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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Olho Grego – Paulo Sérgio Moraes

Olho Grego. Impossível não ler o título do livro sem pensar em inveja, mau-olhado, mas o principal, em proteção. A maneira que o escritor Paulo Sérgio Moraes trabalhou com esse símbolo em seu segundo romance pode ser sintetizada em seu breve comentário no agradecimento do meu exemplar “[...] Um livro em que o amor se apresenta como forma genuína de proteção!”. A obra, de 262 páginas, foi publicada em 2015, através do selo O. M. pela Editora PerSe.

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O romance é narrado em primeira pessoa por Heitor, um ex-seminarista que previamente morava com sua família em Holambra – município reconhecido pelas suas flores e influência holandesa –, e acabou se mudando para São Paulo, onde seu caminho cruzou com o dos irmãos Ísis e Fred. O passado do rapaz é revelado gradualmente e sua personalidade misteriosa o torna um tanto ambivalente, fisgando o leitor, mas ao mesmo tempo o deixando com os pés atrás sobre até que ponto é possível confiar em suas palavras – afinal, sabe-se que uma das marcas da narrativa em primeira pessoa é a possibilidade do narrador-personagem poder inventar o que quiser, distraindo e moldando a história conforme suas necessidades.

Heitor é tão confiável quanto eu ou você. Paulo Sérgio Moraes consegue desenhar personagens que vão além do papel. Não se trata de dominar a técnica da escrita e simplesmente delimitar alguns traços de personalidade para os personagens, mas de senti-los vivos como seres humanos reais, nos colocando em suas peles e imaginando outras pessoas com as quais já passaram ou poderiam passar em nossas jornadas com essas mesmas características – verossimilhança que nos faz questionar cada uma de suas ações e refletir.

“Maldito tempo capaz de fazer da proteção uma ameaça, transformar o amor em revolta, conduzir o desejo à insanidade, manchar a pureza com sangue e de acordar nossos demônios interiores!”.

Além do narrador-protagonista, entre os personagens principais estão Fred e Ísis. Fred é um rapaz gay que está precisando de um transplante de rim e se encanta por Heitor desde o primeiro instante em que seus olhos se encontram. Ao mesmo tempo em que sua condição o deixa fragilizado, sua personalidade é forte e ele é muito teimoso. Já Ísis é uma adolescente doce e apaixonada por seus livros, sempre com a cabeça nos universos da ficção tornando-a tão distraída – fixação de todo bom leitor  que por acaso a torna responsável por juntar os três personagens. Difícil é não se identificar com pelo menos um ou mais dos personagens do livro, visto que cada um passa por seus dilemas, conflitos internos e mantêm seus segredos, e esses vícios e virtudes são os que os tornam mais humanos, e em determinados momentos servem como um lago espelhado, onde nos vemos e desejamos mergulhar em paz ou pular para que o reflexo seja perturbado.

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Em um primeiro olhar, Olho Grego é visto como algo completamente diferente de Condicional. Basta mergulhar mais um pouco na leitura para perceber que a essência do autor permanece a mesma e o seu estilo está cada vez mais lapidado. Apesar de as duas obras se tratarem de romances urbanos, dá para notar o amadurecimento da escrita. As linhas que conectam os dois romances não são tão invisíveis. É quase como pegar duas metades assimétricas e encaixá-las e perceber que em seu núcleo estará a força criadora que movimenta o escritor e permite sua versatilidade.

“Começava sempre igual. O corpo trêmulo, as paredes se distanciando, a leveza... Involuntariamente, eu era arremessado para fora do presente como num filme de ficção científica. Eu revivia momentos como se a memória ganhasse solidez. Eu sentia tudo novamente... Os medos, as dores, a solidão”.

Paulo Sérgio Moraes já declarou não gostar de definir sua obra como literatura gay (em um bate-papo mediado por mim com outros escritores LGBTs) talvez pela limitação que traz o rótulo. Olho Grego proporciona imersão de forma que é impossível não deixar se levar pela leitura e o autor acaba ajudando a desconstruir alguns preconceitos, que vão além da homofobia e estão enraizados na sociedade brasileira, brincando com as expectativas e perspectivas do leitor e rompendo limites. O autor vai muito além de contar uma boa história que possa nos entreter, ele sabe que a literatura também é uma ferramenta para crítica social.

O escritor tem predileção por anti-heróis. Não é muito difícil se imaginar na pele de Heitor, afinal, quem é que nunca se sentiu meio sem rumo, percebendo que estava na hora de buscar por transformações? E quanto mais mergulhamos no passado do personagem, mais sentimos compaixão por coisas que à primeira vista poderiam nos revoltar. Aliás, essa mesma surpresa com as revelações e reviravoltas acontecem com todo o núcleo principal da narrativa, fisgando o leitor para outra direção, quando menos esperamos – uma ótima prova de que o texto é vivo e passa por metamorfoses, como os personagens, os leitores e o autor – e que precisamos tomar cuidado com as primeiras impressões.

“Antes que meus olhos se fechassem, ainda podia ouvir ao longe e repetidas vezes: “Eu sinto muito. Fizemos tudo o que foi possível...”. Não havia o que fazer a não ser viajar pelos meus próprios labirintos. Talvez as lembranças me forçassem a entender quando foi que as coisas perderam o sentido”

Paulo brinda o leitor com uma história de amor marcada pelo realismo urbano da capital paulista com uma pitada de mel das flores de Holambra, juntando o melhor dos dois mundos, brincando com o equilíbrio do início ao fim – algo se perde, algo se acha; algo se quebra; algo se conserta –, como pede a vida. O romance ensina... Seja para cuidar de si mesmo ou das pessoas mais próximas, o melhor e mais poderoso talismã (ou olho grego) que poderíamos carregar em nossos peitos ainda é o amor.

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Sobre o autor – Paulo Sérgio Moraes, atualmente cursando Letras, é formado em Cinema com especialização em Marketing. Após a publicação do seu primeiro livro, Condicional, houve um processo de dois anos para a conclusão de sua segunda obra. Olho Grego é o seu segundo romance. Paulo também organizou junto com Guilherme Oli o livro Remetente N.15.

O livro Olho Grego pode ser comprado no site oficial do escritor Paulo Sérgio Moraes [http://www.paulosergiomoraes.com.br/

Curta a página do escritor no Facebook: https://www.facebook.com/OliEMoraes/ 

Bônus:

Resenha de Condicional – Paulo Sérgio Moraes

Entrevista: Paulo Sérgio Moraes, autor do livro Condicional

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Comentários

  1. Maravilhosa! Um olhar sensível e atento como sempre. Obrigado, Ben!

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    1. A gratidão é recíproca, Paulo!
      Uma leitura e uma resenha sempre possibilitam trocas maravilhosas.
      Abraço

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