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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

CPI da Pandemia: Osmar Terra serviu mais uma dose perigosa de negacionismo científico

Quantas informações falsas e duvidosas alguém é capaz de transmitir em nove horas? Nesta terça-feira, 22 de junho de 2021, o deputado Osmar Terra prestou depoimento à CPI da Pandemia. A sessão revelou a surpresa de alguns senadores diante de um depoente que insistiu em informações sobre a Covid-19 que foram desmentidas ao longo dos meses, irritação diante da previsibilidade e falta de responsabilidade em reconhecer os danos causados por fake news de saúde e bajulação por parte dos que compartilham pensamentos anticientíficos e conspiratórios parecidos – ou que assim o simulam, para proteger o presidente Jair Bolsonaro.

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia era para ter iniciado mais cedo, mas havia resistência por parte do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Após uma ação protocolada no STF pelos senadores Alessandro Vieira e Jorge Kajuru, houve votação e no dia 13 de maio de 2021, foi oficializada a criação.

Embora o tempo todo alguns senadores defensores do Bolsonaro tentem diminuir a credibilidade da CPI da Pandemia, não há dúvidas de que a pressão criada por causa das investigações geraram resultados importantes para a sociedade, como a maior atenção para a vacinação contra Covid-19, os acordos que foram negados pelo governo e as milhares de vidas que poderiam ter sido salvas.

Além disso, o trabalho dos senadores também tem escancarado o que era teorizado sobre os comportamentos de Jair Bolsonaro e tem se tornado cada vez mais evidente: por trás de tantas omissões e ações problemáticas na pandemia, se escondem possíveis interesses financeiros de terceiros e estranhas motivações e aconselhamentos de médicos que negam e/ou desconhecem fatos científicos sobre o Covid-19.

Defensoras da Cloroquina e do tratamento precoce sem comprovação científica, a médica pediatra Mayra Pinheiro e a médica oncologista Nise Yamaguchi já passaram pela CPI da Pandemia e suas sessões geraram vários debates na internet. Um dos pontos que mais chamou a atenção e não era necessariamente uma novidade, já que a cloroquina não foi recomendada para Covid-19 há meses e o alerta foi feito por agências internacionais de saúde, como FDA, EMA e OMS e até mesmo pela Anvisa. Os próprios fabricantes do medicamento soltaram notas alertando que não era recomendado para Covid-19.

Vale pontuar que o deputado Osmar Terra também é médico e basta uma rápida pesquisa na internet para encontrar várias declarações duvidosas sobre a pandemia. Relator da CPI da Pandemia, o senador Renan Calheiros chegou a reproduzir um vídeo com diferentes datas nas quais Osmar Terra minimiza os impactos do Covid-19, dizendo que falta pouco para a pandemia acabar, uma série de previsões que não se concretizou e pode ter dado falsas esperanças em quem acreditou em suas palavras.

Para quem não suporta fake news e acredita na importância da luta contra a desinformação, seja científica ou não, assistir ao depoimento do Osmar Terra causa uma sensação de desconforto gritante, seja pelo cinismo, pela inabilidade de reconhecer que falar publicamente informações sem respaldo científico sobre o assunto pode induzir milhares de pessoas ao erro ou por negar ter participado de encontros e querer palpitar, mesmo não sendo ministro da saúde.

Como mais um aliado de Bolsonaro seguindo a cartilha bolsonarista, ele continuou insistindo em defender ideias controversas e levando informações e dados que poderiam ser rapidamente desmentidos, ignorando as intervenções feitas pelos senadores e mantendo o plano de negação. Entre as falas absurdas estavam as de que o lockdown e a quarentena não tinham comprovação, caso contrário, como idosos morreriam de Covid-19 em asilos. 

Um momento que chamou bastante a minha atenção foi quando o senador Tasso Jereissati tentou manter a tranquilidade e o respeito para pedir: “Não está na hora de o senhor parar de dar opinião?”, consciente da influência de Osmar Terra nas decisões do Bolsonaro. O depoente chegou a dizer várias vezes que Jair Bolsonaro ere um presidente de ideias próprias e tomava suas próprias decisões, como uma forma de se esquivar. Jereissati disse que não queria censurar Osmar Terra, mas que a influência das opiniões dele sobre a pandemia já tinham sido desmentidas por cientistas de diferentes partes do mundo.

Osmar Terra também falou que ninguém havia acertado a previsão da pandemia. No Twitter, a senadora Eliziane Gama lembrou que antes de ser demitido, o ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta havia previsto mais de 400 mil mortes no Brasil, reforçando a importância das medidas que são ignoradas por Terra.

Como forma de tentar minimizar a responsabilidade de gestão do governo Bolsonaro, Osmar Terra chegou a alegar de forma falsa que o Supremo Tribunal Federal tentou limitar o presidente – a senadora Eliziane Gama disse que o Governo Federal não pode ser isentado em hipótese alguma no enfrentamento da pandemia. Ele também mentiu que o lockdown não funcionava e citou como exemplo Araraquara (SP). Além disso, criticou a decisão do fechamento das escolas, dizendo de forma errada que outros países importantes do mundo não fizeram isso.

Foram tantas declarações repletas de desinformação, que ficou evidente que além da importância de mais discussões sobre ética médica no Brasil, também é relevante abordar as fake news sobre as realidades de outros países e política internacional. Osmar Terra chegou a sugerir que fossem convidados políticos de alguns países para citar o caso de sucesso na pandemia sem necessidade de lockdown, mas algumas das regiões citadas foram alvo de críticas pela péssima gestão relacionados ao Covid-19 e algumas das figuras citadas foram ou estavam sendo investigadas.

O médico e senador Otto Alencar perguntou para Osmar Terra se ele sabia o que era imunidade celular. Além de ter feito a explanação, ele lembrou que pelo Covid-19 ser uma doença nova e que trazia risco de várias sequelas, era necessário ter cuidado com a indicação de remédios, como a Cloroquina, que poderia causar parada cardíaca em quem tem arritmia. 

Senador Otto Alencar lamentou o Brasil não estar sendo governado pela Razão, Ciência e Humanismo. Ele também não escondeu a indignação ao relembrar o despreparo do Eduardo Pazuello sobre o sistema de saúde, que nem mesmo sabia como funcionava o SUS ou sobre a pandemia e ainda assim virou Ministro da Saúde. 

Para o senador Humberto Costa, a diferença do sucesso da imunização de massa da H1N1 para a atual, foi que o governo da época colocava a população em primeiro lugar, algo que o governo Bolsonaro não faz. 

“Suas posições na pandemia foram terríveis, foram desastrosas. Eu pergunto ao senhor, você não se arrepende?” – senadora Eliziane Gama

O deputado Osmar Terra disse que sempre trabalhou com evidências científicas, mas suas falas contradizem as posições de organizações internacionais de saúde e pesquisadores sérios.

Diante de tantas declarações preocupantes, o senador Alessandro Vieira chegou a perguntar se Osmar Terra entendia a importância do distanciamento social na pandemia para frear a quantidade de infectados.

O show de horrores de desinformação teve nove horas e somente assistindo na íntegra para conferir tudo. Gostaria de detalhar, no entanto, como alguns defensores de desinformação científica se utilizam de falas desatualizadas para confirmação de suas hipóteses ou tentar fazer uma falsa equivalência. O senador Marcos Rogério chegou a lembrar de quando o médico Drauzio Varella tinha dito que o Covid-19 era só uma gripezinha: vale ressaltar que isso aconteceu antes da pandemia ter se revelado mortal e antes de chegar ao Brasil. Ele já havia se retratado publicamente várias vezes. Foi um período em que a China não divulgava tantas informações sobre o vírus.

A CPI da Pandemia tem se atentado cada vez mais ao perigo de deixar depoentes e senadores falarem à vontade e espalharem desinformação. Hoje não foi diferente, mas quando se tratam de crenças e teorias da conspiração, se percebe que o desafio de dialogar é grande, bem como a necessidade de ter energia e resiliência para não desanimar. 

Discursos negacionistas convencem porque mexem com a dificuldade de muitas pessoas aceitarem a realidade: para muitos, seria mais cômodo acreditar que não há necessidade de restrições sociais ou de que se dois médicos têm pontos de vistas diferentes, ambos são aceitáveis. No entanto, quando se trata de algo que pode levar a morte ou sequelas, é preciso manter os pés firmes na boa ciência e em quem tem pesquisado com seriedade. 

Ignorar instituições internacionais de saúde por mera convicção, tentando desacreditar a importância do lockdown, restrições sociais e recomendando um tratamento precoce sem comprovação podem ser a receita para o charlatanismo e para milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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