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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Biblioterapia: A leitura de livros para terapia, autoconhecimento e prazer

Já parou para pensar em como os livros têm efeitos positivos sobre nós? Leitores buscam livros nos momentos felizes e também nos tristes, seja na saúde ou na doença, para quem tem o hábito, a leitura nos acompanha em diferentes fases da vida e não só proporciona uma ótima experiência de sair um pouco de nossas zonas de confortos e conhecer outros pontos de vista, mas também nos faz confrontar com personagens que passaram por problemas semelhantes e a entender diferentes sentimentos, pensamentos e desejos.


Leia também: Resenha do livro Farmácia Literária

Existem estudos que já mostraram os benefícios da leitura para a mente e de como ler um livro pode ser mais relaxante do que outras atividades. Alguns profissionais têm se dedicado a se aprofundar na biblioterapia, uma forma de terapia que adota materiais de leitura para melhorar a saúde mental. A pintora e professora de artes Ella Berthoud e a escritora de ficção e professora de escrita Susan Elderkin montaram um serviço de biblioterapia e prescrevem livros para pacientes do mundo todo. No Brasil, a editora Verus publicou o livro Farmácia Literária, das biblioterapeutas, no qual elas deixam mais de 400 recomendações de livros para diferentes problemas e situações.


“A biblioterapia já é popular na forma de livros de autoajuda há várias décadas. Mas os amantes da literatura vêm usando livros de ficção como elixir – consciente ou subconscientemente – há séculos. Na próxima vez em que você sentir necessidade de um estimulante – ou precisar de ajuda com algum enrosco emocional –, pegue um romance. Nossa crença na eficácia da ficção como a melhor e mais pura forma de biblioterapia se baseia em nossa própria experiência com pacientes, incentivada por uma avalanche de evidências factuais. Às vezes é a história que encanta; em outras é o ritmo da prosa que funciona sobre a psique, acalmando ou estimulando. Às vezes, é uma ideia ou uma atitude sugerida por um personagem em dificuldade ou dilema semelhante. Seja como for, os romances têm o poder de nos transportar para outra existência e nos fazer ver o mundo por outra perspectiva. Quando se está entretido em um romance, incapaz de desviar os olhos da página, está-se vendo o que o personagem vê, tocando o que ele toca, aprendendo o que ele aprende. Podemos pensar que estamos sentados no sofá da sala de estar, mas partes importantes de nós – os pensamentos, os sentidos, o espírito – estão em outro lugar, totalmente diferente” – Ella Berthoud e Susan Elderkin, Farmácia Literária 

Antes da internet se popularizar, as pessoas iam atrás de livreiros em busca de recomendações de livros. Os profissionais sabiam indicar obras de acordo com as necessidades das pessoas. No livro A Livraria Mágica de Paris, da escritora alemã Nina George, o protagonista do romance é Monsieur Perdu, um homem que tem um barco-livraria e se considera um farmacêutico literário. O que é bem interessante nesta obra literária, é que ao mesmo tempo em que ela explora o papel dos livros como forma de apaziguar as angústias humanas, o próprio livreiro tem seus desafios e passa por conflitos. Ele é capaz de indicar o livro perfeito para as pessoas, mas quando se trata dele mesmo, Perdu precisa reaprender a encontrar os prazeres da vida.

“Ler é uma viagem sem fim. Uma viagem longa, até mesmo eterna, na qual nos tornamos mais brandos, mais carinhosos e mais humanos” – Nina George, A Livraria Mágica de Paris 

“Quando Monsieur Perdu via os livros, não enxergava apenas histórias, preço de capa sugerido e um bálsamo essencial para alma. Ele enxergava liberdade com asas de papel” – Nina George, A Livraria Mágica de Paris

Quando prestamos atenção nas leituras, vimos que assim como é para o livreiro, o livro é muito mais do que um produto. Não é à toa que desde os tempos antigos, as bibliotecas foram apreciadas. Os filósofos, poetas e escritores costumavam e ainda descrevem a leitura como um alimento para a alma. Em um país como o Brasil, em que o índice de leitura ainda tem muito a melhorar, me questiono se a literatura não poderia contribuir para ter uma vida com melhor qualidade para mais pessoas. Apesar dos problemas sociais e financeiros recorrentes, já dizia a música que a população não quer só comida, quer também diversão e arte.

Mesmo que no país ainda existe um preconceito forte com algumas leituras, cabe ao leitor construir sua própria jornada. Um dos escritores brasileiros com mais livros vendidos pelo mundo, Paulo Coelho tem suas obras recomendadas por inúmeras pessoas. Quando se trata da biblioterapia, o seu romance Veronika Decide Morrer é recomendado para leitores com depressão e outros transtornos. Em uma crise existencial, a personagem principal da história acaba sendo internada contra a vontade dela em uma instituição. O livro foi inspirado na experiência de Paulo Coelho, que devido a alguns problemas de comportamentos e das dificuldades de se encaixar nos padrões sociais da época, foi internado várias vezes a pedido do pai.

A obra não só explora a ficção, como toca em várias feridas existenciais com base nas vivências do autor. Além de abordar a rotina no manicômio e retratar como alguns pacientes não melhoravam não só por conta de seus transtornos, como pela dinâmica do ambiente, Paulo Coelho escreveu um livro que foi uma contribuição para mostrar o quanto esses tratamentos e a internação compulsiva poderiam ser danosos. No final das contas, diante de desafios e doenças, a leitura serve como um instrumento de se reconhecer no outro e perceber que não estamos sozinhos e que outras pessoas também passam por situações difíceis e encontraram saídas.


Veronika Decide Morrer mostra a depressão além da questão estrutural e química do cérebro, humanizando o paciente e descrevendo o impacto da vida social. A própria biografia do Paulo Coelho serve como um exemplo de como nossas escolhas têm impacto em como nos percebemos e somos percebidos pelos outros – sua obsessão por se tornar escritor, os desencorajamentos por parte da família e as dificuldades de ser um autor no Brasil. Ele não só conseguiu conquistar seu sonho de espalhar suas histórias pelo país, como se tornou conhecido pelo mundo todo.

“Acreditava ser uma pessoa absolutamente normal. Sua decisão de morrer devia-se a duas razões muito simples, e tinha certeza que, se deixasse um bilhete explicando, muita gente ia concordar com ela. A primeira razão: tudo em sua vida era igual, e – uma vez passada a juventude – a tendência era que tudo passasse a decair, a velhice começasse a deixar marcas irreversíveis, as doenças chegassem, os amigos partissem. Enfim, continuar vivendo não acrescentava nada; ao contrário, as possibilidades de sofrimento aumentavam muito. A segunda razão era bem mais filosófica: Veronika lia jornais, assistia TV, e estava a par do que se passava no mundo. Tudo estava errado, e ela não tinha como consertar aquela situação – o que lhe dava uma sensação de inutilidade total” – Paulo Coelho, Veronika Decide Morrer

Dos clássicos aos contemporâneos, os livros são fonte de conforto, mesmo quando nos incomodam ao apertar os cortes que ainda não cicatrizaram. Assim como alguns personagens seguem sua própria jornada de desenvolvimento, nós, leitores, passamos por várias etapas ao virar das páginas. Esse movimento duplo de mistura das vivências dos personagens e dos momentos reflexivos de nossas existências ajuda a somar à nossa bagagem e nos dão suporte para entender que existe esperança.



Seja na ficção ou em livros de crônicas, cartas, memórias e ensaios, mergulhamos em nossas almas ao desvendar o que move o espírito dos outros. Independente da temática, há sempre algo para aprender na leitura. Nenhum livro é capaz de substituir tratamentos, mas pode ser uma forma complementar e humana de entender que somos complexos e que todos nós estamos sujeitos a passar por conflitos interiores e sermos influenciados por nossos mundos internos e externos. Os livros nos dão validação, por isso é tão importante que exista representatividade e diversidade na literatura. Queremos nos ver nos personagens e saber que não estamos sozinhos nesse barco da vida.

Para quem torce o nariz para livros de autoajuda, vale lembrar que mesmo essas obras conseguem dialogar com a literatura e, muitas vezes, trazem referências. Assim como existem gêneros literários que não são tão comuns para alguns leitores, mas têm um papel tão importante. Nos últimos anos, por exemplo, li duas graphic novels sobre assuntos que não estamos acostumados a ler em obras literárias e devem ser mais discutidos, como a questão da inclusão. A obra Não Era Você Que Eu Esperava, do Fabien Toulmé, por exemplo, fala sobre a descoberta de um pai de que sua filha nasceu com Síndrome de Down e A Diferença Invisível, de Julie Dachez e Mademoiselle Caroline, aborda a Síndrome de Asperger (Transtorno do Espectro Autista).

Mesmo com tantas informações e milhares de livros publicados, há tantas questões desconhecidas e que podem ser mais exploradas se sairmos da zona de conforto. Podemos nos tornar nossos próprios biblioterapeutas e descobrir que, independente dos conflitos, alguém em algum lugar, seja real ou ficcional, passou pelo mesmo. Defender o livro não se trata de uma estratégia de mercado, mas de reconhecer que são uma forma de entretenimento, de buscar informações e não deixam de ser um remédio para a alma.


A leitura proporciona a autoexaminação, promove o autoconhecimento e não deixa de ser uma ferramenta relativamente acessível ao público, nos lembrando da importância de valorizar as bibliotecas físicas e virtuais para todos, não só para a população que não tem condições financeiras. Os egípcios sabiam disso. Uma das bibliotecas tinha como lema: “A casa da cura para alma”. Há vários séculos os livros têm sido usados como terapia.

Incentivar a leitura vai além do ego ou de saber que quanto mais pessoas lerem, o mercado editorial continuará vivo e mais escritores poderão continuar se dedicando ao ofício – incluindo este que aqui escreve; também não é só uma forma de incentivar a paixão pelos livros e encontrar outros bibliófilos, mas de reconhecer que a atividade tem várias faces (intelectual, prazerosa e motivacional) e pode e deve ser mais explorada.


Veja também: Literatura e Saúde Mental: Relação entre a leitura e o bem-estar será explorada em curso online

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad.

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