Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...
Escrita Maldita: As escolhas dos nomes dos personagens principais do livro
Uma das dúvidas comuns em escritores iniciantes é sobre a escolha de nome para personagens. Há quem tente encontrar uma simbologia por trás e combine o nome à personalidade, do mesmo jeito que existem autores que não se importam tanto com isso. Alguns escritores como Stephen King, por exemplo, acabam adotando os mesmos nomes de personagens em livros diferentes, mesmo que suas personalidades sejam completamente diferentes. Não é algo tão estranho quando paramos para pensar, afinal, na vida real duas pessoas com o mesmo nome podem ter características físicas, psicológicas e sociais bem diversas.
No meu livro de terror, Escrita Maldita, brinco bastante com os nomes dos personagens. Não só os personagens principais, como os secundários. O romance está cheio de referências intencionais ou não do universo literário, possibilitando ao leitor tentar caçar suas relações nas entrelinhas e/ou ficar com aquela sensação de que deve haver um propósito nas escolhas. Para ser sincero, muitas vezes, o processo de criação literária é também misterioso para o próprio escritor de uma história. Existem elementos que vêm até o autor através do subconsciente. Entre coincidências e intenções, livros são obras vivas e a cada leitura e releitura, podemos encontrar novas experiências intertextuais.
O protagonista do romance é o escritor Daniel Luckman. Seu pseudônimo é um trocadilho. Daniel se considera um cara de sorte, pois com o seu livro de estreia, ele conquistou o título de best-seller e conseguiu se dedicar à escrita. Quantos autores têm essa mesma oportunidade? É preciso muita sorte. Muitas vezes, escrever um livro que entra para a lista de mais vendidos é como ganhar na loteria e abre muitas portas. Além da obra ganhar destaque em várias livrarias do país, geralmente ela também ganha traduções.
A sorte também pode ser efêmera e bilateral. Assim como existe sorte positiva, há quem acredite que ela pode ser negativa. A maré pode mudar a qualquer momento. A vida não é linear e quanto mais você ganha, mais você tem a perder.
A esposa de Daniel, Marissa é uma mulher mais misteriosa do que parece. À primeira vista, a impressão que se tem é de que ela é completamente devota ao marido e aceita muito mais coisas do que deveria. Como o mar, ela tem seus momentos de tranquilidade e de tormenta. Ela também não só movimenta Daniel, como serve como uma âncora.
Além do casamento e do relacionamento que em alguns momentos beira à codependência, sua figura também pode estar associada à musa. O escritor escolhe passar a vida a lado daquela que o encanta como uma sereia e teme que a qualquer momento ela pode querer voltar para o mar, ao se dar conta de que Daniel pode ser uma ilha solitária. O peso de Marissa está mais no não-dito do que na narrativa. Seu silêncio e sua presença têm uma força intrínseca no romance.
Já Laurence Loud, o escritor de terror veterano que é convidado a escrever um livro junto com Daniel, tem seu pseudônimo associado à intensidade de sua escrita, bem como à sua personalidade barulhenta. Se Daniel tirou a sorte grande, Laurence explodiu com seus livros. Sua carreira está repleta de livros best-sellers.
Deu para perceber que gosto da ambiguidade, né? Com uma mente tão barulhenta, Laurence Loud guarda seus segredos e sua presença na casa de Daniel não passa despercebida. O contraste das personalidades e a proximidade entre os três personagens cria uma mistura asfixiante, um triângulo de possibilidades. Impossível não pensar naquela frase do Benjamin Franklin: “Três pessoas podem manter um segredo, se duas delas estiverem mortas”.
Ainda não conhece Escrita Maldita? Assista ao teaser do livro:
*Ben Oliveiraé escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do romance Escrita Maldita, que está entre os livros mais vendidos de terror na Amazon brasileira e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad.
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