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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Fascismo à Brasileira: Livro do jornalista Pedro Doria fala da influência de Mussolini no Brasil

Fascismo. O termo tem circulado nas redes sociais nos últimos anos, mas muita gente reproduz sem saber seu significado, história ou contexto. Outros confundem com nazismo ou comunismo. Para explicar sobre suas origens, a influência no Integralismo brasileiro e as conexões com o Bolsonarismo, o livro Fascismo à Brasileira, escrito pelo jornalista especializado em política e tecnologia Pedro Doria. A obra nacional foi publicada pela editora Planeta, em 2020. 

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Ainda bem que as coisas mudam. Do mesmo modo que houve um aumento de governos de Extrema-Direita pelo mundo, o cenário agora está se revertendo, revelando quantos danos foram causados à democracia e também à diplomacia, criando mais divisões e tensões entre os países em um período tão difícil de pandemia.

Embora tenha inspirações no fascismo italiano de Benito Mussolini e também possa ser comparado à Ação Integralista Brasileira, um movimento político ultranacionalista de Extrema-Direita fundado pelo jornalista e escritor Plínio Salgado, uma das principais diferenças entre os dois movimentos e o de Jair Bolsonaro se deve à importância cultural – tanto o movimento da Itália quanto o do Integralismo, seus líderes apreciavam as diferentes formas artísticas. 

Mesmo os dois tendo em comum um caráter autoritário, na fundamentação, o bolsonarismo é vazio de significações mais profundas e se sustenta pela Pós-Verdade, usando fake news e desinformação para alimentar o ódio aos opositores, aos artistas e à imprensa, além de apoiar o negacionismo científico.

“Revolução, da forma como habitualmente é definida na ciência política, é mais do que a tomada de poder acompanhada em geral, de violência. As classes dirigentes, afinal, sempre resistem. Para que seja mesmo uma revolução, não basta que o poder seja tomado à força. É preciso que haja uma transformação de natureza política e socioeconômica no Estado, não apenas troca de comando” – Pedro Doria, Fascismo à Brasileira

Com cenários tecnológicos completamente diferentes e uma maior influência da globalização, principalmente com a internet, dá para entender porque o bolsonarismo facilmente falha em tentar demonstrar sua influência sobre os brasileiros. Além disso, revestido por um pseudoconservadorismo e pseudonacionalismo, os comportamentos do Presidente Bolsonaro e seus apoiadores não condizem com as ideias que tentam vender, entre alguns exemplos marcantes estão a viagem para a posse do Presidente do Equador, onde Bolsonaro usou máscara – algo que ele ignora no Brasil e já participou de inúmeras aglomerações –, e do episódio em que ele bateu continência à bandeira dos Estados Unidos quando participou de um evento no Texas.

Por isso as comparações entre Bolsonaro e outros sistemas políticos se cruzam com ideias conflitantes. Embora não seja discutido no livro, há pesquisadores que chegam até mesmo a ligá-lo ao nazismo ou nazifascismo (uma combinação do nazismo e fascismo). Vale lembrar que, recentemente, foi divulgada a informação de que uma carta assinada por mais de 200 profissionais judeus declaram que o governo Bolsonaro tem fortes inclinações nazistas e fascistas.

Plínio Salgado acredita que o indivíduo deveria ser considerado por três forças: moral, econômica e política. Pedro Doria comenta que para Plínio, o surgimento do Integralismo veio com a insatisfação aos sistemas anteriores e com a crença da necessidade do nascimento de uma cultura política genuinamente brasileira, sem tanta independência aos estados. “Uniformidade era um conceito-chave em sua visão de mundo”, afirmou Pedro Doria. 

Com ideias ambíguas, o manifesto da Legião Revolucionário Paulista escrito por Plínio Salgado poderia ser visto tanto como de direita ou de esquerda e trazia uma visão que até hoje ecoa nas gerações mais velhas, de uma suposta simplicidade das coisas nos tempos antigos e cidades do interior, confrontando com a visão multicultural das metrópoles.

A intenção de Plínio Salgado de criar uma doutrina, também vinha acompanhada de preocupações financeiras. Após seu manifesto paulista, ele escreveu outro manifesto, desta vez o da Ação Integralista Brasileira com um tom mais autoritário e fascista, tentando minar a autonomia dos estados. Nesse ponto, se formos comparar com o governo Bolsonaro, as divergências ficam evidentes, até porque ele costuma ser aconselhado por brasileiros que se dizem patriotas, mas moram fora do país – enquanto Plínio criticava a influência dos Estados Unidos e da Europa, Bolsonaro teve um apoio expressivo de empresários que lucram no Brasil, mas muitas de suas famílias escolheram um lar internacional.

“Uma Nação, para progredir em paz, para ver frutificar seus esforços, para lograr prestígio no Interior e no Exterior, precisa ter uma perfeita consciência do Princípio de Autoridade. Precisamos de Autoridade capaz de tomar iniciativas em benefício de todos e de cada um; capaz de evitar que os ricos, os poderosos, os estrangeiros, os grupos políticos exerçam influência nas decisões do governo, prejudicando os interesses fundamentais da Nação. Precisamos de hierarquia, de disciplina, sem o que só haverá desordem” – trecho do manifesto escrito por Plínio Salgado

O envolvimento de Plínio Salgado no movimento integralista quebra aquela visão romântica que muitas pessoas têm sobre escritores, artistas e jornalistas. Seus manifestos ajudaram a tornar o Brasil um lugar mais sombrio, revelando uma geração de pessoas que de forma completa ou em partes concordava com as ações nefastas de Hitler e Mussolini. 

Pedro Doria faz um levantamento histórico do Brasil, mostrando como o fascismo italiano se relacionou com a Ação Integralista Brasileira e também como foi Getúlio Vargas conseguiu impedir tanto o fascismo quanto o tão temido fantasmas do comunismo no país. Por meio de estratégias de manipulação, ao perceberem que o fascismo chegaria ao fim, Getúlio Vargas se tornou um alvo e é interessante perceber que muita gente não faz ideia do que desenrola no contexto político até que anos se passem e as histórias sejam contadas.

A parte final do livro procura responder a pergunta: o governo Bolsonaro é fascista? Existem diferentes percepções. Se por um lado, há algumas características em comum tanto com as crenças do italiano Mussolini como com as do brasileiro Plínio Salgado, por outro, há uma diluição cultural – Bolsonaro e seus apoiadores têm um olhar reacionário, mas não revolucionário. Em tempos de internet e democracia liberal pelo mundo, dificilmente o bolsonarismo consegue prosperar, mesmo tentando simular o fascismo a seu próprio modo.

“Não parece haver, no discurso bolsonarista, o componente revolucionário. Não quer construir um Estado radicalmente novo. Quer apenas destruir sem dar pistas do que colocará no lugar. Porém há muito do reacionário: porque o espírito de uma cultura política brasileira a mais primitiva, a mais remota, está lá vivo […] Esse apego que se recusa a permitir que a sociedade avance e se transforma, que quer impor os trejeitos do passado, isto é reacionarismo […] Plínio queria regras, muitas regras. Bolsonaro deseja sua completa ausência. A democracia liberal ocorre entre os dois extremos” – Pedro Doria, Fascismo à Brasileira

Levando em conta tantas diferenças culturais e contextos, tirando o apreço por fardas, Mussolini e Plínio Salgado se sentiriam ofendidos de serem comparados com Bolsonaro. Mesmo Adolf Hitler, com sua perversão e liderança nazista, responsável pelo extermínio de milhões de pessoas, embora não seja uma figura nada admirável e que não deve ser idolatrada de forma alguma, tinha mais repertório cultural.

Muito do que faz parte do bolsonarismo só poderá ser analisado a fundo quando as investigações acontecerem. Até lá, existem muitas especulações, segredos e estratégias mantidas em sigilo. Isso tem ficado cada vez mais claro com a CPI da Pandemia e a péssima gestão que poderia ter evitado a morte de milhares de pessoas. Também importante notar que, diferente de Hitler, Mussolini e Plínio Salgado, a admiração por Bolsonaro vem de um grupo específico e para tentar falsear sua popularidade, ele se utiliza do sistema político da Pós-Verdade, assim como Donald Trump – tendo como parte de sua estrutura o incentivo à produção e compartilhamento de fake news. 

Prova mais recente disso, até a publicação deste texto, foi a Motociata de São Paulo: seus apoiadores e aliados tentaram inflar os números, desde dezenas de milhares até mais de um milhão de motos, mentindo que entraria para o Guiness World Records, quando os números reais são patéticos.

Fato interessante é que chegaram a comparar a atitude do passeio de motos de Bolsonaro com ação semelhante do Mussolini. O livro não chega a aprofundar no aspecto estético do bolsonarismo, mas mais uma vez se confronta com a dos sistemas com os quais é comparado: o próprio Plínio Salgado demonstrava uma forte preocupação com a cultura nacionalista, enquanto Bolsonaro e seus apoiadores atacam constantemente artistas, escritores e jornalistas. 

Fica aqui a indicação de leitura para quem deseja entender um pouco sobre esse período sujo da história brasileira, o qual as pessoas tentam mudar as significações e outros olham com nostalgia. O livro Fascismo à Brasileira, do jornalista Pedro Doria, deveria ser leitura obrigatória sobre a importância da cidadania, democracia e do voto consciente


*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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