Originalmente publicado em 2014, o livro de terror
O Menino que Desenhava Monstros (The Boy Who Drew Monsters), do autor
Keith Donohue, de 260 páginas, chegou ao Brasil em 2016, publicado pela
editora DarkSide Books, com tradução de Cláudia Guimarães. O romance explora a história de uma família e como a condição de seu filho os transportam para uma
atmosfera sombria e cheia de mistérios.
“Ultimamente, os monstros vinham persegui-lo dentro dos sonhos. Eles pousavam suavemente a mão em seus ombros. Sussurravam em seus ouvidos enquanto ele dormia. E o menino acabava acordando, mas não encontrava nada nem ninguém” – Keith Donohue
Desde o prólogo, Keith Donohue dá um gostinho do que vem a acontecer na narrativa. Um garoto que vive em uma casa que era um sonho dos pais, na qual ele é atormentado pelos monstros e pesadelos. São esses comportamentos repetitivos que movimentam a história e nos levam para flashbacks, permitindo entender algumas ações do presente e o contexto dos personagens principais.
Jack Peter é um garotinho que tem Síndrome de Asperger, uma condição psicológica (com algumas semelhanças do autismo) que desde a manifestação dos primeiros sintomas provocou uma ruptura em sua família, seja pelas expectativas frustradas dos pais ou pelas dificuldades de como eles devem reagir diante das crises do filho. Ele acorda com pesadelos, passa maior parte do seu tempo sozinho e, por vezes, tem comportamentos agressivos – o terror psicológico e o
terror sobrenatural andam de mãos dadas em O Menino que Desenhava Monstros, combinação que torna a trama mais excitante à medida que a história vai desenrolando.
“Não tenha tanta certeza sobre as coisas que não pode ver. A mente conjura o mistério, mas é o espírito que fornece a chave” – Keith Donohue
O romance é narrado em terceira pessoa, dividido em cinco partes e os capítulos intercalam os pontos de vista dos personagens principais, proporcionando diferentes olhares e experiências sobre os mesmos acontecimentos contados. Essa repetição de cenas, no entanto, não se torna cansativa, já que a cada fragmento, além de apresentar outra perspectiva, também possibilita ao leitor juntar as peças e tentar captar melhor o que se passa com a família Keenan. É como se pudéssemos acompanhar diferentes câmeras seguindo os personagens, gravando e reproduzindo e estes movimentos de idas e vindas aumentam a tensão e o
suspense da narrativa.
Tim Keenan é o pai de Jack ou Jip, como ele costuma chamar o garoto. O homem tem suas próprias frustrações e, muitas vezes, parece incapaz de aceitar a
condição do filho, sempre torcendo para que um dia Jack acorde melhor, mas sem tomar decisões práticas necessárias para a melhora dele. Mas a mãe, Holly sabe que a cada dia que passa Jack está perdendo o controle e quanto mais velho ele vai se tornando, também fica mais forte e isso a deixa preocupada em relação às futuras crises. Esses desencontros entre as opiniões dos pais levam a outros conflitos secundários, que dão mais densidade ao romance e uma apimentada.
“Os ossos estavam dançando em sua imaginação desde a véspera do Natal. De onde vinham aquelas imagens insistentes, Jack Peter não sabia. Às vezes, uma imagem surgia do nada, e ele se sentia obrigado a colocá-la no papel o mais rapidamente possível. Outras vezes, ele desenhava coisas apenas porque queria, e essas eram as imagens que controlava. Mas, nos últimos tempos, essas imagens surgiram sem ser convidadas”. – Keith Donohue
Outro personagem-chave da história é Nicholas ou Nick, filho de Fred e Nell Weller, que são amigos da família Keenan. Com pouquíssimos amigos, Nick e Jack cresceram juntos e quanto mais mergulhamos no passado dos dois, mais vemos que não há coincidências nestes jogos e brincadeiras. O destino da família Keenan está traçado e ligado ao da família Weller – alguns esqueletos não conseguem ficar para sempre no armário.
Fantasmas, monstros, criaturas... Os planos se entrecruzam e diante do perigo, o ceticismo é desafiado.
Stephen King já dizia que monstros são reais. O Menino Que Desenhava Monstros explora o medo. O que provoca terror em mim nem sempre pode não ser tão assustador para você, mas todos somos tocados pelos horrores do inexplicável. Quando coisas estranhas começam a acontecer e ninguém mais sabe o que é imaginação, alucinação, pesadelos ou realidade, o leitor é levado para o universo de Jack Peter – se em alguns momentos pode parecer confuso para a gente, imagina para o personagem. Não chega a ser algo que atrapalha a nossa imersão. Para quem gosta dos fantasmas da mente humana e sua ponte com o terror fantástico, assim como em
A Menina Submersa, essas especificidades do personagem que acabam influenciando a narrativa, como uma lente, só vem a enriquecer e moldar a linguagem, ditar o ritmo e proporcionar uma experiência de imersão.
“Amigos imaginários costumam partir sem se despedir. No outro travesseiro, à sua frente, jazia deitada a cabeça de Nicholas Weller. Jack Peter queria esticar a mão e cutucar a bochecha do amigo com o medo, mas, se aquele fosse Nick de verdade, ele poderia ficar bravo. Por outro lado, até amigos imaginários podem perder a paciência” – Keith Donohue
Keith Donohue escreveu um romance de terror que envolve o leitor de forma que, assim como Jack fica preso dentro de sua própria mente – ou pelo menos é o que seus pais acham –, difícil é não se deixar seduzir pelas sereias que cantam em nossos ouvidos e guiam nossas mãos dos próprios desenhos que fazemos da vida. Alguns monstros são mais monstros do que outros? Entre criaturas que escutam nossos medos e sussurram coisas que não queremos ouvir, em O Menino que Desenhava Monstros percebemos que os
humanos ainda são os mais assustadores.
Sobre o autor – Keith Donohue é o autor do best-seller The Stolen Child, além de The Angels of Destruction e Centuries of June. Seus livros já foram traduzidos para mais de doze idiomas. O Menino que Desenhava Monstros chamou tanto a atenção do público que rapidamente teve seus direitos vendidos para o cinema. O autor, que tem Ph.D. em Inglês pela Catholic University of America, vive em Maryland. Saiba mais em
keithdonohue.com.
Garanta o seu exemplar de O Menino que Desenhava Monstros, de Keith Donohue!
*O livro foi enviado pela editora DarkSide Books, parceira do Blog do Ben Oliveira, para que eu pudesse ler e resenhar para os leitores.
PS: Para quem acompanha as outras publicações da DarkSide Books, é possível estabelecer um diálogo delicioso entre as leituras.
Ficou com vontade de ler O Menino que Desenhava Monstros? Comente!
O meu está para chegar e, naturalmente, estou ansioso para ler. Com a leitura da sua resenha aguçou ainda mais a vontade. Grande abraço.
ResponderExcluirhttp://tomoliterario.blogspot.com.br/
Olá, Tomo Literário!
ExcluirQue bom te ver por aqui. Uau. Fico feliz que a resenha tenha te deixado mais animado para ler. Depois conte o que achou e/ou me marque se for resenhar no teu blog literário também.
Abraços
Não conhecia teu blog, mas vi nas recomendações do Ronaldo (do porque livro nunca enguiça) e resolvi dar uma checada. Ótima resenha. Pela capa parece que essa é mais uma dessas lindas edições que a darkside books vem nos trazendo. Sabe se tem outros romances do autor lançados por aqui? (ou alguma previsão). Um abraço. naciadelivros.blogspot.com.br
ResponderExcluirOi, Rafael! Pelo visto, saiu A Criança Roubada (The Stolen Child) por aqui. Fiquei curioso para ler também.
ExcluirObrigado pela visita.
PS: O blog do Ronaldo tem um conteúdo excelente.
Abraços
Legal. Bom saber. Eu já encomendei o meu exemplar do "menino que desenhava monstros" e "em algum lugar nas estrelas", ambos publicados aqui sob a caveirinha da Darkside. Estou com boas expectativas para essas leituras.
ExcluirUm abraço
Eu quero esse livro desde que ele surgiu e essa foi a melhor resenha dele que já li *o*
ResponderExcluir#euquero
Eu estou viciada em terror, principalmente o psicológico!
Nunca tenha dúvidas que um humano é capaz de atrocidades maiores que qualquer fantasma ou demônio ;)
http://blogmundodetinta.blogspot.com/
Oi, Agatha!
ExcluirGratidão pela leitura. Fico feliz que tenha gostado da resenha do livro O Menino que Desenhava Monstros. Super recomendo a leitura! Se você gosta de terror psicológico, então, é um prato cheio.
Abraços
Olá Ben! Ainda não conhecia esse livro, mas a sua resenha despertou meu interesse... Adoro livros com essa pegada sobrenatural e que nos aguça a curiosidade!
ResponderExcluirGrande abraço
eventualobradeficcao.blogspot.com.br
Oi, Roberta!
ExcluirMuito bom saber que a resenha te deixou interessada no livro. Para quem gosta desta temática, O Menino que Desenhava Monstros consegue nos levar para este universo desconhecido de terror psicológico e sobrenatural.
Abraços!
Obrigado pela visita ♥
Oi, Ben! Sua resenha sobre esse livro foi a melhor que já li, até agora. Adorei o texto e a forma que você conseguiu me convencer a lê-lo.
ResponderExcluirBjs,
Jess, do blog A Rosa do Príncipe.
www.arosadoprincipe.blogspot.com.br
Oi, Jéssica!
ExcluirFico muito feliz que tenha gostado da resenha! Espero que sua leitura seja prazerosa, caso aposte em ler O Menino que Desenhava Monstros.
Gratidão pelo comentário.
Beijos