
A Teoria do Gatekeeper, também conhecida como Teoria da Ação Pessoal, surgiu em 1950 e aplicada ao jornalismo por David Manning White. O fluxo de notícias passaria por ‘gates’ ou ‘portões’. O gatekeeper ou ‘porteiro’ é o editor das redações, aquele que seleciona o que será ou não publicado.
White conseguiu testar a sua teoria com base numa pesquisa, publicada em 1950, realizada com um jornalista de meia-idade num jornal norte-americano, ‘Mr. Gates’. O jornalista teve que relatar durante uma semana o por quê da rejeição de algumas notícias. “As decisões do jornalista eram altamente subjetivas e dependentes de juízos de valor baseados no “conjunto de experiências, atitudes e expectativas do gatekeeper”, relata Traquina sobre as conclusões de White. Com os resultados da pesquisa, White descobriu que a maioria das notícias eram rejeitadas pela falta de espaço, depois por causa da pouca importância, de relatos do mesmo acontecimento, falta de qualidade da escrita e acontecimentos em locais muito distantes. A teoria, também conhecida como Ação Pessoal, por Shudson, em 1989, dizia que as notícias eram explicadas como um produto das pessoas e das suas intenções.
É possível contestar a Teoria do Gatekeeper, por causa da visão limitada de White. O teórico acreditava que o gatekeeper era o responsável pelas notícias, ignorando as influências das organizações, da linha editorial, do público-alvo, da audiência e entre outros fatores, que são levados em consideração quando é abordada a Teoria Organizacional. Novamente, assim como feito com a Teoria do Espelho, por meio da análise diária de produtos jornalísticos é possível observar que não é somente o gatekeeper o principal fator de influência das notícias. É claro, que ao selecionar o que será publicado ou não, o editor tem um poder de grande importância no jornalismo, mas deve-se admitir que existem outras influências, por exemplo, sabe-se que os editores dentro de uma redação nem sempre podem escolher o que deseja, já que este responde ao Editor-Chefe, que responde ao Diretor de Jornalismo e ao proprietário da empresa jornalística.
A falta de espaço para publicação de notícias, um dos critérios de exclusão utilizado pelos gatekeepers, pode ser resolvida na internet, em que há mais liberdade relacionada ao tamanho dos textos, à quantidade de fotografias, à duração dos áudios e dos vídeos. A criação de edições especiais, se preciso, seria ótimo para contextualizar melhor as informações.
Fica aqui a minha indignação em relação aos espaços especiais destinados a abordar notícias de grande impacto, como o casamento real britânico, que não tem relevância alguma para a população brasileira. Enquanto os veículos abrem espaço para esta abordagem, excluem assuntos que poderiam ser mais interessantes para o público brasileiro. O jornalista precisa saber selecionar o que é de relevância para a sociedade e construir a realidade, não somente refletí-la, de forma a situar o receptor. É ilusão acreditar que está nas mãos dos editores tudo o que será publicado ou não, assim como é acreditar que o jornalista está somente refletindo os acontecimentos, de forma neutra, ambos os aspectos sofrem uma série de influências e interferências que podem ser explicados por meio das outras teorias do jornalismo.
Nos debates da área sobre o jornalismo aborda-se que se o jornalista antes era um mero reprodutor da realidade, agora este poderá tornar-se um mero gatekeeper. A seleção de notícias é fundamental, mas será que o papel do jornalista será cumprido somente na função de editor?
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