A leitura como terapia. Que os livros podem nos ensinar muitas coisas, não é nenhuma surpresa. Para algumas pessoas, as obras literárias acabam sendo mais do que uma atividade prazerosa e reflexiva, mas também uma oportunidade de conhecer mais sobre seus conflitos, dilemas, personalidades e possibilidades. A artista
Ella Berthoud e a escritora
Susan Elderkin compartilham mais de 400 indicações de leitura em seu livro
Farmácia Literária (The Novel Cure), inspirado no serviço de
biblioterapia oferecido pelas pesquisadoras pela internet ou presencialmente. No Brasil, a obra foi publicada pela Verus Editora, com tradução de Cecília Camargo Bartalotti.
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O que começou como uma troca de recomendações de livros, cresceu para um projeto maior para o
The School of Life, uma companhia educacional criada pelo escritor, documentarista e filósofo
Alain de Botton. Berthoud e Elderkin
falam de forma tão envolvente sobre o poder da ficção de nos fazer conhecer outras realidades e refletir sobre nossas próprias vidas, que é difícil não despertar o
interesse pela leitura, mesmo quando são obras literárias que você já leu.
A verdade é que em um universo de livros disponíveis, muitas pessoas precisam de uma orientação. Desde os tempos antigos, os livros têm sido usado como uma forma de proporcionar conforto, coragem,
relaxamento e catarse – limpar a alma, a mente e o coração, para que o corpo continue funcionando bem. Sou o tipo de leitor que gosta de traçar minha própria jornada, mas acredito que vez ou outra, todos nós podemos aprender mais sobre a literatura com os outros, além de ser uma ótima forma de conhecer os gostos literários, o que move cada um e trocar impressões, afinal, duas pessoas não leem o mesmo livro de maneira igual.
“O fato é que simplesmente não se pode esperar ler todos os livros que existem. Nem mesmo todos os bons livros. Se pensar no tamanho da leitura que existe lá fora deixa você em pânico, respire fundo. A seletividade extrema é a única solução [...] Um bom livro, lido no momento certo, será edificante, inspirador, energizante e vai deixá-lo ansioso por mais. Com tantos livros para escolher, qual o sentido de ler mais um sequer que o deixe indiferente?” – Ella Berthoud e Susan Elderkin, Farmácia Literária
Embora os livros não tenham efeito para curar a doença de ninguém, não é por acaso que muitas pessoas se reconectam com a leitura quando estão doentes, seja como uma forma de combater a solidão, de se distrair um pouco, de recarregar as energias ou de tirar um tempo para se autoconhecer melhor. Livros podem servir como espelhos, que nos levam em uma viagem para outros universos. Existem pesquisas que demonstram que a literatura pode nos tornar mais empáticos, por exemplo. Ao lidar com personalidades diferentes e conhecer seus históricos, o leitor se coloca no lugar do personagem e quebra um pouco da visão unilateral das coisas: relacionamentos e pessoas são complexos.
Em tempos de tantas transformações, um dos alívios sentidos na leitura é o de descobrir que personagens e personalidades de diferentes épocas passaram por situações difíceis e sobreviveram de algum jeito. Embora a velocidade das mudanças esteja cada vez maior e alguns debates sociais se adequam à nossa época, há tanto o que podemos aprender com os livros: a literatura, geralmente, retrata problemas universais. Você pode não se ver em um personagem em determinado conflito, mas, sem dúvidas, dá para reconhecer alguém nele, e isso te ajuda a compreender melhor os problemas e te lembra que as pessoas reagem de formas diferentes às situações. Ao aprender a perdoar ou a reconhecer os vícios e virtudes dos outros, você tem mais ferramentas para lidar consigo mesmo.
“Quem é você, leitor? Pai ou mãe, profissional, estudante, filho? Você é sempre você mesmo, ou tem duas facetas – uma que mostra apenas para certas pessoas e outra que exibe para todos os demais? Ou você sente que seu “real” jamais vê a luz do dia? A literatura está cheia até o pescoço de pessoas com crise de identidade, seja por perda de memória, crise psiquiátrica ou algum outro processo mais inexplicável” – Ella Berthoud e Susan Elderkin, Farmácia Literária
Uma das surpresas boas ao ler Farmácia Literária foi descobrir que as autoras recomendaram alguns livros de escritores portugueses e brasileiros. Achei bem interessante, pois mesmo com uma forte resistência dentro do próprio país aos livros nacionais, as autoras internacionais citaram alguns títulos. A quantidade de livros citada é bem menor em relação aos livros da literatura inglesa e norte-americana, ainda assim esse cuidado, acaba servindo para aproximar os leitores brasileiros, seja ao reconhecer os títulos e autores e/ou ao perceber que a literatura brasileira é lida por pessoas de diferentes lugares do mundo. Consumimos tanta literatura estrangeira, que é gratificante saber que nossos produtos culturais também ultrapassam as fronteiras.
Além das indicações de livros, as autoras também deixam dicas relacionadas à leitura, entre elas como lidar com a aflição da quantidade de livros em sua casa e de livros publicados pelo mundo, a dificuldade de se lembrar das histórias lidas, pessoas que preferem fazer qualquer coisa a ler livros e outras informações que podem ser interessantes para quem lida com algumas angústias relacionadas ao universo literário, muitas vezes, compartilhadas em grupos virtuais sobre livros, como usar o livro sem torná-lo um objeto intocável por meio de anotações e marcações e doar livros que estão parados na estante para amigos, bibliotecas e instituições de caridade.
“Livros existem para compartilhar seu mundo com você, não como belos objetos a ser guardados para algum outro dia. Imploramos que você dobre, abra e rabisque sues livros sempre que tiver vontade. Sublinhe as partes boas, exclame “ISSO!” e “NÃO!” nas margens [...] Na próxima vez em que abrir o livro, você poderá encontrar as partes que o fizeram pensar, rir e chorar na primeira vez” – Ella Berthoud e Susan Elderkin, Farmácia Literária
O trabalho de Farmácia Literária deveria ser mais incentivado pelo mundo e distribuído para bibliotecas de muitos países. Acredito que no Brasil, o conceito poderia ser bem interessante de ser aplicado e seria uma forma não só de ajudar a aumentar o
índice de leitura do país, como mostrar para quem não faz ideia de por onde começar, uma espécie de guia. Seria bacana se mais livros brasileiros fossem indicados na biblioterapia – ou até mesmo em países em que a literatura não é tão valorizada; uma ótima forma de valorizar os escritores nacionais, que também lidam com seus próprios conflitos e doenças, muitas vezes, causados pela falta de reconhecimento, de visibilidade e de remuneração profissional.
Livros não substituem remédios ou tratamentos em casos graves, mas existem
estudos que já provam os seus benefícios para a mente. Seja pelo entretenimento ou pelo bem-estar, seria interessante que mais pesquisas fossem realizadas para entender como a biblioterapia pode ser benéfica para os seres humanos e, quem sabe, não pode se transformar em uma estratégia complementar para ajudar a
melhorar a saúde como um todo e diminuir um pouco do adoecimento e os seus gastos. Levando em conta que os livros são relativamente acessíveis – o que também desperta a importância de se investir em mais distribuição e bibliotecas –, Ella Berthoud e Susan Elderkin deixaram uma obra bem relevante para o mundo, que demonstra que por mais que seja uma delícia se perder nas páginas de um bom livro e desacelerar um pouco, quando bem direcionado, também pode ser fonte de mais benefícios do que imaginamos.
Sobre as autoras: Ella Berthoud e Susan Elderkin se conheceram quando estudavam literatura inglesa na Universidade de Cambridge, onde começaram a trocar indicações de romances que percebiam que a outra precisava de um incentivo. Mais tarde, Ella foi estudar belas-artes e se tornou pintora e professora de artes, enquanto mantinha sua dieta literária. Susan se tornou escritora de ficção e, em 2003, foi incluída pela Granta na lista dos vinte melhores jovens romancistas britânicos. Ela também ensina escrita criativa e escreve artigos sobre viagens e resenhas de livros para diversos jornais.
Em 2008, Ella e Susan montaram um serviço de biblioterapia na The School of Life, em Londres, e desde então prescrevem livros, virtual ou pessoalmente, para pacientes no mundo todo. Embora hoje estejam separadas por um oceano – Ella em Sussex, Inglaterra, e Susan em Connecticut, Estados Unidos –, elas ainda indicam uma à outra curas literárias para se manter na linha e garantir que vivam a vida ao máximo.
Conheça o site do projeto Farmácia Literária (em inglês): http://thenovelcure.com/
E você, já leu o livro Farmácia Literária? Ficou curioso para ler? Compartilhe!
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror
Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem
Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e
O Livro (Vol. 2), disponíveis no
Wattpad
Adorei! Mais um que vai pra lista. Aproveitei pra fuçar por aqui e vi que não seguia o seu blog. Como assim? Mas o problema já está resolvido. rsrsrs. Excelente resenha, Ben. Forte abraço.
ResponderExcluirOi, Eudes! Haha Esse lance de não estar nos seguidores do blog, foi que eu tinha desativado o Google Friend Connect. Vai entender, o próprio Google tinha desativado a função, aí ressuscitou de novo, aí acabei colocando de volta aqui no blog. Gratidão pelo apoio de sempre! Tenho certeza de que você vai gostar muito desse livro!
ExcluirAbraços