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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Autismo: Neurociências, ajustes e discussões que vão além do social

O céu de um autista pode ser o inferno do outro. Somos diferentes em todos critérios. Cada caso é um caso.



Eu ressalto que todo autista deve lembrar disso quando produzir conteúdo. Não adianta achar que existe um modelo único de inclusão, se ao priorizar algumas coisas, você deixa de lado outras. Por isso, abordar a questão do autismo é algo muito complexo. Da mesma forma, que não existe um personagem da ficção ou uma pessoa autista que vai representar o espectro autista inteiro.

Os ajustes que são feitos para alguns, podem ser desajustes para outros. Por isso dizemos que existem vários autismos, independente do grau.

Do mesmo modo que não existem dois autistas iguais, não existem dois aspies iguais (pessoas com Síndrome de Asperger); não existem dois aspies com superdotação iguais (pessoas com Dupla Excepcionalidade). Somos todos diferentes e está tudo bem – a vida não é uma competição.

Sessões adaptadas de cinema, por exemplo, podem ser legais para algumas crianças autistas. Para todas? Talvez não. Existem autistas que são mais hipersensíveis ao movimento e aos barulhos.

O som que pode ser alto para uns, pode ser baixo para outros. A iluminação que pode ser forte para alguns, pode ser fraca para outros. A possibilidade de fazer barulho para uns pode ser legal, para outros, pode atrapalhar a experiência de assistir ao filme.

Não existe receita de bolo quando se trata de autismo. Estar no mesmo espectro autista não exclui toda a diversidade que existe nos critérios de diagnósticos: interação/comunicação social, Comportamento restritivo/repetitivo e processamento sensorial, além de outras questões, como transtornos de aprendizagem, inteligência, epilepsia e outras comorbidades, como ansiedade, depressão, TDAH etc.

Quando falamos de autismo, precisamos levar em conta de que existem alterações no cérebro (é uma condição neurobiológica). Toda generalização sobre autismo precisa ser combatida. 

Alguém pode passar a vida inteira sem remédios; enquanto outros podem precisar de medicação. Alguns podem dirigir, enquanto outros podem não ter a coordenação motora e orientação espacial. Alguns podem ter carreiras brilhantes e as pessoas não se importarem com o autismo (ou esconderem dos outros seus diagnósticos), enquanto outros podem ter dificuldade com a conclusão do ensino escolar e inserção no mercado de trabalho. Alguns podem adorar estudar, enquanto outros podem ter dificuldade com o ambiente escolar.


Eu poderia seguir com os exemplos e ainda não seria suficiente. O autismo influencia a vida inteira da pessoa, desde a nutrição e o sono, as escolhas que faz ou fazem pela pessoa, a autonomia e grau de apoio e por aí vai...

Para quem gosta de receitas de bolos, preciso lembrar que mesmo receitas iguais podem produzir resultados diferentes? 

O ser humano é complexo. O que funciona para um, pode não funcionar para outro, independente de ser autista ou não. No nome de uma busca coletiva, muita gente tem se esquecido das individualidades de pessoas no espectro autista. Se fosse tão simples a questão da inclusão, não estaríamos com tantos problemas de exclusão em pleno 2019.

Dica: Nem sempre é um problema social, muitas vezes, passa por questões neurobiológicas.

Aceitar a Neurodiversidade é também reconhecer que a escola que me inclui, pode excluir o outro. Que eu poderia passar a vida inteira sem um papel de diagnóstico (só tive aos 29 anos), enquanto outros podem precisar desse diagnóstico desde os primeiros anos de vida para que tenham mais oportunidades de estimulação e busca por um pouco de autonomia, entre outros inúmeros exemplos que vão além de uma discussão sobre sociedade e cultura.

Haja paciência para explicar para quem não estuda ou se recusa a entender que dois cérebros autistas podem ser completamente diferentes, independente do grau, logo as necessidades de intervenção também não são a mesma. 

Excluir as questões das neurociências quando se trata de autismo não é uma escolha muito sábia.

Leia também: Autismo e Neurodiversidade: Diferentes necessidades, intervenções e apoios 

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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