Dezembro chegou e com ele veio a vontade de escrever novos capítulos de sua história. Estava disposto a deixar outubro e novembro para trás, tentar se focar no momento presente e se deixar perder nas novas linhas que se formavam. Era verdade que deixar os capítulos anteriores para trás não era uma tarefa fácil, mas precisava seguir em frente, sempre se movimentando em direção aos seus sonhos. Tentava não criar expectativas sobre que tipos de histórias iria escrever, o papel em branco que antes o paralisava, agora servia como um convite para deixar novas palavras surgirem. Escrevia pra quê, afinal de contas? Para se lembrar? Para esquecer? Para colocar para fora? Para simplesmente praticar o ato de escrever? Não havia uma resposta certa ou errada. Escrevia porque era sua paixão fazer isso e enquanto continuasse respirando, pretendia continuar escrevendo. Escrever capítulos novos poderia ser uma atividade interessante. Diferente do que muitos pensam, nem todos escritores deixam tudo plan...
O livro Donnie Darko foi lançado no Brasil no final de abril de 2016 pela DarkSide Books, com tradução de Antônio Tibau. Para quem gostou do filme lançado em 2011, ganhador de 11 prêmios e nominado 15 vezes, a obra, de 240 páginas, traz um prefácio escrito por Jake Gyllenhal, entrevista completa com Richard Kelly, o roteiro do filme Donnie Darko e um mega bônus: alguns fragmentos do livro A Filosofia da Viagem no Tempo.
Minha experiência com a leitura de Donnie Darko só ficou completa após rever o filme. O tradutor Antônio Tibau escreveu a introdução do livro, lembrando como Donnie Darko mexeu com os telespectadores e como o filme conquistou sucesso, mesmo sem o apoio de grandes estúdios, sendo considerado um ‘cult movie do Século XXI’. Lembrete aos possíveis leitores desavisados: não é uma novelização do filme, mas o próprio roteiro final de Richard Kelly usado pela equipe e pelos atores para levar a história para o cinema.
Explorando a edição da DarkSide Books do livro Donnie Darko:
Ator principal e diretor falam sobre Donnie Darko
Jake Gyllenhal comenta no prefácio do livro que não faz ideia conscientemente sobre o que se trata Donnie Darko, mas que o seu sentido o tocou: “Nunca existe uma única resposta para qualquer pergunta. A explicação de cada um muda de acordo com a sua criação...”. O ator que interpretou Donald Darko também fez um breve comentário sobre a relação entre a cultura norte-americana e a luta contra a idealização – ponto crítico da história de Donnie Darko, que nos leva a refletir e mergulhar em suas inquietações filosóficas.
A entrevista do livro foi feita por Kevin Conroy Scott, agente literário, jornalista freelancer e ex-editor de roteiros da New Line Cinema. Kevin explorou bem questões com o criador de Donnie Darko, desde questões biográficas do roteirista, sua afeição pelas obras do Stephen King (A mãe de Donnie aparece lendo It, enquanto o pai lê Os Estranhos) e de como sua história de vida entrou na narrativa. Richard Kelly também fala sobre sua formação em cinema, seus aprendizados, a experiência de dirigir Donnie Darko, entre uma série de questões relacionadas à trama e ao universo cinematográfico.
“Esse é o lance da fantasia, por que ela é tão difícil de fazer. Para mim, para que a fantasia funcione pra valer, precisa haver uma camada de realismo absoluto. Se você vai ter portais do tempo, um coelhinho e lanças líquidas que nascem do peito das pessoas, se você segue em direção a algo tão fantástico, precisa ter raízes numa representação realista. Caso contrário, esses elementos fantásticos vão desmoronar”– Richard Kelly
O roteiro de Donnie Darko
Donnie Darko é um adolescente com problemas de sonambulismo e sintomas de esquizofrenia. À medida que a história vai se desenrolando, o protagonista vai piorando. Sua dificuldade de se encaixar, no entanto, não pode ser vista somente como os efeitos de seus transtornos mentais – Donnie tem um humor bem ácido e pensamentos críticos sobre o sistema social.
Além da personalidade conflitante e problemática de Donnie Darko, também é possível sentir a aflição do protagonista sobre o contexto do lugar em que vive e estuda. O ambiente escolar de Donnie traz uma série de contrastes. Richard Kelly trabalha a questão da dualidade (medo e amor) do início ao final, que surgiu de uma tentativa de uma das professores de educar as emoções dos jovens alunos – a qual é contestada por Darko sobre a dificuldade de ter que enquadrar tudo em uma coisa ou outra. O bullying e dificuldade de aceitação do diferente também estão presentes na narrativa.
“Lá em cima... um estrondo ensurdecedor. Pedaços de gesso caem do teto... Livros voam da estante enquanto o móvel inteiro da parede tomba completamente”
Em uma das saídas de Donnie quando o rapaz está em seu estado sonambúlico, uma turbina de avião cai em seu quarto. Donnie só se salva por estar fora de casa. Após o acontecimento, as crises do personagem principal só tendem a se intensificar. Ele começa a escutar vozes e a enxergar um coelho alto chamado Frank, que manda Donnie fazer coisas das quais nem sempre se lembra.
Além de Donnie e sua família, também se destacam no roteiro, as professora de inglês Pomeroy (interpretada por Drew Barrymore), com sua personalidade ácida, contrastando com o puritanismo da professora Farmer, que tenta orientar os alunos; a psiquiatra de Donnie, Dra. Thurman que tenta entender melhor sobre os conflitos psicológicos do rapaz e medicá-lo; Vovó Morte, como é conhecida a senhora que parece ter perdido o contato com a realidade e posteriormente ganha um peso maior na narrativa, quando Donnie descobre que ela escreveu um livro sobre filosofia da viagem no tempo; Gretchen, a garota nova no colégio com quem o rapaz se envolve emocionalmente.
“Uma tempestade se aproxima, diz Frank. Uma tempestade que vai engolir as crianças... e eu devo resgatá-las do reino da dor. (pausa) Eu vou levá-las até suas portas de casa. Vou mandar os monstros de volta para as profundezas. Vou mandá-los de volta para um lugar onde ninguém consegue vê-los... exceto eu. Porque eu sou Donnie Darko”. – Donnie Darko
A dinâmica entre as personagens torna o roteiro mais envolvente, mostrando diferentes facetas e personalidades, junto com as reações emocionais de Donald. Entre alucinações, sonhos e teorias, Donnie tenta encontrar um sentido para as coisas que estão acontecendo – mesmo curioso pelas respostas que o fazem, fica evidente o seu sofrimento e como ele quer ser deixado em paz.
Desde o primeiro encontro entre Frank e Donnie, o coelho passa uma data para ele: “28 dias... 6 horas... 42 minutos... 12 segundos... É quando o mundo vai acabar”. Com o desenrolar da trama, o leitor / espectador também acompanha a aproximação do tão esperado dia, em que o protagonista acredita em que o fim vai chegar.
A Filosofia da Viagem no Tempo
Um grande material de apoio para quem gostou de Donnie Darko e quer mergulhar mais neste universo da ficção é a disponibilização de alguns fragmentos do livro ficcional A Filosofia da Viagem no Tempo (The Philosophy of Time Travel), escrito por Roberta Sparrow (ou Vovó Morte, como a personagem é mais conhecida). Nesta obra, é possível entender um pouco sobre o que fascinou Donnie em sua busca por respostas.
“O intento desse livro é que seja usado como um guia simples e direto num tempo de grande perigo. Rezo para que isto seja apenas uma obra de ficção. Se não for, então rezo por ti, leitor deste livro”– Roberta Ann Sparrow
O livro sobre a viagem no tempo traz uma série de elementos que o leitor pode relacionar com a trama, como a do universo tangente, portais, artefatos e videntes, fazendo com que seja possível entender melhor as questões com as quais Donnie estava lidando e compreender melhor o final da história – embora toda obra esteja aberta a múltiplas interpretações.
Richard Kelly criou uma história de fantasia que foge do padrão hollywoodiano, com um protagonista anti-herói, que nos entretém e ao mesmo tempo, desloca o telespectador do lugar-comum e o faz pensar fora da caixa não só sobre as viagens no tempo, mas sobre questões problemáticas da sociedade e da adolescência.
Sobre o autor
Richard Kelly nasceu em Newport News, Virgínia, em 1975. Diretor, roteirista e produtor, dirigiu Southland Tales: O Fim do Mundo (2006), A Caixa (The Box, 2009), além de Donnie Darko (2001).
Garanta seu exemplar do livro Donnie Darko: http://amzn.to/1XvraNk *Este livro foi enviado pela DarkSide Books, editora parceira do Blog do Ben Oliveira, para que eu pudesse ler e resenhar para os leitores! ;-)
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