Mudança de energia: às vezes é tudo o que você precisa para reequilibrar as coisas. De repente, você se dá conta em quanta atenção tem dispensado para uma coisa e/ou uma pessoa, uma energia que poderia usar para outras coisas, às vezes é algo tão automático, que você se esquece da importância de dizer não. Era muitas vezes ao não dizer não para o outro, que estava dizendo não para si mesmo. O problema era quando a impulsividade ganhava força e se sentia cada vez menos no controle da situação. Era, então, quando se lembrava da importância dos limites, não só do outro, mas de si mesmo. Pensava na quantidade absurda de tempo que gastava fazendo companhia para o outro, um tempo que poderia usar para si mesmo. Pensava em como deveria estar usando o tempo para escrever, aprender algo novo, se divertir, conhecer outras pessoas, fazer qualquer coisa que não envolvesse o outro. Por que, diabos, deveria deixar o outro como uma prioridade, quando não era recíproco? Há dias pensava no que poderia ...
No filme, Wendy quer participar de um concurso de roteiros e acaba fugindo da instituição em que vive para não perder o prazo.
Também tem a questão de que ela tem uma irmã mais velha que não sabe lidar com o autismo dela e acaba deixando ela na instituição, onde vivem outras pessoas no espectro.
O filme é maravilhoso por várias coisas:
1) Personagem autista mulher.
2) Roteirista: Muita gente acha que autistas não gostam de escrever, não tem imaginação etc.
3) Aborda a questão da autonomia, da rotina e da estimulação.
4) Wendy trabalha (mesmo sem gostar, ela precisa do dinheiro), ela vive num lar com outras pessoas e diariamente é estimulada.
5) Sonhos. Mesmo com as dificuldades, ela vai atrás do sonho dela de ver seu roteiro participando do concurso de roteiros de Star Trek (hiperfoco dela).
Quando falamos em intervenção, muita gente torce o nariz. Mesmo Aspergers podem precisar de estimulação/orientação, independente se têm inteligência média ou altas habilidades/superdotação.
Muita gente no espectro autista acha que não precisa de apoio e orientação, mas tem dificuldade com várias coisas no dia-a-dia: não quer estudar (evasão escolar), não consegue ser incluído no mercado de trabalho (preconceito da sociedade contra autistas e/ou falta da capacitação), tem dificuldade com amizades (o que pode levar à solidão e à depressão), dificuldades com relacionamentos amorosos, ingenuidade (vítima de pessoas mal-intencionadas), entre outras.
Não há nada de errado em pedir ajuda e/ou buscar entender melhor a si mesmo, suas limitações e facilidades.
Recomendo o filme Tudo Que Quero, pois ainda falta representatividade de meninas e mulheres no espectro autista no cinema. Também falta mais conscientização sobre a questão do diagnóstico, já que muitas meninas e mulheres aprendem a imitar não-autistas (neurotípicos), o que pode acabar atrapalhando esse processo, fazendo a pessoa ter vários diagnósticos errados, até conseguir o de autismo.
Embora nenhum personagem esteja lá para representar o autismo, já que é muito complexo, a equipe do filme fez um trabalho bacana e inclusive buscou orientações de especialistas para a composição da personagem.
Além de ser a protagonista do filme, Wendy luta para ser a protagonista da própria história. Mesmo com alguns problemas comportamentais e dificuldades com interações sociais, ela está disposta a mostrar para a irmã mais velha que mudou e que tem vontade de voltar a morar com ela e ser mais presente na vida da sobrinha.
Em um evento da ONU intitulado "Empoderamento de Mulheres e Garotas com Autismo", a atriz Dakota Fanning compartilhou o que ela aprendeu com a personagem autista. Para desenvolver a personagem, ela conversou com pessoas no espectro autista e familiares.
“Toda pessoa vivencia o autismo de forma diferente. Um grande ditado na comunidade autista é: 'Se você conheceu uma pessoa com autismo, você conheceu uma pessoa com autismo'. Todas dificuldades e desafios são individuais e específicos e todo mundo é diferente”– Dakota Fanning
Assista ao trailer de Tudo Que Quero (Please Stand By):
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*Ben Oliveira é escritor, blogueiro, jornalista por formação e Asperger. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1)e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.