impeachment, pelos crimes de responsabilidade cometidos na gestão e/ou pela não reeleição em 2022. Por ser um governo que sempre se posicionou contra ciência, educação, imprensa, arte, enfim, várias áreas que fizeram toda diferença durante mais de um ano de Covid-19 no Brasil, Bolsonaro cavou um buraco bem fundo do qual dificilmente vai sair.

Alguém consegue imaginar o pesadelo que seria passar pela pandemia sem livros, filmes, séries, músicas e diferentes formas de arte? Alguém duvida de que se o país tivesse investido mais em pesquisas na área de ciência, não estaríamos com mais soluções para lidar com esse caos? Alguém já parou para pensar o que seria dos brasileiros sem a imprensa para notificar os números de mortos e de infectados, já que parte do governo tentou atrapalhar a transparência? Alguém percebe o quanto a educação humanizada e ética faz a diferença para combater atitudes egoístas, desumanas e negacionistas?

Os ataques às vacinas e às máscaras colocaram, colocam e colocarão milhares de brasileiros em risco. Basta uma rápida pesquisada nos jornais para ver que teve gente que ficou doente por não usar a máscara e milhares que poderiam ter sobrevivido se a vacina tivesse chegado antes no Brasil. Bolsonaro negou vários pedidos de vacina, apostou em tratamentos sem comprovação e arriscou na loucura da imunidade de rebanho sem vacinação, fazendo milhões de brasileiros flertarem com a morte e com sequelas desconhecidas.

500 Mil Mortes e mais ataques à imprensa

Após o Brasil passar da marca de 500 mil mortes, uma parte esperançosa e ingênua dos brasileiros e da imprensa achou que Bolsonaro faria algum pronunciamento. Em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, Bolsonaro lamentou os óbitos e insistiu na defesa de remédios sem comprovação contra Covid-19, dizendo que tinha ajudado no tratamento dele e que alguns jornalistas diziam para ele que tomaram também. 

Ao ser questionado sobre o uso de máscara e lembrado que ele já havia sido multado pelo estado de São Paulo, Jair Bolsonaro ofendeu a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, ele mandou as pessoas calarem a boca e disse: “Eu chego como eu quiser, onde quiser, eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não usa”.

Além de mandar a jornalista calar a boca, o presidente disse que a Rede Globo não ajudava em nada e que destruía a família e a religião brasileiras. Não foi a primeira vez que Bolsonaro atacou um jornalista e provavelmente não será a última; assim como seus apoiadores também têm um histórico de atacar profissionais da imprensa nas redes sociais, o que acabou ficando conhecido como Gabinete do Ódio e virou alvo da CPMI das Fake News.  

Escrita pelo Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Paulo Geronimo, a nota da ABI disse que a instituição luta pela democracia há 113 anos e reafirma seu posicionamento a favor do impeachment do Bolsonaro, além de pedi-lo para renunciar. “Com seu destempero, Bolsonaro mostrou ter sentido profundamente o golpe representado pelas manifestações do último sábado. Elas desnudaram o crescente isolamento de seu governo. Que o presidente nunca apreciou uma imprensa livre e crítica, é mais do que sabido. Mas, a cada dia, ele vai subindo o tom perigosamente. Pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também publicou uma nota sobre o acontecimento e lembrou que além dos ataques à imprensa, Bolsonaro já bloqueou mais de 60 jornalistas/veículos de comunicação no Twitter.

“A Abraji se solidariza com a equipe da TV Vanguarda e, em especial, com Laurene Santos [...] Jair Bolsonaro demonstrou mais uma vez seu desrespeito pela liberdade de imprensa, pela saúde pública, pela democracia e até mesmo pelas normas mais básicas de civilidade e etiqueta - um comportamento incompatível com o cargo máximo da República do Brasil.”

Por trás de atitudes duvidosas que supostamente ajudariam a economia, o governo Bolsonaro acabou aumentando a necessidade de Auxílio Emergencial na pandemia e piorando a questão da fome e do desemprego no Brasil. Embora as máscaras e as vacinas tenham se tornado símbolo de vida, de sobrevivência e de luta, o povo brasileiro também não escondeu a insatisfação com a maneira que as questões sociais têm sido tratadas no país desde que ele foi eleito. Em diferentes regiões do Brasil e em outros países, as manifestações lembravam também da importância da defesa dos povos indígenas e quilombolas.

Se no início, as manifestações contra Bolsonaro que aconteciam na internet e organizadas ao vivo reuniam mais a parcela da população que não tinha votado nele, cada vez mais pessoas demonstram o arrependimento de terem votado, especialmente pelas posturas negacionistas e omissões da pandemia e ataques à imprensa e à democracia.

Um dos senadores da CPI da Covid e ex-eleitor do Bolsonaro, o senador Alessandro Vieira declarou no Twitter: “Não se deve confundir falta de educação e desrespeito com autenticidade ou coisa parecida. Bolsonaro tenta esconder com gritos e ofensas sua incapacidade de responder sobre coisas básicas, como os 500 mil mortos da COVID ou os cheques do Queiroz. Democracia exige imprensa livre para perguntar e autoridades decentes disponíveis para responder. Vamos trabalhar para que este surto autoritário seja superado pela melhor vacina que existe, o voto! Não vão nos calar”

O incômodo crescente de Bolsonaro também se deve a maior quebra de silêncio. Escritor, jornalista político e colunista do jornal O Globo, Merval Pereira publicou no dia 20 de junho de 2021 o texto O Recado dos Mortos, no qual questionava quantas milhares de mortes seriam necessárias e lembrou que se haviam recomendações oficiais para enfrentar a pandemia, não era só um erro e que as autoridades sabiam o que poderia acontecer.  

Encerro esse texto com um trecho da coluna do Merval Pereira, que revela a preocupação de setores que antes não viam tanta urgência na tragédia desastrosa que é o bolsonarismo para o Brasil: “Que houve crime, já não há dúvida. O caminho para a abertura do processo de impeachment é amplo, as mais de 500 mil mortes exigem ações urgentes, e as ruas estão advertindo o presidente da Câmara, Arthur Lira, de que não há mais tempo a ganhar à espera de uma melhora econômica, que não recuperará nossos mortos”.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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