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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Sem Destino – Karina Dias

Quase dois anos após perder sua esposa, a autora Karina Dias passou por um tempo difícil e a escrita foi uma das maneiras que ela encontrou para relembrar os bons momentos e também para colocar as dores no papel.  Afinal, além de um instrumento para contar histórias, escrever é uma poderosa forma de catarse. O livro Sem Destino, publicado em 2016 pela Editora Metanoia, com o apoio do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo, marca o retorno da autora.


Karina Dias é conhecida pelos seus livros e narrativas com temática lésbica, mas diferente de seus romances e contos, Sem Destino não se trata de personagens de papeis e sim de uma história de amor entre duas pessoas e das dolorosas fases que seguem quando uma delas parte antes da outra. A experiência da autora com seu grande amor Paula – que faleceu em agosto de 2014 – é o ponto de partida do livro.

O objetivo de Karina Dias com o livro não foi só expor seus textos carregados de emoções que precisavam ser colocadas para fora, mas de sensibilizar os leitores sobre o amor entre casais homossexuais, levando em conta que a homofobia ainda é marcante no Brasil e no resto do mundo e que todos nós somos capazes de amar, construir relacionamentos e sofrer com as perdas, independente de nossos gêneros, orientações e identidades sexuais.

“Diante da perda da pessoa que amamos, sobra o verbo aprender. Terei que aprender a viver com a ausência daquela pessoa tão especial que transformou os meus dias em luz. Aprenderei a caminhar em direção ao que Ela acreditava: a vida. Sei que viverei dias ruins, dias bons... Dias em que nada fará sentido. É a vida e, viver, aprender, viver, aprender... é um ciclo, o maior desafio de cada um de nós” – Karina Dias

Como o próprio jornalista Leopoldo Rosa ressalta no prefácio do livro, Sem Destino não se trata de uma obra em que os pontos principais são os gêneros literários, estilos ou demais artifícios, mas a alma. “Nas páginas que se seguem, o que encontramos é um desnudar de alma, a sublimação de um sofrimento quase insuportável que se faz possível por meio da escrita e das lágrimas. Pois, é quase possível tocar nas lágrimas vertidas durante a escrita de cada uma das linhas. É quase possível abraçar o sofrimento que, no cúmulo do abstrato, se torna palpável”, afirma Leopoldo Rosa.

Ler os textos de Karina Dias em Sem Destino não é tão fácil emocionalmente, pelo menos para quem teve a oportunidade de conhecer um pouco de sua trajetória e da história de amor. Alguns dias antes de Karina perder Paula, a autora ia responder uma entrevista para o blog – que agora, quase dois anos depois foi respondida. Então, eu que já havia lido dois livros da escritora, na época, imaginei a dor. Toda morte nos toca de alguma maneira, nos deixa reflexivo e nos transforma e como bem lembra Leopoldo Rosa, dá para sentir os diferentes estados emocionais que a autora passou, as lágrimas no papel, tudo tão explícito que mal sobra espaço para as entrelinhas. E nem sempre é fácil pensar na morte, principalmente quando você também tem alguém que se importa tanto e tem tantos planos, como as duas tinham e lembrar que tudo é transitório e há coisas que fogem ao nosso controle.

“Jamais esquecerei o dia em que cheguei naquele consultório. Eu não sabia se chorava ou se falava. Queria gritar, xingar. Sair correndo. Desaparecer... Imagine sentir, a maior parte do tempo, um punhal invisível encravado em seu peito. Par quem não passou pela experiência de perder alguém que se ama muito pode parecer exagero, mas para quem sentiu esse punhal, certamente não” – Karina Dias

Kafka afirmou que escrever é abrir em demasia. Quando lemos um romance, um conto ou qualquer outro texto, o leitor trabalha com suposições e, muitas vezes, mesmo não tendo nenhuma relação com o autor, fica com a impressão de que aquilo realmente aconteceu. Sem Destino pode ser assombrador por nos lembrar que não é ficção e que qualquer um está sujeito a perder o seu grande amor, mas também pode despertar o leitor para a necessidade de valorizar cada momento ao lado de quem ama e lembrar que casais homossexuais também têm planos, como construir sua própria família.

Palavras simples podem carregar tantas emoções quanto longas narrativas. Além de deixar uma espécie de homenagem a Paula, que desde que conheceu Karina Dias a apoiou na escrita e com quem ela compartilhou momentos, sonhos, alegrias e histórias, a escritora explora o lado não tão belo da perda. Toda ruptura leva a uma necessidade de readequação e nem sempre é fácil. Karina deixa o pseudônimo de lado e revela as dores de Eliana (seu nome).

“Eu estou tentando... Estou remendando... Mas, de repente os pontos se abrem. Remendo novamente...Um dia, talvez, passarei as mãos no coração e ficará somente o relevo da cicatriz”

Nas últimas páginas do livro, levando em conta o poder das palavras, Karina Dias propõe ao leitor colocar o seu coração no papel e presentear com a obra, seja escrevendo e demonstrando seus sentimentos para alguém especial, idealizando o amor ou escrevendo uma declaração de amor para a pessoa que você ama. Ao longo de Sem Destino, o leitor percebe que nada disso é mero acaso, seja pela importância que os escritores dão às palavras, pelas lembranças de como Karina conheceu Paula, os textos trocados ou pelas poesias e escritas como um diário. O que acontece quando perdemos alguém que amamos tanto? Karina Dias é corajosa o suficiente para mostrar e para lembrar que tudo cicatriza um dia e alguns amores são inesquecíveis.

Sobre a autora – Karina Dias é escritora, jornalista e mestre em Jornalismo Contemporâneo. Autora dos livros Aquele dia junto ao mar (vencedor do Prêmio PapoMix 2014, na categoria Literatura LGBT), Diário de uma garota atrevida e As rosas e a Revolução. Em 2011, participou da primeira antologia de literatura lésbica da América Latina, Voces para Lilith, com a publicação em espanhol do conto Al encuentro del amor. Em 2014, integrou o grupo de autores selecionados para a coletânea Orgias Literárias da Tribo. Em 2015 publicou uma poesia no livro Um Rio de Cores. Na internet, publicou doze histórias, entre elas, De repente é amor, Encontros e desencontros e Simplesmente irresistível.

*Este livro foi enviado como um presente da autora Karina Dias

Sem Destino e os outros livros da escritora Karina Dias podem ser adquiridos em seu site: http://www.karinadias.com.br/ 

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