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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Criação Literária: O Ritual da Escrita

Todo escritor tem um Ritual da Escrita, aquele realizado antes de começar a escrever. O processo é muito pessoal e singular, embora algumas atitudes sejam parecidas entre diferentes profissionais, no final, cada um sabe o que é melhor para si mesmo e aquilo que o faz entrar no clima.

O ritual de escrita do Proust: escrevendo na cama / Imagem: Domínio Público.
Há quem escreva todos os dias no mesmo horário, embora nem sempre isto seja possível. Há quem medite para limpar a mente e prepará-la para funcionar a todo o vapor. Tem escritor que precisa de silêncio para escrever e não suporta barulho – veja o documentário sobre Marcel Proust que tinha dinheiro suficiente para colocar um isolamento acústico em sua casa, embora a maioria dos escritores, nos dias atuais, não tenham as mesmas condições e tenham aprendido a conviver com os sons urbanos ou selecionado uma boa playlist de músicas relaxantes, com seus fones de ouvido.

Não importa o que você faz antes de escrever, desde que comece por algum lugar. Eu, por exemplo, tenho a mania de começar a escrever somente após tomar café. Tomo no mínimo duas xícaras de café por dia (daquelas grandes de chá, não as minúsculas). Confesso que, às vezes, preciso me controlar para não abusar da cafeína.

Cada escritor louco com sua mania – vale tudo, menos julgar! O Eric Novello conta no eBook 7 Coisas que Aprendi, por exemplo, que como ele não toma café, ele usa o chocolate como estimulante. Quem é que não se lembra dos escritores que bebiam ou usavam drogas para se inspirarem e escreverem? Ou quem sabe acender um cigarro – mesmo quando o escritor não é fumante, mas usa para “entrar no personagem”. Aliás, fica aqui uma recomendação de filme Kill Your Darlings (Versos de um crime), no qual Daniel Radcliffe (o protagonista de Harry Potter) interpreta o poeta norte-americano Allen Ginsberg e junto de seus colegas escritores (Lucien Carr e Jack Kerouac) abusam de substâncias e cometem várias loucuras em nome da literatura.

Continuando as manias e diferentes rituais de escrita, o mesmo Proust citado acima que não era nem um pouco fã do barulho, embora soubesse como se divertir e buscar inspiração para suas histórias, escrevia deitado – tanto por hábito, quanto por ter ficado doente e se dedicado à escrita até o fim de sua vida. O jornalista Truman Capote (Bonequinha de Luxo e A Sangue Frio) também gostava de escrever na horizontal.

Além do cafezinho, algo que me ajuda a escrever quando estou cercado de barulho é escutar músicas instrumentais ou trilhas sonoras de filmes e séries relacionadas ao tema que eu estou escrevendo. Acredite, não há nada pior do que tentar escrever, com uma construção ao lado da sua casa, outra atrás, as crianças do vizinho chorando e berrando como se fossem morrer e o mais detestável, o barulho da televisão alta, que me irrita mais ainda se estiver sintonizada em um canal religioso – nada contra o que você assiste na televisão, religioso ou não, desde que não se converta em poluição sonora.

Alguns escritores acordam pela manhã e só começam a escrever após a corrida, caminhada, levar o cachorro para passear (complete a frase com o seu exercício físico favorito). Enquanto outros só escrevem à tarde, à noite, ou melhor, durante a madrugada. Há quem goste de lavar louças, varrer a casa, cuidar das plantas, fazer alguma atividade de curto tempo que não atrapalhe a escrita e contribua para a criatividade. E a principal lição que podemos tirar nisso tudo é a de que só você vai saber qual é a melhor rotina ou ritual de escrita. Não existem regras. O importante é cumprir seus objetivos.

Bagunça na minha escrivaninha, literalmente.
A minha escrivaninha, por exemplo, onde eu costumo escrever, está sempre com livros em cima. Quando estou em um bom dia e concentrado na escrita, eles não costumam me atrapalhar. Há quem diga que a bagunça ajuda na criatividade. Todavia, quando estou lidando com um bloqueio criativo, e ao invés de escrever, se eu ficar encarando a tela em branco do computador e os livros ao meu redor, vou cometer a principal procrastinação do escritor: a leitura. No livro adolescente O Verão e a Cidade, um dos personagens da escritora Candace Bushnell define bem o mecanismo de deixar a escrita de lado para ler:


“A melhor maneira de evitar escrever é lendo. Assim pode pelo menos fingir que está trabalhando”.

Como o ritual é algo que o escritor levará ao longo de sua vida, e sim, pode ser transformado conforme a necessidade, não existe uma regra fixa, ele precisa se conhecer para saber qual é o melhor momento para escrever, levando em conta seus horários, o ambiente, metas... O importante é praticar sempre.

No ebook Desbloqueio Criativo: Como Soltar a Imaginação, a escritora Ronize Aline sugere vários exercícios e técnicas para quem está com dificuldades no seu processo criativo. Hoje, por exemplo, quase me desesperei ao perceber que estava sem café. Já estava quase abrindo mão da escrita, usando a premissa de que se não posso escrever, eu deveria ler para aumentar minha bagagem cultural, estudar o estilo de outros autores e, quem sabe, me inspirar. O problema é quando o seu ritual de escrita se transforma num ritual de procrastinação ou ritual de não escrita, você está sempre deixando de lado a sua atividade para fazer outras coisas:

– Vou ler já que estou sem inspiração hoje (a musa nem sempre vem te visitar, por isso é preciso saber atrai-la ou saber o subconsciente ao seu favor);

– Vou assistir a um seriado ou filme (tudo bem, desde que não seja na hora exata em que você vai escrever, pois para se tornar escritor, além da afinidade com as palavras, é preciso disciplina, paciência e persistência);

– Vou atualizar o meu blog, dar uma olhadinha no meu e-mail, ver minhas notificações nas redes sociais (atualmente, não dá para se tornar um escritor recluso e ignorar sua vida social virtual, com o risco de parecer antipático e nunca ter tempo para ninguém que não seja você mesmo, mas é preciso colocar a escrita como sua prioridade – é claro, se este for o seu sonho e seu objetivo de vida. Se a sua escrita for só um hobby e para você tanto faz quando escreve ou não, está tudo bem, não precisa transformar seu lazer num bicho de sete cabeças).

Há uma série de desculpas que inventamos diariamente quando não estamos no clima de escrever, por isto ter um bom ritual de escrita te garante entrar em sintonia consigo mesmo, com seus personagens e manter vivo o fluxo criativo. Não estou dizendo para você deixar toda sua vida de lado e só escrever, escrever e escrever, até porque para escrever bem, além de muita leitura é preciso viver a vida, ter boas histórias para contar, observar as pessoas, a natureza, escutar conversas (não me recordo qual autor disse que o escritor era como um fofoqueiro, sempre observando e escutando tudo e utilizando algumas ideias em seus livros).

O processo de criação literária acontece no interior, no exterior, nos livros, na vida, na morte. Porém, muitas vezes, sem esse ritual de iniciação diário – todo dia é uma batalha diferente –, de se sentar num lugar onde você se sinta confortável e possa se conectar a ponto das palavras, ideias, diálogos e demais elementos da narrativa dançarem através de você até o papel. É claro, há escritores (principalmente no Brasil, onde ser autor não é tão rentável quanto fora do país) que além de se organizarem para escrever, tem um ou dois empregos, arranjam freelances como redatores, tradutores, revisores e demais áreas relacionadas à escrita para sobreviverem e sabem aproveitar cada segundo do seu tempo livre para escreverem. Escritores que estão sempre com um bloquinho de notas, um papel e uma caneta, pois sabem que uma ideia pode surgir a qualquer minuto do seu dia e é preciso anotá-la para não perder a oportunidade e culpar a memória depois.

Se eu não tivesse escrito a minha quantidade média de palavras neste dia (Ufa, mais um capítulo concluído de um novo manuscrito de romance!) e ao invés disso, tivesse dedicado o tempo para escrever este artigo, por exemplo, seria como se eu estivesse trapaceando – e o pior, sendo meu próprio inimigo da minha escrita. Eu poderia ter culpado a falta de café, elemento essencial no meu ritual de escrita, o barulho, a chuva, o meu humor, qualquer coisa e no final, descobriria que eu seria o único culpado. O ritual serve para te ajudar a entrar no clima, não para te limitar e te dar mais desculpas para se enganar e o desviar da sua jornada.


Enfrentei o meu demônio da procrastinação e segurança que estava gritando: “Você está sem café. Você não está escrevendo na hora que costuma escrever. Você está escrevendo um conto e nem se lembra em que ponto parou no seu romance. Você precisa terminar o conto, antes de querer voltar ao romance. Você precisar atualizar o blog. Você está lendo quatro livros diferentes e não terminou nenhum deles – Por que escrever? Tire o dia para ler. Você ficou o dia inteiro organizando o blog ontem, vá descansar um pouco, assistir a um filme. Vá visitar aquele amigo que você está prometendo há dias ir e nunca pode.” Eu poderia ter inventado qualquer motivo para não escrever, ao invés disso escolhi um exercício de escrita, me afastei do computador e dos livros, segurei o meu caderno e a caneta e inventei uma situação em que o protagonista do meu romance estava.

Quando me dei conta, eu estava sintonizado novamente com a minha história e seus personagens. Pode ser que a página do exercício não entrará em nenhum trecho do livro ou que em determinado momento ela entrará em algum lugar, eu não sei, o que importa é que sem essa improvisação no meu ritual de escrita, eu não teria escrito hoje. Por isso, tão importante quanto sua disciplina para escrever, é saber enfrentar os possíveis bloqueios criativos e lidar com a sensação incapacitante de não conseguir continuar sua narrativa, nem que para isso você coloque no papel, como um aquecimento, os fatores que o estão limitando a escrever ou enxergue os seus personagens através de outros ângulos.

A mensagem final é a de que não existe jeito certo ou errado no seu ritual de escrita e que ele pode ser maleável. Como disse o escritor Ray Bradbury, autor do livro O Zen e a Arte da Escrita:


“Só existe um jeito de fracassar ao escrever: parar de escrever”.

*
Este foi o terceiro artigo escrito sobre Criação Literária. Se gostou, pode ser que goste dos outros: Criação Literária: o prazer e a dor de escrever e Criação Literária: Planejamento do Livro.

Não deixe de interagir: comente no post como é o seu ritual de escrita, suas facilidades e dificuldades na hora de escrever! Seu feedback  será interessante para mim e para outros escritores iniciantes (até mesmo veteranos) e leitores que enfrentam a mesma situação. ;)

Comentários

  1. Excelente artigo, Ben!

    Cara, eu tenho algumas manias, mas rituais são difíceis de seguir quando não se tem tempo. São raríssimas as vezes em que escrevo em casa. Impossível. No máximo, eu divulgo meus textos pelas redes sociais, tenho filhos pequenos e ajudo no que posso a Dona Maria.

    Eu geralmente escrevo no ônibus, de volta para casa, no horário do almoço - e sim, adoro café, mas é requisito - aturo barulho (mas seleciono o que não vai me incomodar), escuto música, e quando o texto pede, prefiro uma trilha sonora mais light, ou pesada, rock, por exemplo.

    Às vezes começo a escrever digitando, em outras, começo no feijão, na caneta e depois digito. Imprimo o texto até onde escrevi e continuo na caneta a partir de onde parei. Depois digito, e imprimo, e reviso, sempre com caneta vermelha, umas duas ou três vezes, até me sentir satisfeito - e é difícil chegar nesse ponto.

    Algumas vezes as ideias borbulham, e é bom ter papel e caneta à mão para anotar. Bráulio Tavares diz que "ideias são artigos de luxo, e se você não aproveitá-las, pode passar alguém e tomá-las de você". Às vezes as ideias são tantas, que alguns textos acabam ficando incompletos para trás. às vezes, tenho a impressão de que escrevo contos demais, que deveria me dedicar mais a romances, mas no fim, fico satisfeito.

    Eu queria, na verdade, dispor de mais tempo para escrever (e criar mais um monte de manias!).

    Grande abraço, Ben! Ah, o blog ficou com uma cara ótima!

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    Respostas
    1. Olá, George!!

      Muito obrigado pela visita e pelo comentário. Gostei muito de conhecer um pouco das suas manias de escrita.

      Também gosto de ter sempre um bloco de anotações por perto, nunca se sabe quando aquela ideia vai piscar na sua cabeça, você vai escutar um diálogo marcante ou ver uma cena que vai te inspirar uma história completa.

      Abraços! E volte sempre!!

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