Depois de assistir a um
documentário sobre o budismo, conhecer a história de vida de Buda e ler alguns livros sobre
escrita zen, percebi o quanto um escritor pode aprender com esta religião e filosofia de vida e aplicá-la na sua prática.
O que Buda pode ensinar ao escritor? Sidarta Gautama foi um homem que, após perceber os sofrimentos presentes na vida de todas as pessoas, como a velhice, a doença e a morte, optou por entender como o espiritual conseguia continuar bem e calmo diante de todos esses problemas.
Entre as conclusões encontradas por Buda em sua jornada em busca da sabedoria estão o
equilíbrio, a importância de controlar a mente e a necessidade de viver o presente (aqui e agora).
Existe uma passagem na história de Buda em que antes de encontrar sua iluminação, quando o homem ainda se denominava pelo seu nome, Sidarta Gautama, ele se sentou embaixo de uma árvore e decidiu que só sairia de lá quando conquistasse o nirvana, sua paz e conhecimento. Sidarta enfrentou seus medos, demônios, inseguranças, desejos, se concentrando simplesmente na sua respiração e ignorando o resto ao seu redor.
Por que, às vezes, é tão difícil para o escritor escrever suas histórias? Falta foco, determinação, paciência, atenção. Vivemos em uma sociedade pós-moderna, inundada de informações em todos os cantos, tudo parece nos chamar a atenção e quando estamos fazendo alguma coisa, estamos pensando em outra. Ao se dedicar a uma só tarefa, grande parte dos problemas do escritor desaparecerá. Há quem não tenha nenhuma dificuldade em escrever com os ruídos ao seu redor e seja até mesmo multitarefa, no entanto creio que muitos autores sofrem com dificuldades antes da escrita em si, durante o percurso e após as necessárias revisões. Queremos que tudo fique perfeito na primeira tentativa – ninguém se importa se os grandes escritores escreviam, reescreviam e revisavam seus romances, contos e narrativas várias vezes, vivemos com a ilusão de que por serem escritores reconhecidos e bem-sucedidos seus textos já nasceram prontos.
A única maneira de produzir uma boa narrativa é escrevendo, praticando e obtendo experiência. Leituras de literatura e livros sobre escrita, cursos, eventos, orientações, experiências pessoais, há muitas coisas que podem ajudar o escritor, no entanto nenhuma delas será boa o suficiente se ele não conseguir controlar a própria mente. E este é um dos motivos pelos quais o budismo é tão procurado pelos seus praticantes e curiosos, para conquistar a habilidade de administrar os pensamentos e desejos.
É muito fácil se distrair. Mas, ao se praticar a escrita diariamente, limpar a mente e se concentrar, bons resultados podem surgir. Uns dos principais problemas do escritor, principalmente nos tempos atuais, são as preocupações com o seu retorno financeiro e reconhecimento. Autor de
O Zen e a Arte da Escrita, Ray Bradbury acreditava que os escritores só poderiam pensar nesses dois objetivos assim que merecessem, caso contrário poderiam viver miseravelmente e nunca conquistarem o que desejavam.
Uma forma de se concentrar na escrita e esquecer tudo ao seu redor ainda é escrevendo com a caneta no papel. Dizem que as ideias fluem com facilidade, como se estivessem sendo descarregadas diretamente pela mão do escritor. Nos dias atuais, apesar de a prática não estar mais em alta, ela ainda ajuda bastante, principalmente quando ao usar o computador temos diversos distrativos e desculpas. A pior forma de atrapalhar o seu fluxo de escrita é se distraindo e a internet contribui bastante para isso. Vivemos em um século onde desejamos resultados rápidos e nos sentimos inúteis ao não trabalharmos ou realizarmos alguma atividade constantemente. Quando sabemos que o trabalho do escritor é algo que leva tempo, tanto para a pesquisa, elaboração das ideias,
planejamento, escrita, revisão, reescrita. Logo, escrevemos e nos seguramos (quando conseguimos nos controlar) para não olhar o e-mail, conferir as redes sociais, ler as notícias do dia, concluir uma leitura.
Assim como Buda acreditou que quando ele conquistou sua iluminação, todo o universo também se tornou iluminado, precisamos seguir uma das crenças do budismo: “Eu sou Buda”. Não há escapatória quando se trata de escrever. Buda ensinou sua sabedoria para que as outras pessoas não precisassem ficar anos e mais anos tentando chegar ao mesmo lugar do que ele. Sidarta Gautama acreditava que todos somos iluminados, só não queremos enxergar e usamos nossas mentes para criar sofrimentos e dificuldades. Da mesma forma que Buda ficou indiferente às tentações, eu sei, é difícil, mas o escritor precisa se propor a terminar o que começou. Se sua meta é escrever quatro páginas por dia, escreva, mesmo que sinta vontade de conversar com os amigos, assistir a um bom filme, ler, fazer qualquer outra coisa. No ato da escrita é preciso estar presente de corpo, mente e alma. “A mente é inquieta como um macaco”, comentou Buda, e ele não poderia estar mais certo.
Escritor ou escritora, se você estiver lendo este texto agora e estiver enfrentando dificuldades com sua escrita, como
bloqueios criativos, falta de foco, procrastinação ou preguiça, faça como Buda e sua árvore. Sente-se em frente ao seu computador, caderno, máquina de escrever, seja qual for o meio escolhido para expressar suas ideias, opiniões e narrativas, se concentre na sua respiração, esqueça tudo ao seu redor e escreva. Escreva sobre seus personagens, o resumo da história, crônicas, o que está te incomodando, por que não consegue escrever, sobre o que deseja escrever. Escreva qualquer coisa. Assim como na corrida é necessário se aquecer antes para ter uma boa performance, no ato de escrever até mesmo bobagens, você estará praticando e esvaziando sua cabeça dos pensamentos e distrações que o incomodam.
Diz-se que Mara, o Senhor do Desejo, depois de ver que Buda tinha sido bem-sucedido pediu para que ele tivesse uma testemunha de que realmente tinha alcançado a iluminação. Sidarta Gautama, então, tocou o chão e disse: “a terra é minha testemunha”. Mara era a personificação dos conflitos e desejos da mente de Buda e foi derrotada, quando Sidarta conseguiu controlá-lo. A
jornada do escritor envolve sacrifícios e saber dizer “não”, para continuar fazendo o que se propôs.
Escrever é um desafio diário.
Afinal, não adianta ler centenas de livros, participar de dezenas de cursos, ter mil histórias boas em sua cabeça, se quando você se senta em frente ao computador fica em pânico, ansioso e não sabe por onde
começar a escrever. Dar o primeiro passo é melhor do que nada. Falhar nos ensina a aprender. Escrever um texto péssimo, mas praticar, ainda é uma opção mais agradável do que ser um sonhador com centenas de ideias, inspiração e nenhuma coragem, determinação e paciência para colocá-las em prática. A única maneira de se tornar escritor é escrevendo. Já dizia Buda:
“Você é seu próprio mestre”.
Gostei do texto! Ótima mensagem!
ResponderExcluirEscrever bem, é uma coisa muito linda. É preciso tempo para aperfeiçoar, escrever, reescrever, esfriar a cabeça, esquecer um pouco, continuar outro dia, outra sema...Como se fosse vários de nós, em tempos diferentes, trabalhando na mesma coisa. Porém, acho importante ter alguém especial para refletir sobre o assunto, revisar, opinar...Escrevo algumas coisas e às vezes sinto falta desse alguém.
Nossa amado adorei seu texto!
ResponderExcluirEsta de parabéns!
Beijos