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CPI da Pandemia: Pesquisadores discutem como milhares de vidas poderiam ter sido salvas
Pensar na quantidade de vidas que poderiam ter sido salvas nessa pandemia e em como existem múltiplos fatores relacionados é algo necessário. Com mais de 500 mil mortes no Brasil por Covid-19 e um número que deve continuar crescendo conforme orientações sanitárias são ignoradas, a CPI da Pandemia convidou a médica e Doutora em Comunicação e Cultura Jurema Werneck e o epidemiologista e pesquisador Pedro Hallal.
Nesta quinta-feira, 24 de junho de 2021, os profissionais compartilharam conhecimentos levantados sobre como o Brasil poderia ter lidado melhor com a pandemia, além de apontarem erros que continuam sendo repetidos, especialmente pelo presidente Jair Bolsonaro, que insiste em criticar as medidas de restrições sociais, participa de aglomerações sem máscara e entre os mais recentes absurdos está sua tentativa de liberar o uso de máscaras no país, sem levar em conta a quantidade de brasileiros que deveria estar vacinado para isso e o ainda alto número diário de mortes e de infectados.
Indo além das discussões que levam em conta somente a infecção do vírus, a diretora-executiva da Anistia Internacional e coordenadora do Movimento Alerta, Jurema Werneck também ressaltou como as questões socioeconômicas deveriam ser levadas em consideração, levando dados de como as classes sociais com menos condições financeiras foram mais afetadas. Ela também recomendou aos senadores a criação de um memorial pelas vidas perdidas e um plano de responsabilização e de reparação.
Segundo o epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, é errado dizer que o Covid-19 atinge todos da mesma forma, sem levar em conta as questões socioeconômicas. “As pessoas mais pobres tiveram o dobro de infecção do que as pessoas mais ricas do Brasil”. Para quem não se lembra, Hallal foi autor do Epicovid, um estudo sobre a pandemia que foi considerado um dos mais importantes do país por mostrar a situação do vírus, mas foi descontinuado sem motivações técnicas.
Embora os dois depoentes têm bagagens diferentes, ficou evidente uma preocupação social da pandemia, algo que não tem sido tão discutido como deveria na CPI da Pandemia e acabou se focando mais nas descobertas e motivações por trás dos tratamentos sem comprovação científica, como Cloroquina, e/ou nos atrasos da vacinação. É claro que discutir imunização em massa e charlatanismo são importantes, mas ao fazer justiça pelas centenas de milhares de vidas perdidas, também é importante pautar as questões complementares que foram afetadas pelo governo Bolsonaro.
Muita gente gosta dos números, pois dão uma dimensão da tragédia sanitária que aconteceu no Brasil, país que previamente era elogiado na área de saúde e se tornou um exemplo do que não fazer. Um dos estudos apresentados hoje por Jurema Werneck apontava que pelo menos 120 mil mortes poderiam ter sido evitadas no período de um ano, porém o governo brasileiro não apostou em distanciamento social, controle, rastreamento e testagem.
Pedro Hallal comentou que entre as coisas poderiam ter sido feitas também estava a distribuição de máscaras seguras para a população e algo que tem ressoado por outros pesquisadores que foram à CPI da Pandemia: a comunicação clara e unificada. Não só Hallal e Werneck apontaram, como outros senadores da comissão parlamentar lembraram de que, muitas vezes, o ministro da saúde ou os pesquisadores falam uma coisa e o presidente faz outra, passando uma imagem que gera mais dúvidas à população.
O tema das vacinas atrasadas também veio à tona. 145 mil mortes poderiam ter sido evitadas se o Brasil não tivesse atrasado a compra de vacinas, lembrou o epidemiologista Pedro Hallal, que também havia estimado que 400 mil vidas poderiam ter sido salvadas levando em conta as medidas de restrições que não foram adotadas pelo país.
Muitos defensores do Bolsonaro não gostam de ouvir dados negativos sobre a gestão e tentam sempre alegar que se tratam de pessoas contra o governo, mas são discussões que estão sendo acompanhadas a nível internacional e o mundo assiste ao show de horrores e as constantes exposições e declarações irresponsáveis do presidente e de outros políticos que insistem em defender tratamentos sem comprovação científica, inventam mentiras sobre o lockdown ou levantam dados errados que são facilmente desmentidos na internet.
Outro ponto importante de discutir, do qual os apoiadores de Bolsonaro sempre tentam fugir é o de que a pandemia fora de controle no Brasil não causou só mortes e sequelas, como também afetou questões econômicas e levou mais pessoas à miséria. Ao tentar priorizar o comércio, acabaram prejudicando em vários âmbitos: vidas não se recuperam, os custos para tratamentos de pessoas com sequelas do Covid-19 e as famílias despedaçadas que dependiam de um provedor.
Jurema Werneck citou várias instituições que lutam por uma sociedade mais transparente e analisam o mal uso dos recursos públicos e reforçou a importância diminuir as desigualdades, algo que faria diferença não só nessa pandemia, como nas próximas.
Antes do encerramento da sessão, o senador Randolfe Rodrigues trouxe à tona a informação de que Jair Bolsonaro estava em um ato no Rio Grande do Norte e pediu para uma criança tirar a máscara. O senador declarou a atitude inaceitável, levando em conta tudo o que já é de conhecimento público sobre as medidas sanitárias.
“Essa audiência de hoje deixou bem claro que muitas famílias brasileiras poderiam ainda neste dia de hoje ainda estar completas [...] Mais de 100 mil famílias brasileiras poderiam estar completas [...] É trágico saber que 1/3 dos que morreram de Covid no planeta ontem, são compatriotas nossos”, disse o senador Randolfe Rodrigues.
O senador Randolfe Rodrigues também comentou que a CPI da Pandemia tinha como um dos seus objetivos ajudar a unir as pessoas e as instituições contra um inimigo em o comum: o coronavírus. E, mais uma vez, lamentou que o presidente Bolsonaro e outros políticos do governo federal estão se aliando ao vírus, ao ignorar as medidas sanitárias e não tendo comprado as vacinas quando deveriam.
Até o momento, só no canal do Youtube da TV Senado, mais de 400 mil pessoas assistiram à sessão de hoje da CPI da Pandemia. Lembrando que ela é transmitida por outras mídias sociais, como Twitter, Facebook e Instagram, por diferentes canais de comunicação.
Nesta sexta-feira, 25 de junho de 2021, a CPI da Pandemia deve bater recorde de audiência: irão depor o deputado Luis Miranda e o irmão dele, o servidor concursado do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda que denunciaram possíveis irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin pelo governo federal.
Com todas atitudes de Bolsonaro na pandemia e um escândalo atrás de outro em várias áreas, a rejeição ao governo está evidente em todos cantos da internet e são impulsionadas pela vacinação: várias pessoas que estão se vacinando aproveitando para registrar o momento por meio de foto ou vídeo e postam na internet pedindo Fora Bolsonaro.
Além da questão sanitária da pandemia, recentemente o ministro do meio ambiente Ricardo Salles pediu demissão e milhares de brasileiros comemoraram, já que sua gestão foi marcada por várias polêmicas e no momento ele está sendo investigado pela Polícia Federal.
Segundo uma pesquisa recente do PoderData, divisão de estudos estatísticos do Poder360: 50% avaliam o trabalho de Bolsonaro como ruim ou péssimo; 28% ótimo ou bom; 19% regular e 3% não souberam responder.
Leia também: CPI da Pandemia: Osmar Terra serviu mais uma dose perigosa de negacionismo científico
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