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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Pandemia: Negacionismo, Negócios e Fraudes na área de Saúde

Há coisas que por questões políticas e de crenças, muitas pessoas não questionam. O óbvio também precisa ser dito: o negacionismo na pandemia não está relacionado somente a uma negação da realidade, mas também tem uma agenda ideológica e financeira por trás. Diante da gravidade da situação, diferente de tratamentos sem comprovação científica que não são tão julgados quando se tratam de outras doenças, ao se tratar da Covid-19: é questão de vida ou morte.

A CPI da Pandemia já ouviu depoimentos de profissionais de saúde relacionados ao incentivo do uso de tratamento precoce sem comprovação científica contra Covid-19, como Cloroquina e Ivermectina, mas só agora tem quebrado os sigilos e divulgado informações que reforçam que assim como houve com a desinformação da vacina, não era só negacionismo, mas também negocionismo por trás das vendas dos medicamentos.

Segundo informações divulgadas pela CPI da Pandemia, o faturamento das empresas que vendem remédios sem eficácia comprovada contra Covid-19 ultrapassou R$ 500 milhões. Eles também descobriram o que já era perceptível, de que anúncios e propagandas foram utilizados para incentivar o uso desses tratamentos sem comprovação científica – sendo financiados até mesmo por uma das maiores produtoras de Ivermectina.

O caso dos anúncios do tratamento precoce contra Covid-19 geraram polêmicas e incômodos até mesmo entre os jornais. Enquanto os jornalistas se esforçavam para alertar sobre os riscos da pandemia e os riscos de efeitos colaterais e falsa sensação de segurança contra o vírus com tratamentos ineficazes, os setores publicitários das mesmas empresas publicaram anúncios nos jornais promovidos por uma associação de médicos que defende cloroquina e ivermectina.

Não é de agora que o Brasil enfrenta problemas éticos, mas na pandemia tudo se tornou tão evidente que gera um desconforto além da área profissional. Se antes algumas questões ficariam mais restritas aos médicos, publicitários, jornalistas e farmacêuticos, por exemplo, com tantos escândalos da área de saúde vindo à tona, enquanto milhares de pessoas morriam de Covid-19, a pressão por responsabilização é maior.

Ainda na CPI da Pandemia, senadores apoiadores de Bolsonaro alegam que há uma perseguição contra médicos que defendem o tratamento precoce (sem comprovação científica), como se fosse uma questão exclusiva do Brasil. Em muitos países, muitos desses profissionais já teriam perdido a licença para atuação e até mesmo correriam o risco de prisão.

As manifestações pedindo o impeachment de Bolsonaro revelaram muitas pessoas que perderam familiares que acreditaram no tratamento precoce sem comprovação. Além disso, a questão revela divergências até mesmo entre as associações de médicos e profissionais de saúde, que cobraram uma posição mais firme do Conselho Federal de Medicina (CFM) – instituição que demorou para se posicionar sobre o kit-Covid e tem se envolvido em outras polêmicas com os médicos que não se veem representados por ela. 

Nos Estados Unidos, o médico Jennings Ryan Staley foi julgado e se declarou culpado por contrabando de hidroxicloroquina e usar sua posição de confiança como médico para induzir os americanos ao erro com um kit-Covid sem comprovação. O procurador Randy Grossman deu a entender que mais golpes devem ser investigados e golpistas responsabilizados. O médico pode pegar até 20 anos de prisão.

Outro caso recente que chamou a atenção foi o da Juli A. Mazi, uma naturopata da Califórnia que falsificava cartões de vacinação contra Covid-19, além de ter oferecido falsos tratamentos contra Covid, colocando a vida da população em risco. A mulher foi presa e em breve deve ser julgada.

Diante de tantos casos assim que estão atrapalhando a vacinação nos Estados Unidos, já que a população acredita que pode se proteger do vírus com tratamentos ineficazes e sentem no direito de falsificar cartões de vacinação, como se não fosse ter qualquer consequência para si mesmos ou para a sociedade, o Departamento de Justiça contra Fraudes envolvendo Fraudes e a Covid-19 está recebendo informações da população norte-americana.

A diferença de postura de governos e presidências fica cada vez mais gritante. Enquanto Joe Biden implora semanalmente para os americanos se vacinarem, tem cobrado mais responsabilidade das redes sociais contra fake news de saúde envolvendo a pandemia e sabe dos riscos de tratamentos sem comprovação científica, Jair Bolsonaro faz exatamente o oposto: levanta dúvidas sobre as vacinas, quer uma lei que atrapalha o banimento de quem espalha fake news e continua espalhando desinformação sobre a pandemia e tratamentos sem comprovação científica, mais de um ano após o início desse caos todo.

Com tantas informações que ainda devem ser reveladas pela CPI da Pandemia, resta saber que o Brasil continuará conivente com a desinformação e tratamentos sem comprovação, ou se os envolvidos também serão responsabilizados. Inúmeros crimes já foram cometidos na pandemia, como o de charlatanismo, por profissionais que nem mesmo são médicos e ficavam incentivando abertamente o uso de medicamentos ineficazes.

Vale lembrar que embora essas questões estão no alvo da justiça, elas são antigas tanto no Brasil, como nos Estados Unidos. Uma pesquisa de julho de 2021 mostrou que mais de 50% dos norte-americanos que não querem se vacinar acreditam que a imunização será usada para implantação de microchips. Essas teorias da conspiração tem sido espalhadas no Brasil há mais de quinze anos.

Enquanto isso, mesmo com tantos órgãos internacionais e nacionais alertando sobre a ineficácia de determinados medicamentos, ainda há gente tentando defendê-los publicamente, aumentando a confusão do público mais leigo e que não entende tanto sobre como funcionam as pesquisas científicas. 

Aqueles que deveriam proteger a sociedade com postura ética, estão mostrando o oposto do esperado para o momento da crise. Sem responsabilização, o Brasil corre o risco de repetir o caos de outros países, nos quais as pessoas resistem à vacinação, não respeitam as orientações sanitárias nem mesmo quando estão infectadas e vivem como se o cenário fosse de normalidade, diante de falsos tratamentos milagrosos.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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