Conectados, mas fora de sincronia. Era como os dois estavam. Não sabia como resolver a situação, antes que se tornassem dois completos estranhos. No meio de tantos ciclos terminando, tinha acreditado que um novo ciclo se manteria. As horas que passavam conversando se transformaram em minutos, e então, em segundos. Já sabia que isso ia acontecer e tentara antecipar o fim várias vezes, então por que estava tão incomodado? Sentia saudades e não sabia como verbalizar? Não importava. Foi deixando o outro cada vez mais livre, até que as mãos que um dia tinham se tocado se voltaram para os dedos que haviam deslizado pela última vez. Parte de seguir em frente era também como deixar as coisas irem, seguirem seu ciclo natural. Não adiantava criar qualquer forma artificial de manter o contato vivo, só precisava aceitar as coisas como elas eram. Cansado de aceitar que tudo tinha sua finitude, foi cada vez menos se abrindo a novos inícios – se todos estavam fadados ao fim, por que se dar ao tr...
Fake news de saúde: Epidemia e a responsabilidade dos jornalistas
Parabéns à mídia brasileira que está fazendo o desserviço de disseminar tratamentos falsos que são desmentidos em vários países.
*Na foto, o livro escrito por dois jornalistas que abordam o charlatanismo e tratamentos falsos de autismo desde o início e suas consequências para a percepção social. Conheça Outra Sintonia: https://amzn.to/2ID7M1x
Vamos estudar mais ciência?
Nenhum jornalista tem a obrigação de ser um especialista em ciência, mas se está cobrindo o assunto, é sempre bom ir além do release e/ou do profissional que está entrevistando.
Além de queimar a credibilidade do jornal, as fake news de saúde podem levar à morte. É muita irresponsabilidade com o bem-estar coletivo.
O que muitos jornalistas não sabem e DEVERIAM saber. Muitas pesquisas de saúde são inconclusivas. Muitos jornais 'científicos' são pseudocientíficos, de baixa qualidade e aprovam qualquer pesquisa sem revisão.
Isso já rendeu processos milionários para essas publicações 'científicas'. Toda vez que vocês publicam sobre tratamentos controversos e sem evidências científicas, familiares de pessoas com determinadas condições ficam cheias de falsas esperanças.
Ninguém é obrigado a saber de tudo, mas pesquisa e apuração são parte do jornalismo. Jornalismo não é publicidade, tampouco agir como assessoria de imprensa de profissionais/empresas duvidosos. Fica a dica!
Entender como funciona o mundo das publicações científicas, da metodologia científica e da ciência é o mínimo esperado para quem quer cobrir pautas de saúde. Afinal, quem reproduz informações falsas também é responsável pelas consequências dela. Jornalismo e ingenuidade são duas coisas que não combinam.
As consequências das fake news de saúde:
Qual é o papel do jornalista em uma sociedade que está mergulhada nas fake news? Com o enxugamento de inúmeras redações no Brasil e em vários países, é impossível que a qualidade do material jornalístico não reflita nestas ações. Jornalistas sobrecarregados, metas irreais e salários desmotivadores. Não sou nem um pouco leigo sobre a realidade do jornalismo no país, mas acredito que não podemos pagar um erro com outro. Sem mencionar os redatores freelancers que ganham por visualizações e/ou quantidade de palavras, mas nem sempre são comprometidos com a qualidade do conteúdo.
Diferente de algumas fake news, as que são da área de saúde podem ter consequências graves, desde pessoas abandonando tratamentos sérios por soluções mágicas, sem nenhuma comprovação científica; passando por dietas malucas com pesquisas de baixa qualidade e centenas de pessoas removendo o glúten da alimentação sem necessidade – alguns sem nenhum grau de intolerância ou alergia –, até pessoas tão desesperadas, dispostas a pagar tratamentos caríssimos, ainda que não tenham qualquer evidência científica.
O que muitos jornalistas não sabem? Alguns desses "tratamentos" podem levar à morte – coloco entre aspas, pois muitas dessas informações são de tão baixa qualidade, que nem poderíamos chamar de tratamento, o termo mais adequado seria pseudotratamento.
O que são fake news de saúde? A definição de fake news de saúde acontece a partir de pontos de vista pessoais? Não!
Existe um lado perigoso da mídia que dá validação para pessoas que disseminam tratamentos pseudocientíficos. Isso dá abertura para que outras pessoas possam fazer o mesmo e não sintam um pingo de remorso. O que dizer do país no qual um médico charlatão já causou morte, ganha horrores de dinheiro enganando seus pacientes e uma população sem conhecimento científico e ainda não foi preso? Do profissional que divulga produto proibido pela Anvisa, que já provocou problemas por ser um produto corrosivo e até mesmo casos de morte? Quantas pessoas vão precisar morrer para que o Brasil comece a levar a sério as notícias falsas de saúde? Pelo visto, muitas! Muita gente prefere fazer vista grossa.
Qualquer profissional de saúde que faça parte do movimento antivacina deveria perder sua licença. Profissionais antiéticos são perigosos: muitos colocam a ética de lado e estão mais interessados no dinheiro do que em vidas humanas. Em muitos casos, não há nenhuma surpresa da morte, mas eles podem alegar que foi algo inesperado.
Inesperado para quem? Para quem não leu nenhum alerta e/ou pesquisa afirmando as consequências dos pseudotratamentos? Inesperado para a mídia que noticiou e não se deu ao trabalho de apurar as informações e questionar melhor a credibilidade e as intenções de quem está promovendo o serviço?
Contextualizar, pesquisar, ir além da superfície. O jornalismo raso pode ser confundido com publicidade. O papel do jornalista não é passar todas pautas de assessoria de imprensa que chegam até ele sem questionar se há alguma validade ou importância no que foi dito, tampouco de aceitar jabas, sem levar em conta as consequências, especialmente quando se trata de saúde.
Profissionais antiéticos são mestres na manipulação. Porém, basta um olhar mais atento para perceber que as fontes não são de qualidade – e quando são, há algum asterisco perdido no meio do caminho. Iludidos pela popularidade e influência, pessoas seguem conselhos de profissionais duvidosos, sem qualquer exercício reflexivo, mas é preciso lembrar que embora jornalistas não sejam imparciais (mito do jornalismo), o dever do profissional é o de levar informações de qualidade, não de ajudar a espalhar mitos, informações falsas e criar uma esperança ilusória.
Protocolos da morte
Protocolos duvidosos e controversos levam falsa esperança. Como muitas pessoas com Síndrome de Asperger (espectro autista), eu não suporto mentiras e injustiça. A mentira não é natural para muitos Aspergers, precisamos aprender 'artificialmente', mas para não-autistas, ela pode vir de forma mais fácil.
Ainda sobre a questão das mentiras, não podemos deixar de lado pessoas manipuladoras: algumas delas poderiam ser descritas como sociopatas/psicopatas (lembrando que psicopata não é só quem mata). Os estereótipos sobre psicopatas servem como proteção para que eles circulem na sociedade e cometam transgressões sem ninguém perceber. Aqui, acrescento uma vantagem de ser autista: como não somos tão interessados nos jogos sociais, apesar de muitas pessoas no espectro serem 'alvos-fáceis' para psicopatas por causa de ingenuidade, muitos são questionadores e não se deixam influenciar por mentiras baratas.
Em uma sociedade, como a brasileira, que alimenta e retroalimenta o mercado da pseudociência diariamente, não é tão chocante ver que tantos tratamentos controversos sejam divulgados como se fossem verdades absolutas. Porém, o jornalista deve ter em mente que nem toda população é alfabetizada e nem todos tiveram as mesmas oportunidades de construção de conhecimento científico.
Dizer que determinadas vitaminas, mineiras, produtos e tratamentos podem curar centenas de doenças, além de ser irresponsável, pode induzir à desistência de procedimentos sérios. Divulgar tratamentos experimentais com pesquisas de baixa qualidade, como se fossem milagres, alimentando a necessidade de familiares desesperados por curas de condições neurobiológicas para a vida, como o autismo, pode mexer com o emocional das pessoas que desejam uma cura e aterrorizar autistas que só querem ser aceitos como são (muitos levaram anos para isso). Afinal, a condição do espectro autista não é considerada uma doença.
Enfim, o que dizer de livros que foram publicados e jamais seriam se tivessem passado por alguém com conhecimento científico? Recentemente, a Amazon e outras livrarias decidiram remover o livro Curando os Sintomas Conhecidos Como Autismo, escrito pelos charlatões Kerri Rivera (rainha da pseudociência) e Jim Humble (líder de seita). Porém, algumas livrarias online ainda continuam vendendo.
Sem falar outros livros sobre autismo com tratamentos totalmente duvidosos e obras que alimentam o imaginário das pessoas do movimento antivacina – sem deixar de lado, os documentários de pseudociência, alguns deles publicados na Netflix.
O problema de livros sobre autismo é que QUALQUER PESSOA pode publicar um livro. Então, se publicarem informações erradas, falsas e sem comprovação científica, o leitor que não tiver conhecimento do assunto irá acreditar. O mesmo acontece com pesquisas de baixa qualidade publicadas na internet e/ou em publicações científicas não-confiáveis, documentários e qualquer tipo de conteúdo da área de saúde.
A melhor forma de se proteger é buscando conhecimento de qualidade. E como se proteger diante de tanta informação falsa? Buscando profissionais sérios e éticos, consumindo pesquisas de qualidade, lendo bons livros e aprendendo, acima de tudo, de que a vida não é um arco-íris e que uma das áreas favoritas de pessoas manipuladoras é a da saúde.
Embora nem todo psicopata seja um serial killer e nem todos matem pessoas (Anjos da Morte, profissionais da saúde que matam seus pacientes); alguns só gostam do jogo de poder e humilhação. Existem pessoas que não sentem remorso ao espalhar informações falsas da área de saúde, mesmo que vidas humanas sejam colocadas em risco e pessoas morram no processo.
Nem todo propagador de boatos é psicopata, obviamente, eles fazem parte de uma porcentagem menor da população, mas muitas pessoas são narcisistas patológicas, manipuladoras e puxam as cordas, iludindo pessoas ingênuas e com menos conhecimentos sobre como funciona o organismo humano. Pessoas manipuladoras são extremamente perigosas à sociedade, mas ficam impunes graças às falhas de legislação e de investigações. No Brasil, então, nem se fala.
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Vamos compartilhar o vídeo da Anvisa alertando sobre o MMS?
O MMS é um falso tratamento de autismo que é proibido no Brasil e em vários países, mas as pessoas ignoram os alertas e usam em seus filhos, levando a consequências graves e até mesmo casos de morte.
Em breve vou publicar um texto sobre os desafios de combater fake news de saúde do mundo do autismo no Brasil. Fique de olho!
A Autoridade de Normas Publicitárias (ASA - Advertising Standards Authority) publicou um alerta para que 150 homeopatas que operam no Reino Unido parem de alegar que podem curar o autismo: https://www.bbc.com/news/health-47666939
Os falsos profetas do autismo: ciência ruim, medicina arriscada e a busca por uma cura: https://amzn.to/2DqGXJZ
“Você achou que meu autismo estava me machucando e que precisava removê-lo, mas não entendeu que é uma diferença neurológica. O medo fez com que você se comportasse com desespero” – Emma Zurcher para a mãe dela: https://emmashopebook.com/2014/01/22/stem-cell-treatments/
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