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Destaques

Observando Estrelas

As estrelas continuavam brilhando no céu, mas não conseguia alcançá-las. Havia encontrado uma estrela tão brilhante, mas quando tentou aproximar a visão, percebeu que ela já estava ao lado de outra estrela. Entre a surpresa e o choque, logo tentou se esquecer do que havia visto: era a única coisa que restava a fazer. A empolgação inicial de encontrar estrelas dera espaço a uma certa preguiça misturada à letargia. Sabia que elas estavam em algum lugar, bastava o tempo certo para que elas aparecessem, mas já não se sentia tão confiante em sua busca e pensara que ter ficado preso o suficiente em outros formatos estava atrapalhando seus êxitos. Queria uma estrela que servisse como uma musa, algo praticamente impossível de encontrar, mas que sabia que estava ali em algum lugar esperando por ele. Talvez as expectativas fossem altas e irreais, mas depois de se queimar e gelar pela realidade era tudo o que precisava. Estrelas, novas, brilhantes, estrelas que ainda não haviam tocado seu coração...

Síndrome de Asperger: Orgulho autista e hiperfoco

18 de Junho é Dia do Orgulho Autista. Hoje cedo perguntaram em um grupo de autismo qual era o lado positivo de ter Síndrome de Asperger, pois as pessoas sempre se focam no lado negativo. Temos interesses que podem se tornar hiperfocos. Como somos curiosos, nós mergulhamos fundo na pesquisa. Enquanto muitos neurotípicos (não-autistas) param na superfície.


O lado bom, sem dúvidas, são o conhecimento e a curiosidade; o lado negativo (para alguns) é que podemos falar sem parar sobre o que gostamos e incomodar. Isso dá a impressão de que somos prepotentes, mas muitas vezes está relacionado ao fato de que não gostamos de ser corrigidos se a pessoa não faz ideia do que está falando.

Aliado ao fato de que aspies são hipersinceros e têm dificuldade para mentir, podemos parecer arrogantes e aprendemos a nos controlar — temos dificuldades até mesmo com mentiras sociais (aquelas pequenas mentiras do dia a dia, então, por isso tenho o hábito de perguntar se a pessoa quer a sinceridade ou a verdade pela metade).

Já tive problemas com professores que me faziam pesquisar coisas, só porque eles não sabiam o assunto e achavam que eu estava provocando/afrontando a autoridade, quando era simplesmente minha curiosidade.

Aproveito para lembrar que o hiperfoco não é exclusivo de áreas de exatas e ciências, que nem todo autista é fissurado por números e dinossauros. Existem autistas na área artística e que são terríveis com números, pois não são algo do seu interesse – assim como acontece com neurotípicos (não-autistas), muitas vezes, somos puxados para uma direção e isso descompensa a outra, logo estamos longe de sermos gênios como é pintado na mídia. A visão diferente de mundo de autistas e seu foco específico, muitas vezes, tornam peculiares suas produções.



A data foi criada pelo grupo Aspies for Freedom, formado por autistas ativistas com o propósito de mostrar também o lado positivo do autismo. Diferente do mês de abril, usado para a conscientização, em junho, a ideia é celebrar a neurodiversidade e as diferenças.

“É importante para nós passar o dia curtindo nosso autismo com a família e amigos, seja online ou offline, porque há muita mídia negativa sobre o autismo e nós achamos que é importante reequilibrar com eventos positivos” – Aspies for Freedom

Vale lembrar a importância de consumir conteúdos produzidos por autistas. A diferença de pontos de vista é gritante. Alguns livros sobre autismo têm uma visão que incomodam autistas, especialmente adultos. Por isso tão importante quanto ler sobre o assunto, para entender melhor a condição neurológica diversa, é ler o texto e assistir vídeos de outros autistas. Já bati nessa tecla, mas vou repetir: muitos comportamentos são normais para autistas, por isso a identidade autista é importante.

Alguns livros sobre autismo descrevem autistas de maneira estereotipada e pouco exploram o efeito das sensibilidades e como elas influenciam nossos comportamentos: uma simples ida ao shopping pode ser um inferno para o autista porque é um ambiente repleto de estímulos em todos cantos: odor, luminosidade, música e barulho, movimentos e por aí vai. Para quem quiser entender um pouco:



Algumas expressões são bem ofensivas em livros sobre autismo e psicologia. Autistas ativistas estão lutando para que a condição seja descrita de forma mais humana e menos patológica, até porque o autismo não é uma doença, é uma condição neurodiversa. Termos que me irritaram em livros: "movimentos vazios", "egocêntricos", "distraídos por estímulos sensoriais" (sem levar em conta nem mesmo citar a crise pela sobrecarga sensorial), "tem cegueira mental e não se importa", "são ansiosos como todos nós podemos ficar" (mais uma vez, sem explicar o papel da sobrecarga sensorial na ansiedade e sem considerar que existem vários fatores que podem piorar a ansiedade em autistas que não estão presentes em não-autistas), entre tantos outros que não levam em conta que assim como acontece com neurotípicos, autistas podem ser diferentes e também podem se desenvolver.

Fiquei decepcionado ao ler um livro sobre autismo e Síndrome de Asperger, depois de ler um livro de outro especialista mundial em autismo. No livro que eu gostei, Tony Attwood cita as potencialidades e explica que o mundo precisa ser mais inclusivo e não para na faixa da infância e adolescência, explorando a vida adulta da pessoa com Síndrome de Asperger e trazendo relatos e trechos de biografias e autobiografias escritas por autistas, além de citar informações sobre o cérebro e a relação com as comorbidades (outras condições), já que a linha entre o autismo e transtornos de personalidade pode ser bem fina. O livro também fala sobre como o bullying afeta o autista e pode levar ao isolamento social. Infelizmente, o livro não foi traduzido por nenhuma editora para o Brasil.

Já no outro livro, os autores falam de comportamentos socialmente inadequados e citam os autistas em terceira pessoa (sem dar voz a eles para explanar o que estavam sentindo quando tal evento aconteceu, fica tudo no plano da suposição), explicando a importância das medidas corretivas e encerra na fase da adolescência. Apesar do livro ter uma visão científica, ele é totalmente mastigado e superficial e não fala sobre a relação entre as diferentes partes do cérebro e o autismo, dando a impressão de que muitos comportamentos acontecem por birra, egoísmo ou incapacidade de perceber o contexto social, sendo que é algo muito mais complexo e não compreendido por quem tem uma visão externa do assunto. O autista não é distraído porque ele quer, muitas vezes, o excesso de estímulos sensoriais pode atrapalhar a concentração e muitos deles podem ter TDAH (informação que deveria ser mencionada no livro e não é comentada).

Também vale lembrar que o tabu de que não existem adultos autistas precisa ser superado. Autistas também envelhecem. No Brasil, o debate sobre autismo ainda está encaminhando e autistas ativistas têm se posicionado a favor dos direitos e também da necessidade de terem suas vozes escutadas.
***
No vídeo abaixo é possível conferir três trechos do livro Em Algum Lugar nas Estrelas, da escritora Clare Vanderpool, publicado no Brasil pela editora DarkSide Books. O hiperfoco do personagem adolescente são os números e as estrelas. Ele une os dois interesses e inventa uma história. Essas características estão relacionadas ao fato de que muitas pessoas com Síndrome de Asperger podem ser solitárias na infância e adolescência e elas acabam criando temporariamente um mundo de fantasia.

Também fica bem evidente como as outras pessoas não entendem o Early. Ele tem vários comportamentos que são vistos como estranhos pelos outros, como gostar de ouvir determinadas músicas em cada dia da semana, ter amizade com o zelador (já que as outros adolescentes da mesma idade não tentam interagir com ele) e adorar falar sobre números e estrelas quando as outras pessoas não têm o mesmo interesse.

Early também tem dificuldade de se comunicar com o professor. Ele não gosta quando o professor diz algo que ele sabe que está errado sobre matemática e tem uma parte do livro na qual a ousadia dele fica bem explícita. Early só quer contar a história dele e demonstrar que pode ser tão interessante quanto os outros alunos que são admirados por outras habilidades.

Também deixei outros vídeos relacionados à Síndrome de Asperger que foram publicados no meu canal do YouTube:









*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Comentários

  1. Parabéns pelo texto, gostei de ler sobre orgulho autista. Sobre o livro Em algum lugar nas estrelas, eu li e gostei muito. Gostei da relação entre Early e seu amigo, é muito bom encontrar um amigo de verdade que busque nos entender e nos apoie. Early mostrou também ser um excelente amigo.

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    1. Olá, Tayane! Muito obrigado pelo comentário. Em Algum Lugar nas Estrelas trata o assunto com sensibilidade. Acredito que a amizade de verdade ultrapassa fronteiras.
      Abraços

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