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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Só mais um livro – Leitura, Procrastinação e Escrita

Dizem que para escrever um livro, antes é preciso ler mil livros. Embora eu adore mergulhar em histórias, admito que, às vezes, os meus melhores aliados se transformam nos meus piores inimigos.

Uma das maneiras favoritas de procrastinar dos escritores é lendo. Preciso repetir a frase para que ela se fixe na minha cabeça: leia menos, escreva mais. Ouvi minha vida toda que para escrever melhor é preciso ler muito, mas o problema está quando deixo de praticar a escrita para ler um livro após o outro.

Começa assim: “Vou terminar este livro e tirar um tempo para escrever”. Seguro o livro, me sento e inicio a leitura. Preparo um café e bebo líquido preto enquanto estou lendo. Dou uma volta pela casa com o livro aberto, como se fosse o meu bicho de estimação. Leio, leio e leio.

As horas vão passando e ainda estou lendo. Tomo água, preparo um chá e quando vou ver já está quase na hora de dormir. Estou cansado, mas sinto uma necessidade estranha de ler mais. Minhas energias vão se esvaindo e as letras já estão irreconhecíveis. Nenhuma frase mãos faz sentido.

Fico preso à leitura e só consigo me libertar quando chega até o último ponto final. “Agora sim vou poder escrever”, digo feliz e ansioso. Sento em frente ao computador e começo a brincar com o teclado. As palavras fluem. Olho para o lado e lá está ele, outro livro pronto para ser devorado. Ele me seduz e insiste: “só um pouquinho”. Quando me dou conta, estou preso em outra história.

Sou como um parasita de livros. Alimento-me de narrativas para sobreviver. Pulo de página a página, de livro a livro. Não consigo parar.

Tento limpar a mente, mas os personagens estão lá em algum lugar implorando para que eu saiba como suas histórias terminam. Termino de ler mais um livro, escrevo algumas páginas e o clico recomeça.

Quando os livros estão quase acabando, me rendo e vou até alguma livraria. É mais forte do que eu, eu sei. Se estou sem dinheiro, considero ir à biblioteca ou releio algum livro.

Incapaz de escapar do meu círculo, decidi que faria como os escritores experientes. Acordarei bem cedo, começarei a escrever pela manhã e me dedicarei à arte da leitura durante a tarde ou noite. É difícil, mas estou tentando. Enquanto isso, eu termino este texto e vou concluir mais uma leitura.

*Ben Oliveira

Comentários

  1. Estou preparando um texto falando sobre procrastinação. É um risco. Acho que a leitura também acaba sendo a principal culpada da minha falta de foco na hora de escrever. rs...

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    1. Obrigado pelo comentário, Paulo!
      Assim que seu texto estiver pronto, me envie se puder. Estou curioso para lê-lo e procrastinar mais um pouco.

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  2. É difícil mesmo a gente achar a medida. O que funciona para mim é pensar na escrita como trabalho. Tu que gostar de Sex and the City, talvez reconheça a referência. Na última temporada a Carrie está com um artista meio russo e tem horas que ele se tranca na oficina para criar. Desde que vi isso, fiquei pensando que é exatamente disso que minha vida precisa: de uma oficina. Não um espaço físico, real, mas paredes imaginárias entre mim e o mundo, de modo a garantir que a minha arte aconteça.

    Achar esse tempo é que é difícil.

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    1. Acho que preciso, literalmente, adaptar o meu espaço. Não se trata de alugar um apartamento só para escrever, mas pelo menos comprar uma escrivaninha. Transformar a escrita em uma rotina.
      E The Carrie Diaries está incrível! Assiste esse episódio sim, embora no livro seja mais emocionante. No livro, ela perde o manuscrito de uma peça teatral e precisa escrever tudo desde o começo em uma semana.
      Abraços e obrigado pelo comentário!

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