Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...
O universo do autismo está repleto de mentiras, estereótipos, mitos e preconceitos. Nessas horas, além de sempre recomendar questionar as informações (nenhum autista é igual ao outro, ainda que no mesmo ‘grau’ – o espectro não é linear, por exemplo, dois Aspergers podem ser completamente diferentes; os sistemas classificatórios estão ultrapassados, pois não levam em conta que as habilidades e deficiências podem ser completamente diferentes e deixam milhares de diagnósticos passarem batidos; milhares de autistas que não sabem que são autistas), também recomendo a leitura. Temple Grandin tem uma mente genial e seu pensamento visual é fascinante.
Para contextualizar um pouco, as diferenças entre autistas também influenciam nas diferenças de associações. Durante muitos anos, a cor azul e o quebra-cabeça foram adotados para falar de autismo; as novas associações (formadas por autistas e simpatizantes) adotaram o vermelho e o espectro colorido.
“Pessoas autistas não vivem em 'outro mundo' Este é o problema. Elas vivem NESTE mundo Um mundo que as silencia Um mundo que fala sobre elas Um mundo pouco disposto a acomodar suas necessidades. Um mundo que não os aceita como são”– Autistic (Twitter)
Muitos mitos já foram derrubados há anos, mas continuam sendo espalhados... vacina não causa autismo! Ninguém se torna autista por falta de cuidado dos pais; autismo não é doença (logo, não existe cura) – o que não quer dizer que o autista não possa desenvolver habilidades; temos voz e podemos usá-la (quantas vezes você leu um texto escrito por um autista?).
Mesmo autistas não-verbais, em alguns países, encontram formas de comunicação alternativas para terem seus direitos respeitados; Tratamentos sem comprovação científica podem ser perigosos, afinal, cada autista é diferente e acontecem muitos casos de envenenamento e/ou desenvolvimento de doenças por causa disso.
Coisas que as pessoas não sabem sobre o preconceito: antigamente, autistas eram internados contra a vontade e afastados dos pais; pelo componente genético, alguns autistas escutam que é melhor não ter filho (Eugenia) e, diariamente, coisas que fazem mal para autistas (que podem variar completamente) são vistas como frescura ou birra por não-autistas, como barulho e luz.
Enfim, estudar autismo se tornou um hiperfoco temporário, poderia falar e falar e ainda não seria suficiente para descrever os absurdos que leio diariamente.
*No momento, estou lendo O Cérebro Autista, escrito por Temple Grandin e Richard Panek. No Brasil, o livro foi publicado pela Editora Record, com tradução de Cristina Cavalcanti. Dependendo da minha experiência de leitura, em breve devo indicar o livro no blog. Para quem quiser comprar o livro: https://amzn.to/2xZGUUU
*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.
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