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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Como Começar a Escrever um Livro

Muitas pessoas têm dúvidas sobre como começar a escrever um livro. O projeto leva tempo, ou seja, não acontece da noite para o dia e exige paciência, energia, disciplina, prática, persistência e muita dedicação. É importante definir quais são os seus objetivos, o tema a ser tratado, os personagens principais e secundários, o foco narrativo e demais elementos da narrativa.
O Ofício do Escritor. Crédito: Domínio Público / Leonid Pasternak

Para quem está perdido, aqui vão algumas dicas para escrever um livro, para quem quer dar os primeiros passos no ofício da escrita de ficção:

Objetivos – Quais são os seus objetivos com o livro? Você quer escrever um livro para si mesmo ou uma obra para ser comercializada? Antes de iniciar a escrita em si, é preciso definir suas intenções. Você quer fazer o leitor chorar ou rir? Quer introduzi-lo num mundo fantasioso ou quem sabe no universo da ficção científica? O seu livro é de ficção ou não ficção?

Não deixe de ler: Criação Literária: Planejamento do Livro 

Personagens – Após a definição do tema e dos objetivos, é importante começar a desenvolver os personagens. O protagonista e o antagonista são os dois personagens principais da história. Simplificando: o primeiro é o personagem principal, o qual pode ser bonzinho ou um canalha, não importa, desde que os conflitos internos e externos estejam relacionados a ele, enquanto o segundo é quem vai atrapalhar o protagonista de alcançar seus objetivos, pode ser um vilão, literalmente, ou simplesmente um inimigo.

É importante ressaltar que nem sempre o protagonista terá as qualidades de um herói, pelo contrário, sua personalidade pode estar repleta de falhas de caráter (anti-herói) e o mesmo com o antagonista, nem sempre ele será a personificação do mal, podendo confundir o leitor que, às vezes, é levado a simpatizar com ele.

Além dos personagens principais, também é interessante criar personagens coadjuvantes que sejam verossímeis: amigos do protagonista, aliados em sua causa, obstáculos, mestres e por aí vai...
Não se esqueça de que os personagens para parecerem pessoas de carne e osso e tornarem interessantes e identificáveis para os leitores precisam ter 3 dimensões bem definidas: psicológicas, físicas e sociais.

Foco Narrativo – Você já sabe quem contará a história? É o protagonista? É um narrador que faz parte da história? É um narrador que tudo observa e sabe? É um narrador que não pode ser confiável? Ou quem sabe é um narrador que sabe tudo, mas sabe ocultar informações para não entregar toda a história desde o início?

O foco narrativo é importantíssimo, ele que vai direcionar o leitor e fazê-lo entrar no clima da história. Algumas histórias narradas em 3ª pessoa, por exemplo, deveriam ser narradas em 1ª pessoa, já que a narrativa fica presa à vida do protagonista, enquanto outras da 1ª pessoa deveriam ser escritas em 3ª pessoa, pois limitar o ponto de vista ao do personagem principal, impossibilita saber o que acontece fora do alcance e da mente dele.

Há quem tente mesclar os focos, sem ter o conhecimento básico sobre cada um deles, ou seja, tornando a história intragável. Antes de escolher em qual ponto de vista sua história será narrada, conheça bem a particularidade de cada um deles.

Planejamento – Escrever um romance é diferente de escrever um conto. Romances são mais longos e sem planejá-los, você corre o risco de contar uma história sem a mínima coerência. Lembrando que após escolher o gênero literário (conto ou romance), é preciso escolher qual será a temática (Fantasia, Ficção Científica, Romance, Terror, Suspense, Thriller, Histórico, Psicológico etc.).

Na escrita do conto, muitos autores começam a escrever o final da história, pois sabem como direcioná-la e não correm o risco de ficarem perdidos. No romance, não há obrigação de saber toda a história desde o início, no entanto, é preciso planejar os capítulos, para diminuir as chances do bloqueio criativo e de desistir do projeto antes da metade.

Leia: eBook do Curso: Escrevendo Ficção (Gotham Writer's Workshop)

Estude – Sim, isso mesmo! Estude o seu gênero literário. Ninguém está te pedindo para se transformar num Mestre em Linguística, mas se o seu objetivo é escrever um livro de ficção, há algumas regras que você precisa conhecer – Dizem que antes de quebrar um modelo, você precisa entendê-lo e dominá-lo primeiro.

Analise os livros escritos por outros autores. Veja quais são os recursos utilizados para envolver o leitor, quais são os ganchos, como são escritos os primeiros e últimos parágrafos de cada capítulo, em qual parte do livro estão presentes as reviravoltas, como o personagem é apresentado, como foi escrito o clímax, como foi narrada a resolução do conflito etc. Além de estudar a criação literária, é interessante entender as particularidades da temática.

Confira: Livros sobre Escrita Literária – A Arte de Escrever Ficção

Como você pretende escrever um livro de fantasia com elementos do romance policial, se você não costuma ler livros de nenhum dos gêneros? Antes de tentar mesclar os gêneros, estude cada um deles, veja quais elementos se encaixam em sua narrativa.

Pesquise – Um dos principais erros de autores iniciantes brasileiros é querer escrever uma história que se passa em um país que ele nunca conheceu ou que já visitou, mas não mergulhou a fundo o suficiente para entender o comportamento cultural das pessoas, a época em que a história se passa, os elementos geográficos, enfim, uma série de pontos precisam ser estudados.

A pesquisa serve para te ajudar a escrever a história. Cuidado para ficar pesquisando muito e nunca começar a escrever. Organize-se para que uma atividade não atrapalhe a outra. Se o seu personagem é um psicopata, por exemplo, e você nunca estudou as características psicológicas de um, você corre o risco de escrever sem ser verossímil. Pesquise os arquétipos, não crie um personagem principal quadrado e óbvio, ao menos que ele seja um personagem plano e esta seja a intenção.

Não tenha dó de rabiscar, fazer anotações, riscar palavras, acrescentar novas na hora
da revisão e leitura crítica. 

Revisão e Leitura Crítica – Deixe para revisar o livro só depois de escrevê-lo. Se você revisar sempre que for escrever, isso pode bloquear a sua criatividade. Escrever e revisar são processos diferentes.  Engana-se quem pensa que a revisão serve para corrigir os erros de ortografia.
Revisar o seu material é analisar se o objetivo foi cumprido, se a estrutura está boa (ou ela fará a história desmoronar), ver se os personagens estão convincentes ou são tão clichês e chatos que ninguém se identificará com eles, ver se a temática é consistente (se você escreveu uma comédia que não faz ninguém rir, um terror que não assusta, um thriller que não emociona...).

Neste aspecto da leitura crítica, é importante que você aprenda ao máximo sobre o seu romance ou conto, ou de que forma você poderá analisá-lo? Entenda a diferença entre autor e escritor. Autor é, geralmente, quem publica o livro e pode pagar um ghost writer para escrever para ele. Escritor é quem vai escrever a história e pressupõe-se que ele entende o que escreveu, não que só vomitou as palavras no papel. Como escrever um conto se você não entende as particularidades do gênero? Como escrever um romance histórico se você não estudou o contexto da sua narrativa? Não leia somente livros do mesmo gênero e temática – porém, se o seu objetivo é escrever um livro de ficção científica e nunca leu nenhum antes, as chances de escrever algo bom são baixíssimas.

Material grátis: Guia de Primeiros Socorros para o Escritor Iniciante – Cristina Lasaitis

Leitura Beta – Alguém leu a sua história? Quais foram os pontos positivos e negativos levantados? Se você pedir para algum amigo ou conhecido ler o livro e ele dizer que adorou a história, as chances dele estar mentindo ou dizendo só para te agradar são altas.

O complicado da leitura beta é achar pessoas de confiança para ler o seu manuscrito. Não se esqueça de registrá-los, para não correr o risco de enviar para alguém que pode roubar a sua história. Veja quais impressões você quer obter com essa leitura: Qual é o seu público-alvo? Escolha leitores com diferentes graus de conhecimento sobre literatura.

Recentemente, por exemplo, eu fiz uma leitura beta de um romance repleto de metalinguagem e intertextualidade – para leitores, como eu, que gostam de estudar a criação literária e tem uma bagagem razoável de leituras, o livro é fantástico; Já para um leitor que nunca leu ou ouviu falar dos livros que se dialogam, não se interessam por narrativa autorreferenciais e estão desacostumados com uma leitura mais reflexiva e artística e mais habituados aos romances comerciais, textos fáceis e de entretenimento, a obra pode desagradar.

Pronto para publicar? – Antes de achar que o seu material está pronto para ser publicado, tenha certeza de que ele está bom o suficiente. Ninguém está dizendo que você precisa ser o rei da autocrítica e sempre achar os seus livros uma droga – muitos escritores são assim... –, porém se você escreveu o livro, não reescreveu, não o revisou direito, as chances dele estar repleto de falhas na narrativa são enormes (pontas soltas, personagens sem consistência, trama mal desenvolvida, romances que parecem contos prolongados, erros grosseiros de revisão ortográfica, diálogos antinaturais, personagens que poderiam ser cortados etc.).

Muitas editoras oferecem serviços de leitura crítica e revisão, antes de publicar as obras; Enquanto outras publicam o livro, independente dele estar bom ou não, fazendo com o que o autor se iluda com a fantasia de ter publicado o seu primeiro romance, sem ter ideia de que o material precisava ser mais burilado, fermentado, explorado. Livro escrito não é livro publicado! Muitos autores escrevem diversos romances antes de publicá-los, não só pela falta de interesse de editoras, mas pela autoconsciência de que a história precisa ser melhorada e ainda não está em seu potencial máximo. Uma revisão profissional e leitura crítica de quem realmente entende do assunto pode te salvar de publicar um livro cheio de erros.

Na hora de escolher uma editora ou optar pela autopublicação, tenha certeza de que o seu livro realmente está pronto! Há quem reclame da alta competitividade nas grandes editoras e dificuldade de ter o seu original lido, quem dirá selecionado e publicado. Quanto às editoras pequenas e médias, não dá para generalizar... Conheço editoras recentes, com um ano de existência que prezam pela qualidade literária, sem deixa de lado a questão comercial, ou seja, livros bem escritos e bem revisados, com qualidade editorial (capa, folhas, acabamento), enquanto existem editoras que publicam o que vier pela frente, sem analisar o material, sem revisar corretamente o texto, sem leitura crítica... Portanto, preste atenção na hora de escolher ou ser escolhido por uma editora!

Veja se o seu livro realmente terá a devida atenção na editora ou se a preocupação deles é somente com o lucro e com aumentar o catálogo. O mercado editorial não é tão fácil de entrar, mas assim que você consegue uma boa editora, as coisas começam a se ajeitar... Da mesma forma que existem editoras que só priorizam autores internacionais e dificilmente dizem sim para autores nacionais, decepcionando muitos escritores, há editoras que nem mesmo leem e analisam corretamente os materiais e copiam e colam, literalmente, uma resposta dizendo que o seu original foi aprovado para publicação.

Recomendação de leitura gratuita: Ebook: 7 Coisas que Aprendi – 58 Escritores Contam Experiências e Dicas Sobre a Profissão


Desconfie! Troque ideias com outros escritores e profissionais do mercado editorial. Participe de concursos literários, prêmios literários, coletâneas e antologias... É melhor pesquisar bem antes de ser publicado – eu sei, a vontade de ter o seu primeiro livro em mãos é grande, eu mesmo, tenho 3 romances escritos e nenhum publicado –, mas vale a pena esperar um pouco, e acertar no alvo certo, a ficar frustrado, ter prejuízos financeiros (afinal, muitos autores precisam ajudar a pagar a publicação) e se arrepender de ter publicado um livro que ainda não estava pronto ou pior ainda, que estava bom, mas não alcançou o público-leitor, pelas limitações da editora ou porque o interesse dela é simplesmente lucrar, sem dar a mínima para a qualidade literária.

A autopublicação está crescendo no Brasil, assim como a possibilidade de publicar o seu livro no formato digital. No entanto, sem alguém para atestar a qualidade do seu texto, você corre o risco não só de sentir triste quando as críticas começarem a surgir ou de receber falsos elogios, mas de matar suas chances no mercado editorial. Resista aos impulsos da autopublicação se o seu texto ainda não está bom o suficiente.

Outra limitação da autopublicação é o autor ter que vender os próprios livros (impressos ou ebooks). Há escritores que acabam gastando um dinheiro que não têm, investindo nesse sonho, e acabam se decepcionando, por uma série de fatores: Não conseguir vender os livros; Quando as críticas sobre a obra são negativas; Não ganhar dinheiro o suficiente para sobreviver de literatura (dificilmente, um autor conseguirá isso em sua primeira edição e com um livro só, principalmente, porque as tiragens não são tão grandes quanto a de um autor reconhecido nacionalmente e internacionalmente – o escritor brasileiro André Vianco, por exemplo, contou que só começou a lucrar depois de sua quarta ou quinta publicação, atualmente, ele tem mais de 15 obras publicadas); É preciso investir no marketing.

Veja também: Criação Literária: o prazer e a dor de escrever

Bom, é isso... O texto ficou bem básico, mas creio que pode ajudar algumas pessoas com dúvidas sobre como escrever um livro. Lembre-se: A Jornada do Escritor é longa. É importante dar os primeiros passos e saber comemorar as pequenas vitórias, mas bons resultados dificilmente surgem de forma rápida. Cada dia é uma luta, uma batalha contra si mesmo para sentar e começar a escrever, para ter paciência e disciplina, para saber sacrificar alguns gastos que serão investidos em livros e cultivar um pouco da solidão necessária para escrever. Se gostou, não deixe de compartilhar o texto! Se tiver dúvidas, sugestões e comentários, não fique tímido!

Comentários

  1. Adorei o texto, eu sonho em ser escritora profissional e espero que você também consiga.

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    Respostas
    1. Olá, Thifany! Fico feliz que tenha gostado ^^
      Estou lutando aos poucos para conquistar o meu espaço na jornada do escritor. Tenho colhido alguns resultados ao longo do caminho. Agradeço pela mensagem e pela visita!
      Abraços

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