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Turbotecnomachonazifascismo: 10 Motivos para Ler o Livro da filósofa brasileira Márcia Tiburi
Como a internet e a mídia ajudaram a eleger pessoas com ideias tão absurdas e comportamentos condenáveis? O que desperta o fascínio de alguns em figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro, ambos com atitudes grotescas em relação à diversidade, à imprensa e à democracia? Essas e muitas outras questões são levantadas pela filósofa brasileira Márcia Tiburi em seu livro Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo, publicado pela Editora Record, em 2020.
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Depois de mais de um ano de pandemia e com a proximidade das Eleições 2022, entre outras questões que estão acontecendo pelo país, como a CPI da Pandemia que tem investigado as omissões do governo Bolsonaro na compra das vacinas, incentivo à comercialização e consumo de tratamentos sem comprovação científica contra Covid-19, e inúmeros absurdos, como a falta de diplomacia com países que ofereceram ajuda, entender melhor como políticos sem noção conquistam espaço entre os eleitores é mais do que necessário, é uma questão de cidadania.
Enquanto parte da população já havia alertado sobre todos horrores que aconteceriam se Jair Bolsonaro fosse eleito, outra preferiu ignorar os avisos. Quase tudo o que aconteceu, acontece e acontecerá no governo Bolsonaro é previsível, como as recorrentes acusações de que as eleições 2018 foram fraudadas e um ensaio para repetir o mesmo discurso se perder as Eleições 2022.
Mentir e distorcer as informações não são um problema para Bolsonaro e quem se aproxima dele. A bajulação faz parte do seu jogo político. Sem projetos decentes, sem inteligência emocional, sem bagagem cultural, Bolsonaro estrategicamente tenta passar uma imagem de simplicidade, quando por trás das cortinas, escândalos tentam ser abafados.
Ao ler o livro da Márcia Tiburi, o leitor também vai entender sobre como as ferramentas digitais e os discursos de políticos são usados para distorcer. Dá para perceber também o papel de parte da mídia nisso. Descobertas recentes da CPI da Pandemia mostraram que alguns jornalistas foram pagos para fazer propaganda governista: o que nos leva a várias questões sobre o desinteresse da ética e da transparência na gestão de Bolsonaro, bem como discussões sobre como esses profissionais da comunicação deveriam informar a população.
Após a marca de 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil, entender a relação entre saúde pública, política, mídia e tecnologia se tornou de extrema importância. Entender como a propaganda política de Donald Trump, Bolsonaro e outros políticos de extrema-direita acontece na internet, também nos lembra do papel das mídias sociais nessa confusão toda. Atos antidemocráticos foram investigados nos Estados Unidos e no Brasil, mas ainda há muito a ser feito e é preciso cortar o mal pela raiz.
Confira 10 Motivos para ler o livro Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo (Marcia Tiburi):
1) Discurso falso de que não é como outros políticos
Tentando passar uma imagem de cidadão comum, Jair Bolsonaro conquistou uma parte da população brasileira que estava frustrada com a política. A filósofa Marcia Tiburi lembra, no entanto, que o próprio discurso antipolítico é uma forma de fazer política.
“É um jogo retórico que precisa de performatividade cínica. Venceram em uma zona estranha, a da contradição e da autocontradição, em que o jogo do círculo cínico posiciona alguns no lugar de exploradores cínicos e outros no de otários” – Marcia Tiburi, Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo
Ela também lembra que essa rejeição à política não é mero acaso. Não dá para pensar no quanto isso pode ser perigoso à democracia, quando pessoas votam em branco ou em países em que não é obrigatório, quando deixam de votar e acabam favorecendo candidatos sem propostas reais, que venderam uma imagem ilusória da ‘política da não política’.
2) Cinismo como ferramenta de distorção e manipulação
Quantas mentiras Donald Trump contou em discursos públicos? Se você pesquisar na internet, vai encontrar uma estimativa. Quantas vezes Jair Bolsonaro distorceu informações, especialmente relacionadas à Pandemia? Até maio de 2021, o site de checagem Aos Fatos declarou que desde o início do mandato, Bolsonaro já mentiu mais de 3 mil vezes.
O que para alguns parece ser um deslize ou normalidade do meio político, na verdade se trata de sua estratégia que começou muito antes de ser Presidente. Quem lembra das declarações homofóbicas, machistas e até mesmo exaltação do torturador militar Carlos Ustra? Em alguns países, isso seria o suficiente para ele não ser nem mesmo considerado para cargo político. Mas se aproveitando da ignorância coletiva de um Brasil que se desconhece a sua própria história, de um jeito ou de outro, ele conseguiu atrair a atenção de seus seguidores.
3) Robotização: Entre bots e comportamentos artificiais
Quem participa das redes sociais, já percebeu uma quantidade gritante de bots nos últimos anos. Aliás, desde o período das eleições. Além de servirem para atacar opositores ao Bolsonaro, muitos servem para propagar fake news e incitar atos antidemocráticos. Os absurdos de Donald Trump o levaram ao banimento de várias redes sociais e para evitar que o mesmo aconteça, outros presidentes têm tentando alterar a legislação e até mesmo proibindo o funcionamento do aplicativo no território nacional.
“Os atos fascistas do passado eram analógicos, hoje são também digitais. O que isso muda na prática e no enfrentamento do fascismo ou nazifascismo? O turbofascismo é produzido em condições tecnológicas, que lhe dão velocidade digital em termos de transmissão e uma intensidade operacional na conquista de corações e mentes fragilizadas eticamente, o que faria inveja a Hitler e assemelhados” – Marcia Tiburi, Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo
Márcia Tiburi que já foi alvo de ataques misóginos, como muitos que criticam as posturas de Bolsonaro, também lembra que do mesmo modo que alguns bots são ativados por termos, por meio de artifícios do nazifascismo, muitos seguidores se tornam mais violentos por meio de comandos dos quais nem sempre ele estão conscientes.
4) Consciência política
Muita gente talvez não se lembra, mas Bolsonaro fugiu de vários debates políticos. Até hoje, sua inabilidade de fazer discursos revela que ele é incapaz de agir como um líder. Em tempos de crises, como a pandemia, a população espera que o Presidente faça depoimentos de esperança, mas em vez de abordar a quantidade de mortos, o Ministro das Comunicações, Fábio Faria fez uma publicação no Twitter que gerou mais polêmicas ainda: dizendo que políticas, artistas e jornalistas lamentariam o número de mortes, mas não comemorariam o número de doses aplicadas e de pessoas curadas.
“Na era da percepção manipulada, torna-se impossível para a maioria da população compreender o jogo que está sendo jogado, em outras palavras, perceber a performance da qual participa” – Marcia Tiburi, Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo
Essa tentativa de distorcer os números e fatos dão um toque de realidade paralela para Bolsonaro e seus apoiadores, fazendo com que jornalistas e pesquisadores se deem ao trabalho de corrigir as informações e também se tornando alvos do bolsonarismo, por muitos preferirem acreditar nas mentiras do político do que nas pessoas compromissadas com a verdade.
5) Desconhecimento histórico e de política internacional
Aqueles que pedem a volta da Ditadura Militar no Brasil provavelmente nunca estudaram o que aconteceu no período, assim como outros absurdos que vemos no país: pessoas que período do nazismo seriam mortas por Adolf Hitler, agora tentam defender e usar o símbolo. Essa desconexão com a realidade dos que defendem nazistas mostra o quanto a ignorância pode atingir níveis patológicos, uma proximidade com a psicose.
Outro exemplo é como Donald Trump causou inúmeros danos coletivos à sociedade norte-americana, mas muita gente é incapaz de enxergar, seja por questões ideológicas ou de crenças. Atualmente, ele continua espalhando a mentira de que as eleições foram roubadas e seus apoiadores fanáticos seguem atacando as pessoas na internet, algo que ele foi limitado a fazer oficialmente por ter sido banido de mídias sociais, como Twitter, Facebook, YouTube e Instagram.
Várias pessoas foram julgadas por causa de atos antidemocráticos e no Brasil algo parecido aconteceu e deve acontecer, caso Bolsonaro continue espalhando suas mentiras sobre fraudes eleitorais. Ficando o questionamento: vale a pena ser preso para defender um político que só preocupa com ele mesmo?
Nos Estados Unidos, não só eleitores, como ex-aliados de Trump acabaram se incriminando e quando precisaram da ajude dele, foram ignorados. Não é difícil ver algo assim acontecendo no Brasil.
6) Discursos vazios intencionais
Para Márcia Tiburi, parte dos discursos vazios feitos por alguns políticos se esconde uma teatralidade, uma performance. No período em que o livro foi publicado, a pandemia ainda não havia atingido um número tão alto de mortes, mas a autora já apontava questões como a maior violência contra a mulher de famílias que ficavam mais tempo dentro de casa e a falta de ações do governo. Aliás, com tantos discursos misóginos, soa até estranho quando tentam se manifestar.
Há uma constante tentativa de esvaziar os sentidos. Na pandemia, isso ficou muito claro com os discursos feitos por Bolsonaro tentando minimizar a gravidade da doença. Em vez de se pronunciar com empatia, ele não demonstrou remorso nenhuma vez por não ter comprado as vacinas quando deveria, bem como teve um histórico de falas problemáticas: “Gripezinha”, “Não sou coveiro”, “Se tomar vacina e virar jacaré”, entre outras formas de tentar tirar sua responsabilidade pelo caos de sua gestão desastrosa.
Bolsonaro também insiste em recomendar tratamentos sem comprovação científica contra Covid-19, mente que as vacinas não têm eficácia comprovada, distorce dados sobre a vacinação e tentou usar um relatório fraudado para dizer que os números de mortes não estão corretos. Todas essas ações podem ser consideras criminosas, afinal, fraude é crime e nesse período tão crítico, tentar desmoralizar a importância da imunização em massa com vacinas é grotesco – além de ter defendido a imunidade de rebanho por infecção do vírus.
7) Falsa sensação de independência esconde a impotência
Com o bordão “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos”, Bolsonaro construiu uma imagem completamente imaginária de si mesmo. Mesmo quando tenta passar uma impressão nacionalista, ele falha. Basta lembrar do episódio em que bateu continência para a bandeira dos Estados Unidos, ou como ele tentava puxar o saco do ex-presidente norte-americano Donald Trump e era ignorado.
“As condições do nosso tempo implicam a indústria cultural como um todo, mas também a indústria cultural da política nos encaminha a refletir sobre a criação de estereótipos políticos que fazem sucesso, que causam sensação. São atores políticos que, como vedetes, hipnotizam as massas, colocando a todos sob o efeito de seus discursos e performances. A hipnose e a produção do êxtase se tornam metodologias políticas. Não é por acaso que religião, economia e política estejam cada vez mais próximas, pois se utilizam de métodos similares” – Marcia Tiburi, Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo
A mesma relação de submissão é reproduzida em outros níveis. Márcia Tiburi fala tanto sobre a relação entre a religião do neopentecostalismo e o bolsonarismo, além de lembrar que alguns métodos para encantamento dos seus seguidores são parecidos. Esse apoio não se dá só na estrutura, mas também no apoio político e financeiro.
Para quem não lembra, houve muita pressão por parte dos pastores para que as igrejas não fechassem na pandemia e, se Bolsonaro oferecia remédios sem comprovação científica contra o vírus, inúmeros pastores também recomendaram mesmo sem serem médicos, além de prometerem curas milagrosas impossíveis. Uma tragédia sanitária que se retroalimentou, já que muitos pastores e seus fiéis que acreditaram nas mentiras de Bolsonaro e das igrejas morreram nessa pandemia.
8) Propaganda constante
Antes de Donald Trump ser banido do Twitter, semanalmente um dos seus discursos era destaque da mídia. O ex-presidente dos Estados Unidos estava sempre atacando alguém, seja do seu próprio país ou de outras nações, causando a sensação de que a qualquer momento uma Terceira Guerra Mundial poderia estourar.
Com Jair Bolsonaro não é tão diferente. Quando não é o próprio presidente, são seus subordinados, familiares políticos e apoiadores tentando postar algo que vai impactar o seu público e alcançar as manchetes dos jornais.
Desesperado com pessoas de países com a vacinação avançada estarem sem máscara e com a pressão que isso causaria no Brasil, por revelar sua incompetência, recentemente Bolsonaro pediu para que o ministro da saúde Marcelo Queiroga avaliasse a possibilidade da liberação do uso de máscaras para quem já se vacinou ou quem já se infectou. A Organização Mundial de Saúde e inúmeros especialistas se pronunciaram que no momento isso não é possível no país, pelo baixo número de pessoas imunizadas e alta quantidade de pessoas infectadas e mortes.
Para Márcia Tiburi, sem essa propaganda constante o fascismo não consegue se sustentar. Um fato engraçado aconteceu recentemente: muitas vezes, na tentativa de criar situações inexistentes para impressionar, o bolsonarismo acaba dando vários tiros no pé. Uma das motociatas de Bolsonaro em São Paulo teve um número vergonhoso e seus apoiadores tentaram passar a ideia de que o evento entraria para o livro dos recordes; enquanto outros chegaram a alegar que tiveram mais de um milhão de motos ou que movimentaram a economia da cidade.
9) Fascismo em potencial
Márcia Tiburi cita o filósofo alemão Theodor Adorno e seus estudos sobre a personalidade autoritária. Em cada um dos traços, é possível conferir similaridades com o governo Bolsonaro, desde a utilização de fake news para destruir e desmoralizar seus opositores, preocupações exageradas com o sexo (quem lembra do falso kit gay inventado por Bolsonaro?) e uma postura que vai contra a ciência, conhecimento, artes e intelectualidade.
Essas características fascistas revelam uma dificuldade tremenda de lidar com o diferente, sem tentar destruí-lo, seja por ações físicas ou psicológicas. O ódio é o combustível do bolsonarismo, bem como a tentativa de diminuir o outro com termos que nem sempre correspondem à realidade. Nesses tempos de pandemia, jornalistas de direita e centro foram chamados de esquerdistas e comunistas, como uma forma de incitar o ataque de seus apoiadores. Nesse transe, contrariar Bolsonaro significa estar do outro lado extremo e não há possibilidade de apoiá-lo e criticá-lo ao mesmo tempo – como um típico narcisista que quer ser sempre elogiado.
10) Dialogar com fascista
Por fim, é possível dialogar com turbotecnomachonazifascista (nazifascista)? Em outro livro, Marcia Tiburi se propõe a discutir essa questão, mas com base em tudo o que foi levantado, é necessário pontuar que nem sempre é possível.
Também é importante lembrar que nem todo mundo que apoia um fascista necessariamente entende todos mecanismos por trás dos seus discursos: é semelhante a uma lavagem cerebral ou estado de transe religioso, mas fundido com as aflições políticas e econômicas, levados a um desespero para lutar com um sistema invisível, onde o seu líder é o salvador.
As ações de Bolsonaro na pandemia chocaram o mundo – pessoas de diferentes países não conseguem entender como ele ainda não sofreu impeachment –, mas muitos de seus seguidores não só concordam com ele, como não veem nenhum problema no que aconteceu, mostrando o quanto é desafiador combater as estratégias políticas. Enquanto uma parte está acordando, outra sempre soube que se em situações normais, Bolsonaro seria incapaz de ser um bom presidente, imagine, então, em um período de Covid-19.
Dito e feito, suas posturas não só atrasaram a vacinação, como também incentivaram que mais pessoas se infectassem, sem levar em conta que além do risco de morte, essas pessoas também correm o risco de sequelas e podem comprometer ainda mais a renda familiar.
Assim como Trump não foi reeleito, Bolsonaro não estará para sempre no poder, mas as consequências dos seus atos vão reverberar por um bom tempo, lembrando da dor, do luto e do perigo de eleger alguém autoritário, negacionista e propagador de informações falsas – uma combinação mortal para uma pandemia.
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