Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...
Editoras de livros com temáticas gay e lésbica encerram atividades
O mês de fevereiro começou há alguns dias e já não é dos melhores de 2015 para o público LGBT. Duas editoras voltadas para publicação de livros com temáticas gay e lésbica fecharam as portas, a Editora Escândalo e Editora Brejeira Malagueta, respectivamente, por motivos financeiros.
A Editora Brejeira Malagueta publicou uma nota em seu site. Segundo as editoras Hanna Korich e Laura Bacellar, o projeto funcionou desde agosto de 2008 até 2015, com a proposta de dar voz às lésbicas, já que não se encontram muitas editoras interessadas em publicar obras com a temática específica.
Ao longo dos anos de funcionamento, a Editora Brejeira Malagueta publicou dez títulos de autoras brasileiras, sendo dois de não ficção e oito histórias de amor, focando na felicidade das personagens homossexuais.
Ainda que elas tenham participado e organizado uma série de eventos gratuitos para divulgar a literatura com temática lésbica, não foi suficiente para garantir o financiamento da editora. Confira um trecho da nota da Editora Brejeira Malagueta:
“Só que querer que uma editora de literatura lésbica dê retorno suficiente para se manter talvez seja uma ideia romântica demais para este momento. Não conseguimos sustentar a editora, ainda que tivéssemos fãs e amigas que muito nos ajudaram. Assim, vamos dar uma pausa em nossas atividades, na esperança de que as mudanças que estão em curso no Brasil continuem e que venhamos a ter uma cultura diversa e inclusiva, que acolha e sustente artistas e escritores lgbt”.
Segundo a criadora da Editora Escândalo, Giselle Jacques, o principal problema é a falta de verba. Ainda que a editora voltada para o público gay encerre as atividades, deve nascer a Senda Literária. A editora me contou a novidade hoje através do Facebook!
“Falir significa que todos os livros deixarão de existir... E eu não vou deixar isso acontecer”, afirma Giselle Jacques.
Desde o início de 2014, publiquei um texto no blog sobre as dificuldades da Literatura LGBT no Brasil, por causa do preconceito. A Escândalo foi criada em 2011, publicou livros de contos, romances e não ficção com temática gay, e como conheci a editora e tive três contos publicados em duas coletâneas deles (Loveless e Homossilábicas Vol. 3).
Nesta sexta-feira, um dia após eu publicar as informações no blog, a editora-chefe da Escândalo, Giselle Jacques se pronunciou oficialmente na página do Facebook. Confira:
"É com muito pesar que venho anunciar o encerramento oficial das atividades da Editora Escândalo no formato com o qual trabalhamos até esse momento. Foi um caminho trabalhoso, mas altamente gratificante. Lançamos, desde 2011, 21 obras LGBT de grande valor, muitas das quais foram fortemente aceitas pelo público. Tivemos o privilégio de lançar autores que hoje alcançaram seu merecido lugar na literatura nacional. Pessoalmente, a Escândalo era um sonho, uma vontade de ver essa temática tomando forma no mercado literário. Era a vontade de poder fazer parte dessa corrente que tanto tem a dizer. E, nesse intuito, a Escândalo deu certo. Fomos capazes de fazer a diferença durante certo tempo. Prova disso são os mais de 15 autores inéditos que tivemos o privilégio de publicar individualmente e nas coletâneas e concursos de contos. Além disso, a Escândalo me trouxe amigos. Amizades que, eu espero, sejam para toda a vida. Cada um dos autores que publicamos tem lugar marcado no meu coração. Cada um deles me deu muito mais do que um pedaço seu em forma de manuscrito, eles todos dividiram comigo ideias, ideais e o sonho da literatura autoral. Mas sobreviver no mercado literário é tarefa árdua no Brasil. Infelizmente, chega o momento de fechar as portas. Todavia, a Editora Escândalo não vai desaparecer, cair no esquecimento. Surge a oportunidade de integração com a Editora Senda Literária para que sobrevivamos, mesmo que seja em um cantinho da memória. Aos meus amados autores, eu deixo meu agradecimento mais que sincero, meu absoluto respeito pelo talento e pela força pessoal de cada um, e meu beijo de despedida. Foi um imenso prazer cruzar canetas com vocês!"
A Escândalo publicou 21 livros voltados para o público LGBT, dos quais os seguintes foram lidos e resenhados:
Apesar das dificuldades no mercado editorial brasileiro, um dos principais fatores que faz toda diferença para que essas editoras continuem funcionando é a quantidade de leitores. Muita gente reclama que não encontram muitas histórias com as quais possam se identificar, que quase não existem personagens gays e lésbicas nas narrativas ou quando existem são retratados de maneira estereotipada, mas quando os livros são publicados, faltam pessoas interessadas em comprar.
Que os leitores possam valorizar mais as editoras. A pluralidade de publicações só acontece, quando há um público, caso contrário, a prioridade das grandes casas editorias acabam sendo os grandes autores nacionais e traduções de livros best-sellers internacionais.
Hoje o dia ficou cinzento...Valorize a literatura nacional! Valoriza a literatura LGBT!
Dia triste para a Literatura que tanto lutou por visibilidade e força da comunidade LGBT. A voz se enfraquece porque ainda penso que deveríamos nos conhecer, nos consumir. E agora estamos órfãos e não sou daqueles que fica valorizando trabalho póstumo. Gosto de valorizar o agora e a vida que os livros têm.No entanto, devemos olhar com aquele olhar nostálgico; esperando por Godot!
Oi, Roberto! Bom te ver por aqui... Concordo. É triste ver duas editoras voltadas para o público LGBT fecharem suas portas. Mais triste ainda é a questão cultural do brasileiro, o baixo índice de leitura. Enfim, se para uma editora pequena 'tradicional' não é fácil, para uma segmentada fica mais complicado ainda. Espero que os leitores possam continuar valorizando mais a literatura LGBT e os autores nacionais. Por sorte, já tenho seus livros por aqui! Ia ser triste vê-los desaparecendo. Abraços
Dia triste para a Literatura que tanto lutou por visibilidade e força da comunidade LGBT. A voz se enfraquece porque ainda penso que deveríamos nos conhecer, nos consumir. E agora estamos órfãos e não sou daqueles que fica valorizando trabalho póstumo. Gosto de valorizar o agora e a vida que os livros têm.No entanto, devemos olhar com aquele olhar nostálgico; esperando por Godot!
ResponderExcluirOi, Roberto! Bom te ver por aqui...
ExcluirConcordo. É triste ver duas editoras voltadas para o público LGBT fecharem suas portas. Mais triste ainda é a questão cultural do brasileiro, o baixo índice de leitura. Enfim, se para uma editora pequena 'tradicional' não é fácil, para uma segmentada fica mais complicado ainda.
Espero que os leitores possam continuar valorizando mais a literatura LGBT e os autores nacionais. Por sorte, já tenho seus livros por aqui! Ia ser triste vê-los desaparecendo.
Abraços