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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Comunicação com mais responsabilidade ética e menos foco em desesperados por atenção

Um padrão de comentaristas, jornalistas e produtores de conteúdo com visões e comportamentos problemáticos têm se tornado mais evidente em diferentes partes do mundo. Muitas vezes, ganham espaço pela quantidade de seguidores. O dia que as empresas de comunicação pararem de empregar attention seeker (desespero por atenção, sem se preocupar com as consequências) e se focarem mais na qualidade, talvez as coisas melhorem, até porque a audiência está cada vez mais crítica. O Jornalismo respira por aparelho há anos e tem gente que aposta na eutanásia.

Em tempos de pandemia, o jornalismo recuperou um pouco da vitalidade. Se a população usa jornais como fontes confiáveis, por que há ainda tantas empresas relutantes na faxina de profissionais que promovem desinformação e espalham comentários problemáticos, muitos dos quais vão além do direito da liberdade de expressão e de imprensa?

A ilusão de que a internet é terra sem leis e a desvalorização de profissionais da comunicação que poderiam auxiliar e diminuir a quantidade de conteúdo problemático publicado se tornaram o cenário perfeito para a produção e circulação de fake news e opiniões que vão contra a saúde pública, além do uso das ferramentas de comunicação para expressão de discursos de ódio e diferentes tipos de discriminação.

Se empresas pequenas ainda podem usar o orçamento como uma desculpa para não contratar profissionais de comunicação para analisar os conteúdos produzidos, qual é a desculpa de empresas com orçamento mais do que suficiente para tal? 

Quando um comunicador publica informações falsas, preconceituosas e repletas de questões que violam os direitos humanos, não só ele pode vir a pagar o preço judicialmente ou do fenômeno da cultura do cancelamento, como derrubar a credibilidade das empresas em que trabalha e daquelas que investem em publicidade e patrocínio, gerando um desastroso efeito em cadeia que seria facilmente evitável se os profissionais e empresas envolvidos tivessem um olhar mais atento em quem estão apostando suas fichas.

Nenhum profissional é perfeito e todo mundo pode dar seus deslizes, mas há situações que são simplesmente inaceitáveis em pleno 2022. Se comunicação pressupõe intencionalidade e, muitas vezes, fica bem explícito, há casos em que ainda que seja por conta de algum ruído, existem guias editoriais para orientar os profissionais e, o mais importante, a responsabilidade ética – valor que tem sido ignorado.

Em muitos casos, somente quando acontece alguma reação por parte do público, como o cancelamento, judicialização e até mesmo demissão, muitos nem mesmo fazem a mea-culpa, e se migram para outras empresas onde podem ser acolhidos, independente dos seus comentários repletos de dissonância cognitiva e distorções cognitivas: um padrão que vai se repetindo, mostrando as diferentes tolerâncias que as empresas têm, muitas vezes, mais preocupadas com o alcance numérico e fazendo vista grossa para as possíveis consequências jurídicas, sociais e culturais. 

Às vezes, o simples trabalho de um editor poderia poupar muita dor de cabeça. No mundo editorial, por exemplo, existem empresas que estão investindo em profissionais que fazem leitura sensível sobre assuntos relacionados à diversidade. Além, do ombudsman, responsável por receber o feedback do público e fazer suas próprias críticas sobre o que é produzido pela empresa. Nos dias atuais, mais funções existem de acordo com as plataformas midiáticas utilizadas, ainda assim, parece um trabalho insuficiente diante de tanta confusão, que só tende a intensificar em períodos eleitorais.

O mundo da produção de conteúdo jornalístico não é um reality show, em que o público fica vibrando pela discórdia e simpatiza com figuras que gostam de chamar a atenção, caso contrário, são vistos como plantas. Investir em profissionais que atuam de forma irresponsável só tende a acelerar a desconexão que muitos já sentem cada vez mais em relação ao jornalismo. 

Em tempos de caos e incertezas, como da pandemia de Covid-19, o público quer informações confiáveis e não mais preocupações com quais mentiras serão produzidas e desmentidas e com conteúdos que geram engajamento e cliques, mas se distanciam dos ideais jornalísticos. Olhar para frente é importante, quando você não se esquece das lições que aprendeu e, se não aprendeu, melhor ir atrás antes de causar mais prejuízos à sociedade.

Indicação de leitura: Pós-Verdade: Em livro, jornalista Matthew D’Ancona disseca o fenômeno da desinformação política e manipulação 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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