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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Síndrome de Asperger: Guia do especialista mundial em autismo, Tony Attwood

Mesmo não sendo algo novo, a compreensão do autismo ainda é falha para muitas pessoas, desde profissionais da saúde que deveriam entender, como médicos, psiquiatras e psicólogos, até familiares de autistas e pessoas com a condição neurológica diversa. Muitas vezes, a falta de material de leitura atrapalha bastante e acaba contribuindo para a divulgação de mentiras, mitos e preconceitos sobre o autismo. Em seu livro  The Complete Guide to Asperger's Syndrome (O Completo Guia sobre Síndrome de Asperger), autor e especialista mundial em Síndrome de Asperger, Tony Attwood compartilha informações relevantes tanto para quem é aspie quanto para familiares, professores e profissionais que desejam entender melhor sobre o assunto.


The Complete Guide to Asperger's Syndrome (Tony Attwood) está disponível em eBook ou capa comum na Amazon: https://amzn.to/2KNKzGO



Desde o início do livro, Tony Attwood escreve uma cena ficcional que narra a presença de uma criança com Síndrome de Asperger em uma festa de aniversário. Assim como a Julie Dachez descreve a condição como A Diferença Invisível, embora algumas pessoas não percebam as diferenças, olhando de perto é possível reconhecer, mesmo na infância, os comportamentos de uma criança autista.

“A falta de compreensão social, capacidade limitada de ter uma conversa recíproca e um interesse intenso em um determinado assunto são as principais características dessa síndrome. Talvez a maneira mais simples de entender a síndrome de Asperger seja pensar nela como alguém que percebe e pensa sobre o mundo de maneira diferente de outras pessoas” – Tony Attwood

Uma dúvida bem comum em Aspergers autodiagnosticados ou pessoas que passaram a vida inteira sem diagnósticos é a de como ela aprendeu a se camuflar. No livro, Tony Attwood explica que a criança com Síndrome de Asperger pode ser bem solitária e criar amigos imaginários, mundos próprios ou desenvolver interesses peculiares. Ele também ressalta que ao envelhecer, os adolescentes podem aprender a repetir comportamentos de filmes, séries e programas de TV ou copiar algum modelo influente da sala de aula. Desta forma e também observando outras pessoas, o Asperger pode aprender a desenvolver sua própria persona social.

Attwood explica que o diagnóstico formal pode ser importante para a criança para que ela tenha compreensão dos colegas e dos professores e saiba como evitar crises; já para o adulto, pode ajudar no trabalho na adaptação e ajuste, por exemplo, se a pessoa tem hipersensibilidade à luz e ao barulho. Segundo o autor, o reconhecimento e a aceitação do autismo ajudam na parte da identidade autística, da pessoa entender que 'não está ficando maluca', que existem outros como ela e também pode causar frustração pelo diagnóstico tardio e tantos sinais terem passado batidos na infância. Embora como lembra o pesquisador, simplesmente saber sobre sua condição, não significa que os problemas vão se resolver magicamente e o aspie precisa procurar ajuda se sentir necessidade.

“Quando adultos com síndrome de Asperger imitaram e atuaram para alcançar competência social superficial, eles podem ter dificuldade considerável em convencer as pessoas que eles têm um problema real com compreensão social e empatia; eles tornaram-se muito plausíveis em seus papeis para acreditarem neles” – Tony Attwood

As pessoas com Síndrome de Asperger, segundo Tony Attwood, devem ser respeitadas em uma cultura diversa. Respeitar a si mesmo, se aceitar e não tentar sempre agradar aos outros são atitudes recomendas pelo especialista. Ele também lembra que o diagnóstico não precisa ser um sinal de que a pessoa não vá ter suas conquistas ou que isso pode atrapalhar seu sucesso, mesmo que ela precise de apoio e ajustes – vale lembrar que cada autista é único.

A Síndrome de Asperger é bem similar ao Autismo de Alto Funcionamento (existe uma linha bem fina entre os dois), porém alguns comportamentos sutis podem levar profissionais a deixarem passar diagnósticos de aspies. Então, ter englobado tudo no Transtorno do Espectro Autista, embora possa facilitar, também tem seu aspecto negativo: crianças Aspergers sem diagnóstico se tornam adolescentes e adultos que podem se sentir deslocados sem a compreensão de suas diferenças e  dificuldades nas interações sociais, bem como podem ter mal-estar diante de situações de hipersensibilidade, além de possíveis problemas com manejo de raiva, ansiedade e depressão. A decisão de englobar Aspergers junto com autismo de alto funcionamento foi por conta do acesso aos benefícios necessários que antes não eram oferecidos para aspies e eram oferecidos somente para os diagnósticos de autismo.

Segundo Tony Attwood, aproximadamente 50% das crianças com Síndrome de Asperger têm sido diagnosticadas (isso em uma visão bem otimista e leva em conta o contexto internacional, onde os profissionais são habilitados para identificar aspies, bem diferente do Brasil), as outras podem ter aprendido a se camuflarem e o foco muda para outro tipo de diagnóstico. Embora com comportamentos parecidos, as meninas também têm mais facilidade de disfarçarem a Síndrome de Asperger. Para o autor, enquanto garotos podem parecer pequenos professores, meninas podem parecer pequenas filósofas. Ainda sobre as mulheres, ele lembra que muitas delas só procuram ajuda depois que reconhecem o mesmos traços e comportamentos que os filhos diagnosticados têm.

Um ponto bem interessante da camuflagem (assunto que me interessa muito, pois só descobri que sou Asperger aos 28 anos) é que pessoas com problemas de autoaceitação podem responder as perguntas como se fossem neurotípicos (não-autistas), ocultando algumas de suas limitações sociais. Meninas, mulheres, homens e LGBTs que aprenderam a se adaptar aos contextos sociais, podem ficar em dúvida na hora de responder os questionários sobre o espectro autista.

Tony Attwood ressalta que a solidão pode facilitar o aprendizado da criança com Síndrome de Asperger, muitos podem se tornar autodidatas. Outra vantagem é que o quarto pode ser mais seguro das experiências sensoriais que podem causar hipersensibilidade do que ambientes mais lotados, além de ajudar a lidar com a ansiedade, depressão, raiva e a recuperar a auto-estima.

Aspergers podem ter dificuldade de inclusão em diferentes fases da vida. Na infância, a criança com Asperger pode preferir se isolar por escolha ou ser visto como um intruso; na adolescência, mesmo quando incluído, pode se sentir deslocado. O autor fala sobre a importância da amizade e como elas podem proteger o autista de bullying e de não reconhecer pessoas mal-intencionadas. Reconhecer essas limitações pode ser uma chave para que escolas tenham esses conhecimentos e possam adaptar suas atividades.

“Em crianças típicas, a aquisição de habilidades de amizade é baseada em uma habilidade inata que se desenvolve ao longo da infância em associação com mudanças progressivas na habilidade cognitiva, e modificada e amadurecida através de experiências sociais. Infelizmente, as crianças com Síndrome de Asperger não são capazes de depender em habilidades intuitivas em ambientes sociais como seus colegas e devem confiar mais em suas habilidades e experiências cognitivas. Crianças e adultos com Síndrome de Asperger têm dificuldade em situações sociais que não foram ensaiadas ou preparadas” – Tony Attwood

O autor lembra que crianças com Síndrome de Asperger podem ser muito honestas e falar o que está em suas mentes, já que elas ficam tão preocupadas com a verdade que podem se esquecer dos sentimentos das outras pessoas. Uma das coisas que elas precisam aprender é a não contar a verdade o tempo inteiro, especialmente porque isso pode causar problemas nos relacionamentos sociais – embora esse contexto seja aplicado à infância, vale lembrar que essa mesma dificuldade está presente na adolescência e na fase adulta.

“Os adultos com síndrome de Asperger são mais propensos a ler do que falar sobre seu interesse, que pode tornar-se um passatempo ou mesmo uma fonte de emprego. O adulto é considerado especialista em um assunto especializado que pode ser reconhecido em um hobby ou grupo de interesse, ou ele ou ela pode ser empregado para fornecer informações ou conselhos sobre este área especializada. Pessoas com síndrome de Asperger são especialistas por natureza” – Tony Attwood

Seria interessante que este livro do Tony Attwood fosse traduzido por alguma editora e publicado no Brasil, especialmente levando em conta a dificuldade de muitos profissionais da saúde que não sabem entender e identificar a Síndrome de Asperger. Diariamente, aspies lidam com a incompreensão de seus comportamentos e seus sentimentos e hipersensibilidades são desconsiderados, pois neurotípicos podem não ser tão afetados pela sensibilidade à luz, toque, barulho, odor, textura, tampouco entendem a importância dos movimentos repetitivos para relaxamento. A condição neurológica também é conhecida como Síndrome do Planeta Errado, porque é como se o autista precisasse aprender a se adequar ao mundo, às regras sociais que não são naturalmente aprendidas como é para os não-autistas.

A dificuldade de ser aceito pela pessoa que tem Asperger pode levar ao isolamento, especialmente quando essa falta de compreensão também está presente em profissionais da saúde inexperientes para lidar com as particularidades do autista.

Uma curiosidade pouco discutida, especialmente no Brasil, é o fator genético do autismo. A convivência entre duas pessoas com Síndrome de Asperger em uma mesma família pode ser bem complicada: ele dá como exemplo dois ímãs (podem se atrair ou se repelir completamente). Muitas vezes, quando se descobre que o filho tem, é bem provável que se descubra outro parente – embora, vale lembrar, que essa relação nem sempre é direta.

Outro ponto importante de discutir é a terapia. A psicanálise para Aspergers não é recomendada, porém em alguns países ela ainda é a linha mais utilizada, como na França – o motivo disso é porque o psicanalista pode culpar a pessoa com Asperger pelas dificuldades nos relacionamentos familiares quando o seu cérebro é ligado de forma diferente, não é algo que ela poderia ser responsabilizada e também pela falsa crença de que o autismo da criança estava relacionado à dificuldade de afeto dos pais.

A recomendação do Tony Attwood é que o profissional tenha conhecimento da diferença de funcionamento da natureza de Aspergers (infelizmente, algo ainda bem raro no Brasil) – o que leva a um problema de falta de apoio, terapias sem resultados, entre outras situações desagradáveis. Vale lembrar que a terapia é para ajudar o autista, especialmente com a autoaceitação, não para tentar transformá-lo em um não-autista (algo impossível) e também ressaltar que o autista nasce assim, não é decorrência de nenhum trauma emocional. Ele recomenda que o profissional entenda sobre o universo da pessoa com Síndrome de Asperger e tenha conhecimento de biografias e autobiografias, para não confundir comportamentos normais do autista com traumas, por exemplo.

Ao final do livro, Tony Attwood deixa várias indicações de leitura para diferentes tópicos e fases relacionadas ao universo da Síndrome de Asperger, desde como contar a criança ou para outras pessoas, livros de ficção e autobiografias de pessoas autistas para crianças, adolescentes e adultos e livros para entender a natureza social, relacionamentos e controle emocional. Fica a minha indicação de leitura para quem quiser mergulhar no universo do aspie, este autista, muitas vezes, invisibilizado no Transtorno do Espectro Autista e desrespeitado por pessoas que não entendem seus comportamentos e deveriam apoiá-lo.

Veja também:


Asperger: Autismo, histórias que contamos e a importância cultural 

Autismo: A importância de escutar e interpretar o autista 

The Good Doctor: Personagem autista médico e o preconceito 

Autismo no cinema: Filme Tudo Que Quero faz estreia tímida no Brasil 

Autismo: Aspergers camaleões e o silêncio sobre adultos 

Asperger na adolescência e amizade são temas do livro Em Algum Lugar nas Estrelas 

Asperger: Autismo não tem rosto 

Aspie: entre o silêncio e o excesso de palavras  

Vídeo: Trechos do livro Em Algum Lugar nas Estrelas (Clare Vanderpool) 

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Para quem está à procura de um livro de ficção com personagem Asperger adolescente, recomendo o livro Em Algum Lugar nas Estrelas:

Comentários

  1. esse livro foi traduzido por português? Queria que minha esposa o lesse mas ela nao fala inglês

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